Capítulo 1

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QUARTA-FEIRA, 16 De março, 2022.

O jardim da igreja que se localiza no centro da cidade, é um lugar lindo e talvez o mais lindo que meus olhos já tenha visto, todo detalhe do chão formando uma flor de lótus e as árvores enormes que favorece um clima perfeito, ainda mais nessa época do ano. Faz com que apesar dos anos se passarem essa pequena cidade ainda chama atenção de todos os visitantes que por aqui passa, até dos antigos moradores que preservam por um lugar tão encantador. Por que não vim aqui antes, penso.

Outono sua traiçoeira, faz com que tudo seja como se apaixonar pela primeira vez, pena que para alguém como eu a paixão passa longe. E espero que continue a passar, não pense ser um medo bobo... Minhas referências não são nada agradável, e se eu sei algo muito bem, é o lado ruim de se apaixonar por alguém. Mas isso não importa, o que importa é que estou aqui, vivendo meus sonhos, deixando para trás todas as distrações.

Boa muita gente diz que essa igreja realiza seus maiores sonhos, é só confessar e ser rezada pelo padre, não custa tentar não é mesmo. Funcionou para cantora Alice Darcy, O escritor Tom Callan, a Atriz principal da novela das nove e outros que não me recordo agora.

Passo pelas portas da igreja observando cada detalhe, imagens, janelas enormes e o vazio no olhar dessas estátuas. O tom marrom da estrutura desse lugar é hipnotizante, me perco na dimensão que é aqui. Quem será que limpa tudo isso, me pergunto.

Ouço uma voz e a sigo, entro em uma pequena porta e vejo um corredor a minha direita, caminho por ele olhando todos os quadros com fotos dos ex padres, datas de nascimento e de falecimento, um lindo legado apesar de o fim ser igual, a morte. Será que algum deles viu essa igreja crescer, me pergunto. Paro de frente ao último quadro e observo, o primeiro padre, a esse não viu nem a metade do que esse lugar se tornou, que deprimente.

Percebo que a voz que esculto vem de uma porta que está a minha frente, coloco a mão na maçaneta giro e sem chamar atenção abro lentamente a porta. Cruzo os braços e me apoio na parede, corro meus olhos por toda sala e percebo que só a homens, todo em perfeita postura, ternos impecáveis e visão presa ao homem que está em um pequeno altar a minha frente. Seus sapatos brilham tanto que parece ter sido comprados hoje. Todos tão robotizados que me dá calafrios.

Ao prestar atenção no que o homem diz, percebo que conheço esse texto bíblico. Nunca fui muito religiosa, mas quando pequena frequentava uma igreja na minha cidade, e por sempre gostar de ler e aprender sobre tudo, li por completo a bíblia, confesso que nada fez sentido para mim, porém, tem texto que gruda na mente, como esse.

"Continue o injusto a praticar injustiça; continue o imundo na imundícia; continue o justo a praticar justiça; e continue o santo a santificar-se".

"Eis que venho em breve! A minha recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um segundo o que fez.

Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.

"Felizes os que lavam as suas vestes, e assim têm direito à árvore-da-vida e podem entrar na cidade pelas portas.

Fora ficam os que praticam feitiçaria, os que cometem imoralidades sexuais, os assassinos, os idólatras e todos os que amam e praticam a mentira.

— Acredito que deu para você perceber, não entraremos na cidade.

Exclamo sem pensar. Cerca de 30 homens me olham e por um momento sinto que não sei o meu próprio nome, a frieza nesses olhares e um pré julgamento. É eu não deveria ter entrado aqui, que se dane a fama que esse lugar trouxe para muitos, se é que foi esse lugar. Viro-me lentamente para sair da sala sem tira os olhos deles, e, percebo que o homem que falava o texto bíblico em um pequeno altar sorri. Um sorriso estranho, mas ainda é um sorriso. Acredito que ele entendeu meu ponto de visto, mas mesmo assim, que se dane.

— Por quê fala com tanta certeza?

Pergunta um dos homens que me encara.

— É obrigatório responder?

Pergunto. Uma resposta com outra pergunta, que péssimo Leona. Questiono em pensamentos.

— Não, não é!

Afirma o homem que sorriu outrora para mim.

Ele vem em minha direção e sorri novamente, dessa vez um sorriso doce e gentil. Cerca de um e oitenta e cinco de altura, aparenta já estar na casa dos seus trinta anos, cabelos castanhos e sem corte definido, seus lábios são finos e rosado, sua pele clara, porém, queimada do sol, seus olhos azuis e cílios como o de seus cabelos. Um padrão de roupa tão cafona, mas um sorriso tão encantador que faz com que tudo nele seja.

— David.

Estende a mão me dizendo seu nome.

— Leona, mas pode me chamar Leo.

Respondo ao apertar sua mão.

— Leo, é uma honra que tenha se interessado por nossa reunião, mas terei que acompanhá-la até a saída. É uma reunião para os homens, um ensinamento mais aplicado para o cargo que cada um irá seguir.

— Tudo bem, eu só estava dando uma olhada aqui, sou nova e como todos os meus amigos da minha cidade natal me implorou para vim aqui, aqui estou. Promessa é dívida, não?

Dou um sorriso ao falar.

— Quando chegou?

Perguntou David.

— Tem um ano, e alguns meses eu acho.

Com uma expressão irônica sorrir, e caminha comigo pelo corredor.

— Você deve ser uma mulher muito ocupada, para vir aqui um ano após ter realmente chegado.

— É que demora para se ajustar.

Falo rindo. — Bem, pode me dizer onde fica o confessionário?

Pergunto.

— O que alguém tão doce como você teria para confessar? Retrucou.

— Até os anjos têm seu lado sombrio.

Sorrindo ironicamente respondo, sua cara de espanto me faz repensar minha resposta. — Foi, foi uma brincadeira, tudo bem? Eu só vou fazer como todo mundo que vem aqui, torce para ganhar algo divino.

Movo as mãos tocando em seu braço a todo tempo, na tentativa de uma explicação. David está muito sério e isso me constrange. Bufo, e me viro sem falar nada, coloco as mãos no rosto e ouço David dá, uma risada.

— Desculpa decepciona-lá Leo, mas isso é uma grande heresia que aqueles sem noções que necessitam de algo definido para adorar criaram. É só pessoas talentosas que põe religião em tudo, talvez para se sentirem parte de um plano maior ou falta de autoestima.

David, revira os olhos e sorrir. — E se fosse contrário, se Deus quisesse que você fosse uma freira e seu sonho é casar? Pensa comigo, não faz nem sentido. Mas vai fazer se a sua vontade for feita, nunca foi por Deus e si pelo próprio desejo daquele povo, hereges. Seus sonhos são maiores que a vontade de Deus para sua vida? Suponho que não, né? Mas aí seu sonho é realizado, por mérito seu, por seu próprio talento e inteligente, e você sai dizendo que foi a vontade de Deus para sua vida? Deus está ocupado com aqueles que a procura por quem ele é! Não pelo oque pode fazer.

Sua resposta me constrange, pego o celular no bolso do meu jeans de trás., finjo que vejo uma mensagem importante e digo para David que preciso ir embora. Na entrada da igreja, David me deseja graça e paz, aperta minha mão olhando no fundo, de meus olhos, definitivamente não voltarei a esse lugar. Danasse a "heresia" dou um sorriso de canto.

— Espero ver esse sorriso mais vezes, Leo. —

Esse, cara é doido, só pode. Ele praticamente zomba de mim e agora diz que espera me ver. Perdi uma grande parte do meu dia, que droga.

Propósito de SangueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora