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"Forever winter if you go"

Passar horas em um avião ao lado do Ben teria sido uma das coisas que eu mais gostava de fazer, mas agora que não estávamos mais juntos, era só sufocante. Combinamos de chegar juntos na casa dos pais dele para ninguém perceber, mas assim que o avião decolou comecei a ficar inquieta.

Ele estava com fones de ouvido assistindo um filme, enquanto eu tentava ler mas não conseguia ficar quieta. Minhas pernas mexiam sem parar, e ficava ainda mais tensa. Além do nervosismo de estar perto dele, também tinha o fato do meu medo de viajar de avião. Todas as outras vezes que viajamos juntos ele segurava a minha mão e passava o tempo todo cuidando de mim, mas agora eu estava sozinha.

Fechei o livro e coloquei de volta na bolsa e fiquei apenas encarando a poltrona na minha frente. Peguei um calmante porque não sabia mais o que fazer para relaxar. Quando fiz menção de levantar a mão para chamar a aeromoça e pedir uma garrafa de água, Ben segurou a minha mão, entrelaçando nossos dedos.

Quando olhei, ele tinha tirado os fones e pausado o filme e me encarava.

— Sei como você fica enjoada quando toma calmante, então pode segurar minha mão durante o voo.

— Não quero incomodar.

— Não vai. — ele deu um sorrisinho e colocou nossas mãos entrelaçadas no colo — "You got that long hair, slicked back, white t-shirt"

Sorri ao perceber o que ele estava fazendo. Quando viajamos de avião juntos pela primeira vez, eu quase vomitei o lanche que tinha feito antes de embarcar. Ben segurou a minha mão e perguntou o que podia fazer por mim. "Canta alguma coisa."

Ele começou a cantar "Style" que eu tinha decidido que era a nossa música tema. Não sabia muito bem porque tinha escolhido ela, mas parando agora para pensar, o refrão era quase que uma piada para a nossa situação atual.

Mas estava tão nervosa, que apenas peguei o embalo e segui cantando junto com ele.

And I got that good girl faith and a tight little skirt...

And when we go crashing down, we come back every time...

'Cause we never go out of style, we never go out of style. — minha perna ainda balançava, mas o meu coração já não estava tão acelerado e o enjoo já tinha passado — Obrigada, de verdade!

— É claro! Agora relaxa, não vou deixar nada acontecer com você!

— Você não pode garantir que não vai ter problemas técnicos no avião ou coisa do tipo.

Com a mão livre ele tocou a minha bochecha e sorriu. O toque tão doce me trouxe tantas lembranças de nós dois juntos que eu vinha tentando afastar nessas duas semanas.

— Vamos acalmar essa ansiedade tá bom? Vai dar tudo certo, quando você menos esperar já vamos estar pousando.

Balancei a cabeça e me mexi um pouco na cadeira.

— Pode usar meu ombro de travesseiro. — deitei minha cabeça no ombro dele e fechei os olhos. — Se você dormir, te acordo quando chegar.

— Tudo bem.

Não sei se demorei para dormir, mas quando acordei já estávamos no aeroporto e ainda de mãos dadas com o Ben que também dormia. Sorri vendo seu rosto tão relaxado. Ele sempre dormia como uma pedra e eu gostava quando acordava antes e ficava observando o ruído baixo da sua respiração.

— Com licença! — a aeromoça estava nos encarando — Vocês têm que desembarcar agora!

— Tudo bem, nós já vamos, obrigada! — ela assentiu e saiu para verificar as outras cadeiras — Ben!

Ele abriu os olhos e sorriu.

— Oi!

— Já chegamos!

— Aí, eu devia ter te acordado, não é?

— Besteira. O que importa é que eu consegui dormir e relaxar durante a viagem.

Saímos do aeroporto meio sem jeito um com o outro, mas colocamos nossos melhores sorrisos quando vimos a Sra. Adams nos esperando.

— Keelin, Ben! — ela veio e me abraçou com força — Que bom que conseguiram vir, principalmente você, Keelin. Faz tempo que não vejo você.

— A faculdade me ocupou bastante!

— Imagino, e é claro que você tem que visitar a sua família também. Mas vamos, vou levar vocês pra casa.

Eu me sentia mal por passar o fim de semana mentindo para a família do Ben, mas tínhamos feito um acordo de pelo menos nesses dois dias eu teria que fingir.

ANTES

— Ela não gostou de mim! — estava quase caindo no choro enquanto Ben me abraçava forte —

— Não é verdade, meu bem!

— Mas ela só olhou pra mim e saiu, eu não disse nada demais.

Era a primeira vez que eu ia para Montana com Ben conhecer os pais e as irmãs dele. Estava tão nervosa que minha perna não parava de tremer. Quando chegamos, a mãe dele foi a primeira que nos recepcionou, mas quando me apresentei ela apenas balançou a cabeça e saiu.

— Será que ela esperava uma pessoa mais bonita?

— Keelin, você é linda.

Ele fazia carinho nas minhas costas enquanto eu enterrava meu rosto no seu peito. Não sei ao certo quanto tempo passou, mas ela voltou com um embrulho e me entregou.

— Desculpa sair assim, mas eu fiquei meio nervosa. — ela sorriu, e vi a semelhança dela com o filho — Ben nunca trouxe uma namorada pra conhecer a gente, e quando ele disse que você estava vindo com ele, comprei um presente.

— Ah.

— Só que não sei se você vai gostar.

Abri o presente e vi uma pulseira simples. Era uma graça, tinha umas pedras coloridas e um nazar nela.

— Meu pai tinha descendência turca, e desde que eu era criança ele fazia questão de que cada pessoa da família andasse com pelo menos um nazar. Ele queria que cada um de nós tivesse algum tipo de proteção consigo. Como você agora é parte da família queria que tivesse uma também.

— Cadê a sua Ben?

Meu namorado puxou o cordão que sempre usava no pescoço e só tirava na hora de dormir, mostrando um pingente de nazar no centro.

— Bem-vinda à família, Keelin.

Eu não esperava ser tão bem recebida por todos. A partir daquele dia, criei laços tão fortes com eles que não achei que algum dia poderiam ser desfeitos.

Mas agora, tinha muito medo de quando todos soubessem que o namoro que todos acharam que viraria casamento, não existia mais.

Mesmo depois que todos soubessem do término, esperava que ainda gostassem de mim, tanto quanto eu gostava deles.

Toquei no pingente do meu colar que era onde estava o nazar da minha pulseira e segurei. Acabei sem querer quebrando a pulseira e fiquei arrasada, mas consegui pegar o pingente e colocar no meu colar e ainda andava para todos os lados com ele. Acho que seria a última ligação que eu teria com essa família.

FOREVER WINTER - [CONTO]Where stories live. Discover now