FOREVER WINTER - [CONTO]

6

"I'd say I love you

Even at your darkest"

— Olha só, o Feioso veio pra casa! — Me virei para encarar Lucy que estava encostada na porta da cozinha —

— Não podia nunca perder o casamento da nossa Wandinha!

Uma das coisas mais lindas que eu via na família do Ben era o companheirismo dos irmãos. Lucy, Ben e Paige eram extremamente diferentes um do outro, mas quando um precisava, os outros estavam lá quase instantaneamente.

Por conta do sobrenome, os três carinhosamente se apelidaram de Feioso, Wandinha e Mãozinha. E mesmo com todas as diferenças gritantes entre eles, não tinha nada que unisse mais os três que os filmes da Família Addams.

— Agora me solta, que eu quero abraçar minha cunhada! — ela veio na minha direção e assim como a mãe, me abraçou forte — Que bom ver você, Kee!

— Muito bom te ver também, Lucy!

— Fiquei com medo que vocês não conseguissem vir, sei como é estressante quando está perto da formatura, mas ainda bem que vieram.

— Não podia perder o seu dia.

— Vou deixar as senhoritas conversando e levar nossas coisas pro quarto.

Ben saiu e quando não escutamos mais os passos dele, Lucy virou séria pra mim.

— O que rolou entre vocês dois?

— Como assim?

— Não finja que não tem nada acontecendo. tem alguma coisa errada, vocês dois sempre chegam aqui no maior carinho, não desgrudam um do outro e hoje eu achei que o espaço da bancada ainda estava pouco pra vocês.

Suspirei, cansada. Eu não podia mentir, não pra Lucy que observava tudo, ela não ia me deixar em paz.

— Terminamos há duas semanas.

— Como é? — ela quase gritou e eu tive que colocar minha mão para cobrir sua boca — O que deu em vocês dois?

Expliquei as nossas brigas constantes nos últimos meses em relação ao nosso futuro, do dia que cheguei em casa e ele resolveu terminar o namoro e passou a ficar na casa do Joey. Lucy escutava atentamente, absorvendo todas as informações.

— E foi isso. Estamos fingindo que ainda estamos juntos para não estragar o seu casamento, mas a senhorita tinha que ficar de olho em tudo.

— Eu tô tentando entender o que deu na cabeça do meu irmão.

— Ele só desistiu de nós dois.

— Não, eu não aceito. Keelin, o meu irmão é louco por você, eu não tô falando isso só pra te iludir, desde que ele me contou que estava namorando eu conseguia ver o brilho nos olhos dele, a forma como ele sempre falou de você, não aceito que ele tenha terminado tudo assim.

— Eu não culpo ele. A gente quer coisas diferentes e parece que pela primeira vez em cinco anos não conseguimos conversar sobre isso.

— Bom, vocês tem dois dias fingindo para o resto da família que está tudo certo, quem sabe disso não vem a reconciliação?

— Acho que não. Sabe, quando ele me disse que a gente precisava conhecer quem éramos um sem o outro eu fiquei com muita raiva, mas ele tinha razão nisso. Nessas duas semanas eu estava na merda, mas eu me obriguei a levantar e fazer minha coisas, eu passei a viver sozinha, a me conhecer e tem sido bom.

— Então você não quer reatar?

— Eu amo o Ben, mas eu não vou ficar tentando voltar se ele não quiser.

— Apoio muito vocês dois, e eu ainda tenho esperanças de que vocês vão voltar. — ela se aproximou e me abraçou, deixando um beijo na testa — Eu ainda vou estar linda como a madrinha do casamento de vocês.

Ela saiu me deixando sozinha com os meus pensamentos que me perseguiam todos os dias. Não reparei quando Ben entrou na cozinha outra vez.

— Desculpa, não tinha te visto. Eu vou dormir um pouco. — passei por ele, e estávamos tão perto que ele segurou a minha mão — Lucy sabe que não estamos juntos.

— Contou pra ela?

— Conhece a sua irmã, ela observa tudo. Assim que você subiu ela me colocou contra a parede.

— Tudo bem, ela não vai contar nada. — balancei a cabeça e tentei soltar a minha mão — Eu tentei pegar um colchão pra colocar no meu quarto pra você ficar com a cama, mas a casa tá cheia e não tem nenhum.

— Ah, eu posso procurar um hotel, não tem problema.

— Keelin, estamos fingindo pra minha família, se você for pra um hotel acho que vão sacar na hora. Podemos dividir a cama como sempre fizemos.

— Tá bom. — o que eu menos queria agora era ter que dividir uma cama e lembranças com ele — Vou subir.

ANTES

— Fiz uma coisa!

Me joguei no sofá do apartamento da Kim e encarei a minha amiga.

— O que?

— Mandei currículo para algumas empresas de arquitetura no Canadá.

— Opa, me conta direito. Você desistiu de Nova Iorque?

— Não, mas estou totalmente aberta à possibilidades, posso pensar em ceder em algumas coisas.

— Ele sabe?

— Ainda não contei. Quero ver o que vai ser, não quero criar esperanças e acabar não passando. Mas tô pensando se é uma boa ideia, a gente tem brigado muito ultimamente.

Tinha discutido com o Ben no dia anterior sobre uma besteira e quando acordei ele já tinha saído pra aula, dizendo que à noite devíamos conversar. Eu sentia cada vez mais meu relacionamento afundando, e ele não estava dando a chance de salvar.

— Vocês são o casal mais cabeça que eu conheço. Estão sempre tentando resolver as coisas, vai tudo se acertar.

— Eu espero.

Kim estava certa. Ben e eu estávamos sempre dispostos a conversar, terminar nunca passava pela nossa cabeça se a solução estava ao nosso alcance. Eu não podia deixar meu relacionamento acabar sem lutar antes. Por que amor eu sabia que não faltava.