Minha escrita ainda carrega seu nome; um remetente eterno para as cinzas

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O dia sempre começa cheio e turbulento com o alarme tocando às 6h da manhã obrigando-me a levantar e o sol sem aviso prévio invade o quarto pela janela e junto dele sinto teu suave cheiro pelas narinas, e uma dor no peito invade, você não está aqui.

Já tinha ido faz uns meses e de tempos em tempos as nossas lembranças vem em minha direção e delas não posso fugir, mas não as prendo em mim isso me sufocaria porque sei que você já está em outros caminhos, distantes daqui e daquilo que foi um dia.

Então, simplesmente te escrevo cartas estas sempre com o mesmo remetente, cada escrita é uma despedida, é um adeus a tua presença de fantasma, é um ressignificado a tudo que ainda tenho teimado em guardar dentro desse coração.

Não tenho palavras disponíveis para colocar no papel as vezes me pergunto se te deixei ir e não percebi. Isso explicaria a zona de conforto que criei ao fazer do passado uma rede à beira mar.

É de tarde e o sol se faz mais vivo que antes, aproveito e coloco aquela antiga playlist que criamos no aleatório e sorrindo escrevo-te:
há coisas lindas nas partidas
eu vi você voar sem pressa
indo para o alto do mundo
com a curiosidade de uma criança
suas asas atravessava todas as vidas
e na plateia do teu ato, aplaudi o encanto.

Arquivei a carta e saí de casa.

Com o olhar atento a cada gente que passava fui andando sem direção pelo mundo dentro de mim só havia a coragem de um antigo poeta sendo dividida pela dualidade de ter ou não o medo presente a cada caminhar, já que tudo está tão fora daquilo que controlamos e tão descontrolada a cada rota trilhada, nos ensinaram que tudo tem que ser no agora nos venderam uma vida feita de ascensão e se não conseguir antes daquele determinado tempo, o que resta?

Resta uma vida feita de simplicidade sem o luxo das telas, sem a pressão das horas e sem as prisões que nos cerca. Resta tudo aquilo que a paz promete e tudo que podemos ter do mundo. Pois você é apenas você, seja inteiro sem a dependência do externo, olhe para o horizonte e sinta a vida, não a deixe passar. Caso precise, escreva um remetente vá tentar alcançar voo e não seja igual os outros, não seja como os outros, não faça o que eles fazem... o número um nada mais é do que um ponto de vista!

Sumi aos poucos tendo na bagagem tudo aquilo que vivi, não o que eu idealizava, mas o que eu pude e queria viver.
PS: sem remetente

...

Laís Mendes

Primeiras Crônicas: Do interior ao externoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora