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"He says: Why fall in love
Just so you can watch it go away?"


– Eu só queria que você me olhasse enquanto diz isso!

Sinto minhas mãos tremerem com medo do que ele pode fazer. Não era novidade que as coisas andavam meio turbulentas no nosso namoro, mas eu não esperava que ele estivesse pensando em largar tudo.

– Acabou! – ele olhou nos olhos, repetindo o que tinha dito momentos antes –

– Ben, pensa melhor, eu sei que as coisas estão complicadas, que estamos conquistando as coisas e podemos resolver isso.

– As coisas não são como antes, Keelin. Eu não vejo mais futuro pra nós dois.

Fechei meus olhos com força e respirei fundo. Bennett e eu estávamos juntos desde os 18, agora aos 23, ele queria terminar tudo. Ao longo desses cinco anos juntos fizemos planos, casamento, um apartamento, mudar de cidade e ele estava desistindo.

– Isso já devia ter acabado há um tempo. Você quer Nova Iorque, eu quero Toronto. Você quer casar aos 25, eu nem sei mais se eu quero filhos. Eu estou tão perdido Kee.

– Podemos sentar e conversar sobre isso, estamos juntos há 5 anos, e sempre resolvemos tudo juntos.

– Acho que esse é o problema, começamos a depender demais um do outro, e não sabemos quem nós somos sem estarmos juntos. – ele suspirou e pegou as malas – Keelin, eu amo você, de verdade, queria que fóssemos como no início, mas essa relação só está levando a gente pra baixo.

Ele passou por mim e me deu um beijo na testa e depois me encarou.

– Posso estar sendo um grande cuzão passando por essa porta e indo embora, mas acredite em mim quando eu digo que não estou fazendo só por mim.

– Tem razão... – sequei as lágrimas que escorriam pelo meu rosto – Você tá sendo um cuzão.

Ele não disse mais nada, apenas atravessou a porta do nosso pequeno apartamento alugado e me deixou sozinha. As lágrimas já não estavam sendo controladas e eu fechei a porta e sentei no chão, deixando toda a tristeza e raiva saírem.

Olhei para a foto de nós dois que estava na mesinha de centro. Tinha sido tirada no nosso primeiro aniversário. Nasci em Phoenix e Ben em Montana, tínhamos 18 anos quando saímos de nossos estados para fazer faculdade em Duke. Entrar em detalhes sobre como nos conhecemos só deixaria tudo mais arrastado e talvez um pouco confuso.

Então para resumir, estava na Carolina do Norte há seis meses quando assumi um relacionamento com ele, e desde então não estive mais sozinha. Éramos nós dois contra o mundo, apoiando sempre um ao outro. Mas nos últimos meses, começamos a brigar sobre o que faríamos com as nossas vidas agora tão perto da graduação.

Ben é desenvolvedor de software e acredita que o seu futuro profissional seja no Canadá. Mas me formei em arquitetura e sempre tive o sonho de tentar começar minha carreira em Nova Iorque, claro que esse era um tópico totalmente negociável pra mim, mas parecia que meu ex não queria soluções.


ANTES

– Vou para Phoenix no Natal. – peguei meu cobertor e sentei no sofá – Vai para Montana?

– Ainda não sei. Está para surgir umas oportunidades e eles escolhem geralmente datas perto dos feriados, para ver como o candidato faz suas decisões, sabe, se vai à entrevista ou abre mão de um emprego foda pra passar uns dias com a família.

Olhei para Ben que digitava sem parar e nem levantar os olhos do computador. Nas últimas semanas ele esteve em uma busca contínua de empregos em Toronto. Desde a formatura ele vem se dedicando em meio período a desenvolver parte de um trabalho que ele nunca me explicou bem o que era e tentar conseguir uma vaga em alguma grande empresa no Canadá.

Sempre admirei sua ambição por uma vida mais confortável. Os pais dele sempre deram duro para que ele e as duas irmãs mais velhas fossem para a faculdade e tivessem uma vida estável sem muitos perrengues. O Sr. Adams era mecânico, tinha sua própria oficina e desde o nascimento da primeira filha começou a guardar dinheiro em uma poupança para a graduação dos filhos. A Sra. Adams era vice-diretora de um colégio e assim como o marido sempre se dedicou a dar o melhor para os filhos.

Quando os conheci, deixaram bem claro que queriam que o filho fosse uma pessoa financeiramente estável, mas que também não esquecesse que a vida era bem mais que dinheiro e trabalho. Mas acho que nos últimos tempos, ele tem esquecido disso.

– Você colocou currículos por aqui também?

– Já falamos sobre isso, Keelin. Meu foco principal não é aqui.

Durante todos os anos que estivemos juntos fiz questão de dizer que estava aberta a ceder em alguns pontos se ele também estivesse.

Desliguei a tv e fui para o quarto. Olhando para o teto por um bom tempo, percebi que queria a fase do relacionamento em que tudo podia ser resolvido com beijos e sexo, mas que agora parecia impossível isso ser o suficiente.

E acho que foi bem aqui que eu me dei conta de que tudo estava começando a se partir.


FOREVER WINTER - [CONTO]Where stories live. Discover now