Extra I: Primeiro amor

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Escrito por: RedWidowB

Notas iniciais: Um extra para vocês :) boa leitura!

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No início, ele não tinha nome.

Sua existência era apenas parte do encanto, parte da casa encantada pelo tempo, então não precisava sequer de alcunha. Ele era somente um móvel com corpo humano.

Não entendia sua origem, ou seu motivo para viver. Não teve infância ou tempo para desenvolver qualquer que fosse o que os humanos chamavam de personalidade, antes de conhecer os primeiros semelhantes a ele.

No início, era apenas uma isca.

Seu corpo, sua voz, cabelos, etnia, sexualidade e todo o resto que definia a imagem humana que tinha, eram apenas reflexo de quem o veria e como gostaria de ver.

Ele atraía aqueles que queriam fugir do mundo real para dentro da mansão, onde tocava músicas incessantemente e a tristeza não parecia existir.

E enquanto se divertiam, alimentava o seu lar com as energias daqueles que caíam naquela armadilha bela.

Demoraram algumas dezenas de anos — que, para ele, pareceram apenas alguns dias — para que suas percepções mudassem e ele começasse a questionar o porquê de estar ali. De onde havia vindo? Por que tinha surgido? Quem era responsável por sua eterna inconstância física e falta de querer ou poder?

Nunca encontrou as respostas. A mansão não as possuía, e as pessoas ali sabiam muito menos que ele. Elas nem sequer percebiam que, aos poucos, o tempo passava e suas vidas eram entregues à eterna comodidade que encontravam em cada cômodo da casa.

Entretanto, uma mudança na casa também o modificou. Na década de sessenta, ouviu pela primeira vez músicas que não eram Jazz, Blues e Country. Os jovens chegavam à casa esperando ouvir Beatles, Rolling Stones e Chuck Berry, e era isso o que ele e o lugar ofereciam: as tão desejadas noites de "Rock n' Roll".

De repente, ele queria se vestir de uma só forma e apreciar um só tipo de música. No espelho, onde seu rosto antes somente tomava forma quando um grupo ou indivíduo se aproximava, conseguiu enxergar a face que gostaria de ter.

E os anos passaram sem que sentisse falta de mais respostas. Ele gostava das roupas e estilo de vida que aquelas músicas pregavam e gostava de poder mantê-las, então fazia o seu "trabalho" como deveria.

Foi a primeira vez que entendeu realmente por que tantos jovens foram presos ali com ele. Como eles eram atraídos pela promessa de uma vida inteira de festa. Liberdade tinha um gosto doce.

E por um tempo, era ele quem os convencia a entrar, com conversas que, para eles, duravam horas e horas. Antes dos humanos perderem suas essências por se entregarem ao local, a criatura aprendia um pouquinho mais sobre como era viver no mundo real, e como aqueles jovens desejavam deixar tudo aquilo para trás.

O nome Min Yoongi surgiu quando, em uma das milhares de conversas, uma moça coreana perguntou o seu nome. Ninguém se interessava demais por aquele detalhe até ali.

Logo, enquanto a casa era cada vez mais habitada e Yoongi aprendia mais sobre os seus gostos e vontades, o final dos anos noventa chegaram e, com eles, suas chances de manter mais jovens ali acabavam.

Festas desconhecidas não eram vistas em meio às diversas opções que encontravam pela cidade, e as coisas pela mansão começavam a também mudar.

Antes, eram incapazes de enxergar o que se passava no dia a dia dentro da mansão, a não ser pela noite. O tempo, que passava diferente para eles do corrente e presente, apenas se manifestava visualmente quando o sol se escondia. Porém, alguns moradores começaram a ser assombrados pela constante existência de pessoas ali, que vagavam pelos cômodos alheias à realidade.

As linhas temporais aparentavam se alinhar, pois Yoongi conseguia ver, finalmente, o que era o sol nascer, além dos detalhes da vida mortal. Pessoas envelheciam, outras morriam, e ele se distraía com isso, ignorando a estranheza dessa percepção para a sua realidade.

Então, aconteceu. No dia 28 de agosto de 2010, Park Jimin limpava a mansão, e ele acompanhou cada passo, sorriso e som que saía do rapaz.

Sentiu-se encantado pelo outro como se fosse Jimin a isca, não ele.

Não era como se nunca tivesse sentido atração por alguém, mas com o rapaz algo pareceu se encaixar em sua mente e corpo.

Talvez fosse arriscado pensar que estava predestinado a encontrar alguém que fizesse o que acreditava ser o seu coração acelerar, principalmente quando o tempo passava de forma tão diferente para ele. Afinal, uma manhã parecia dias para Yoongi, enquanto Jimin estava apenas vivendo o seu cotidiano sem saber de sua existência.

Resolveu esperar para ver.

O fone esquecido foi o impulso que o destino usou a seu favor.

Yoongi conseguia ouvir os pensamentos de Jimin de forma minimizada ao querer. O que o rapaz queria ver? O que preferia?

Foi assim que os seus cabelos se tornaram vermelhos e, ao fazer a pergunta que selava o destino de quem ali entrava, todas as suas ações seguiram o script que cada pessoa esperava viver para permanecer na mansão.

Jimin não queria uma aproximação direta, ao mesmo tempo que não queria distância. Não desejava bebidas, danças e outras coisas mais comuns... Mas passou a desejar Yoongi, e isso bastou para que ele perdesse um pouco do controle.

A mansão passou a se modificar pelos desejos dos dois mesclados. O Min queria que os caminhos fossem mais curtos, que o som deixasse de incomodar o moreno, e que o tempo fosse mais devagar para ele também, para aproveitar a companhia que, aos poucos, percebia que não poderia manter para sempre.

Apesar de tudo, o Park não precisava daquele lugar.

E embora as carícias e toques fossem ficar marcados em ambas as mentes, Yoongi não pretendia ter o pior sentimento humano em si e prendê-lo ali. Não seria egoísta.

Não sabia quais seriam as consequências de enviá-lo de volta para o início, apenas desconfiava que, caso o fizesse, nada mais poderia fazer. Restaria a Jimin ter a coragem de dizer não a ele.

Portanto, o esperado ocorreu. O corpo de Jimin se soltou do seu abraço frouxo de cansaço e retornou ao passado, ao início da noite, enquanto a consciência criada em décadas se extinguiu do seu corpo, voltando ao estado vazio de sua mente.

Quando o dia 28 de agosto se repetiu para Park Jimin, Min Yoongi já não estava mais ali para se alegrar por vê-lo dar as costas para a mansão.

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Notas finais: Nem todo extra tem final feliz, não é?

Venus flytrap | YoonminWhere stories live. Discover now