Chapter Six

52 20 37
                                    

Paloma Carter

− Quantos anos você tem? – me mostra seus cinco dedos e os indica com uma ferramenta pequena – Pode contar para mim? – dobro melhor as pernas e as cubro com mais uma camisa emprestada.

− Um, dois, três, quatro, cinco.

− Muito bem! – bato palmas e ela enruga o nariz, satisfeita e orgulhosa de si mesma – Agora me diz as letras do seu nome.

− Mh…− suas bochechas incham com a careta pensativa de faz. A coisa mais fofa que vi hoje – I-L-E-N-I?

− Você acertou todas, mas deixou faltar duas. A primeira e a última. – seus lábios se curvam para baixo – Está tudo bem. Você acertou a maior parte. – beijo sua testa – É H-I-L-E-N-I-E.

− Eu vou acertar a outra pergunta. – se conforta, o que me faz sorrir.

− Ok. – olho em volta em busca de algo – Vamos ver se você conhece as cores. Qual é a cor dos meus olhos? – arregalo-os e me inclino para que ela veja melhor.

− Eles são castanhos como os meus. – responde imediatamente, a ferramenta agora voltada para sua linha ocular.

− Você decorou isso. – acuso e aperto as pálpebras – Eu disse a mesma coisa na outra vez.

− Não. Você me disse que tenho olhos castanhos como os da minha mãe.

− E quem é a sua mãe? – seguro um riso.

− Você.

− Então, se eu sou sua mãe, eles são castanhos como os meus, que é a mesma coisa.

− Isso não vale! – protesta e eu rio.

− Tudo bem. Outra pergunta. – procuro por algo com uma cor que ela não saiba de cara – Essa camisa, qual é a cor dela? – aponto para meu peito.

Hilenie a estuda por longos segundos. Abre e fecha os olhos; suspira e suspira, até que finalmente deixa a ferramenta de lado e fala:

− Eu não sei o nome, mas é da cor dos olhos de North. Os olhos dele são assim. Qual é o nome? – sua cabeça cai para o lado com o peso da curiosidade.

− Os olhos de North são cinzentos. – faço os possíveis para manter meu tom igual quando pronuncio seu nome.

− Então essa camisa é cinzento. Acertei?

− É cinzenta. A camisa é cinzenta. Os olhos são cinzentos.

− A camisa é menina e os olhos são meninos?

− Sim. Pode-se dizer que sim. – rio de sua percepção, querendo explicar correctamente, mas sei que com o tempo ela saberá a designação correcta. Preciso respeitar isso.

Depois de várias horas de conversa e brincadeira com ela, espreito através da janela da sala e vejo que o sol desapareceu no horizonte. Apenas seus raios fracos e insistentes garantem que ele esteve por cima da linha.

É a segunda semana que passamos aqui sem saber nada sobre a vida na cidade. Gostaria que fosse diferente. Que Hilenie pudesse partilhar os conhecimentos que adquiriu comigo com outras crianças, porém, mais do que isso, quero que ela viva. Apesar de não saber e nunca ter questionado como North pretende ter certeza que estaremos em segurança quando voltarmos para casa, meus instintos dizem para confiar nele. Mais do que meus instintos, os pedaços destruídos de meu coração se unem para suportar essa confiança. Só para isso.

− North voltou, mãe! – minha filha anuncia e me desperta para o ruído abafado do motor de seu carro.

Meu estômago gela e meu peito dói um pouco mais. É sempre assim quando ele volta, desde que deixou claro que não nos vê como nada mais que uma mãe e uma filha em perigo, das quais precisa tomar conta porque sua consciência obriga.

ASHESWhere stories live. Discover now