Alma sorri. Não verdadeiramente.

- Eu não acho que você seja louco — ela dispara.

As palavras me pegam de surpresa.

- Então, acredita em mim? — pergunto, descrente e esperançoso.

- Não totalmente — ela diz, com seriedade.

Ela percebe a confusão em meu olhar.

- Eu não acho que Katniss Everdeen seja uma aberração — ela explica, e faz uma pausa, perante meu estremecimento ao ouvir o nome de Katniss. — Mas, devo concordar, que ela não é o doce de menina que todos acham. Ela não é.... alguém com virtudes. Pode sim, ser um perigo para todos nós.

- Eu não entendo... — começo, perplexo.

- Apenas acho que ela não se importa com ninguém realmente. Nem com você, ou com a própria família. Apenas com ela — Alma completa.

Tento digerir as palavras desta mulher. Meus olhos estão fixos no repartido simétrico do seu cabelo. Ouvir alguém que teoricamente é aliada de Katniss, compartilhar da mesma ideia que eu, é estranho.

Pigarreio.

- Me chamou aqui para isso? — desconverso.

Ela pisca, aturdida pela minha reação, mas logo se recompõe.

- Não. Gostaria de saber, se está em condições de contribuir para o bolo de casamento de Finnick Odair e Annie Cresta.

- Está me vendo. O que acha?

- Acho que pode exercer suas funções perfeitamente.

Minutos depois, estou numa parte da grande cozinha do distrito. Estou isolado, no que penso ser a dispensa. Improvisaram uma área de trabalho para mim. A porta está trancada. E há dois guardas me observando. Nenhum que eu reconheça.

- Poderiam ao menos tirar as algemas? — pergunto num tom suplicante.

Os guardas se olham. Um deles dá de ombros, e sai do local. Em seguida, Boggs adentra, com um molho de chaves. Me lança mais uma vez um olhar solidário que me faz beirar as lágrimas, e solta minhas algemas.

A sensação é indescritível. Roço os dedos pelos pulsos marcados, coço um pouco, mas a dor me faz parar. Estico os braços, ouvindo os estalos. Um dos guardas segura uma arma com o dedo no gatilho. Preparado para um ataque, penso. Mas quase dou risada. A última coisa que quero, é ataca-lo como um animal, sem motivo aparente. Quero apenas, continuar com essa sensação de liberdade, mesmo neste cômodo pequeno e abafado.

A felicidade inicial diminui, e então eu me posiciono em frente a bancada, me sentindo completamente perdido.

A minha frente, há pós, corantes, açúcares... Percebo que minhas mãos tremem. Acho que não serei capaz de mexer com essas coisas. Fito minhas mãos cheias de cicatrizes. Cerro os punhos. Estou prestes a desistir quando escuto berros, e alguém socando a porta. Alarmado Boggs que só agora percebo ainda estar aqui, destranca a porta, revelando Johanna.

- Que desgraçados, tentando me impedir — ela berra. — Vocês não têm amigos? Não sabem que tem que estar ao lado deles em momentos difíceis?

Os guardas olham para ela perplexos. Ao menos tem alguém que as pessoas pensam ser mais louca que eu.

- E posso tentar beliscar alguma coisa doce, também — ela sussurra, me fazendo surpreendentemente rir.

- Eu acho que não consigo Johanna — digo, e para minha surpresa, apesar do sorriso ainda em meu rosto, minha voz falha.

A Esperança - Peeta MellarkOnde as histórias ganham vida. Descobre agora