eu teoricamente deveria aprender com meus erros.

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Acordamos sem entender o que diabos meu pai fazia em casa, numa segunda, as sete e meia da manhã, quando deveria está no trabalho. Então levantei uma hipótese.

Meu pai foi demitido.

A é, Nayeon.

Sentada, do outro lado da mesa, cara de poucos amigos, algo não parece ter dado certo pra ela ontem também.

Voltei a comer meu cereal, assim como ela, não me lembro de um momento que tive coragem de olhar pro meu pai, ele teria motivos pra explicar.

Em toda a minha vida, eu nunca sentir tanta dor na cabeça como no (miserável) dia seguinte, era como se eu tivesse chorado trinta dias seguidos e só agora tivesse parado, tirando o fato de que cada parte das paredes do meu inutilizável cérebro de forma alguma esquecia as imagens do dia anterior, e não sei se isso é pior ou, menos pior, já que me impedia de lembrar de Sana, e nos últimos dois dias que eu não vi ela, não dormi, e se algo (que provavelmente não é eu) quiser, eu nunca mais preciso pensar nisso e no que ela me falou, porque ela estava errada, todos dizem que as pessoas não sabem o que fazem quando estão bêbadas. Além disso, orquídea parece até maior, isso que dizer que meu vomito serviu de adubo.

O que eu mais queria era um daqueles porres que a pessoa não lembra nem do nome no dia seguinte.

Bom, voltando, se eu realmente fosse...eu saberia com certeza, Sana sabe, porque eu não saberia? só preciso esclarecer tudo. Escutei meu pai me chamar depois de me pegar olhando pro nada, depois disso me esforcei pra não parecer uma nuvem na mesa, e dar atenção a eles.

- Nayeon, tem certeza que isso no olho é mesmo conjuntivite? - Nosso pai trouxe as tigelas, tocou a coluna, porque nossa mesa era de centro, e ele precisava de abaixar pra sentar. - Não quero pagar mais caro em uma coisa porque deixamos pra lá.

Nayeon, é uma fodida mesmo.

Ele desfez a cara de dor, eu entreguei um talher, se não ele teria que se esticar pra fazer isso.

Pressionei os lábios, Nayeon parou com a colher na boca, vi ela se ajeitando no lugar, forçou uma tosse totalmente fingida, mas ele não percebeu, estava ajustando o rádio pra deixar em cima da mesa, um chiado meio esquisito, escutamos uma mulher falando, mas sempre a interferência cobria sua voz, e ele sorriu satisfeito quando conseguiu, já que era um rádio qualquer e sem qualidade nenhuma que ele comprou em algum lugar e trouxe pra casa.

Mas funcionou então vamos pensar positivo.

- Claro pai, é conjuntivite, lógico que é conjuntivite. - Nayeon encheu a boca de cereal e me olhou nervosa, não queria ter que falar de boca cheia, assim não precisava. Deu um pingo de vontade de perguntar, mas não é como ela não soubesse que eu bebi. Ontem a noite Nayeon me viu. - Não é como se tivesse caído alguma coisa estranha no meu olho.

Eu poderia até rir, se eu não quisesse chorar. Era obviamente mentira.

- Meninas, aconteceu algo, adivinhem. - Sorriu apontado pra nós duas, nenhuma pareceu mais animada que uma pedra.

Apenas encaramos ele, e ele desistiu de esperar tentássemos adivinhar, não tentamos afinal.

- Eu fui promovido!

Eu fiquei calada, enquanto Nayeon abraçou ele, inclinada sobre a mesa, fazendo o rádio cair e a voz da mulher sumir e o chiado voltar. Por isso ele estava em casa, pra comemorar, com comida barata.

Era só uma promoção, mas parecia que ele ganhou na loteria, porque era como ganhar na loteria pra ele.

As pessoas são engraçadas. Me pergunto se tem algo haver com infelicidade.

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