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"I call just checking up on him...

Long gone, not even listening"

— Já pegou tudo?

— Keelin...

— Já pegou tudo ou não, Bennett?

— Já. E também deixei a chave na portaria.

— Ótimo.

Estávamos em um restaurante italiano. Ele tinha me ligado há uns 30 minutos dizendo que queria conversar e mesmo ainda estando com raiva da nossa última conversa, aceitei.

— O que você queria conversar?

— O casamento da Lucy é em duas semanas. Meus pais me ligaram perguntando se nós vamos.

Lucy era a irmã mais velha do Ben. Ela e o noivo estavam só esperando o casamento para se mudarem para Amsterdã no mês seguinte, e os dois estavam muito animados com isso.

Ir para o casamento da Lucy significava ver toda a família do Ben, que ainda não sabia que tínhamos rompido, não sabia se estava em condições para isso.

— Se não quiser ir...

Por um momento até pensei em recusar, mas então lembrei que Lucy era minha amiga. Ela me recebeu muito bem quando fui pela primeira vez à Montana e me tratou como uma irmã, não podia deixar de ir.

— Eu vou. Quando chegar em casa compro minhas passagens. Acha melhor irmos juntos para ninguém perguntar sobre nós?

— Você não se importa? Sabe, não vou esconder pra sempre, mas é um casamento.

— E falar no casamento da sua irmã que você terminou um relacionamento de cinco anos ia deixar o clima meio azedo. Tudo bem, podemos fazer um teatro por um fim de semana.

— Obrigado!

Dispensei o agradecimento com um aceno de mão e coloquei o celular na bolsa.

— Se era só isso, eu já vou indo.

— Kee, eu sei que tá brava com o que eu te contei, mas tenta entender meu lado.

— Eu sempre tento entender seu lado, Ben. Talvez eu entenda daqui uns dias, mas por enquanto me deixa ficar com raiva, acho que mereço isso. — quando já estava na porta do restaurante, dei meia volta — Você nunca me pediu pra ir pro Canadá com você. Por quê?

— Não achei justo. Se eu não queria ceder em relação à minha carreira profissional, não queria que você tivesse que fazer isso por mim. — ele estava de novo mexendo nos dedos — Me importo com a sua felicidade, e sabia que insistir pra você ir comigo te faria ir, mas você não seria feliz, não se isso não fosse uma escolha sua. Mas acho que você faria, mesmo contra vontade só pra não me deixar triste.

— Tem razão. Eu iria, mas seria por escolha minha, porque eu amo você, e também existem trabalhos para arquitetos no Canadá, eu não ficaria infeliz, só seria uma mudança de percurso que eu estaria disposta a aceitar.

Finalmente saí do restaurante e fui pra casa. Quando cheguei, a primeira coisa que eu vi foi que a nossa foto não estava mais lá. Na verdade, todas as fotos que ficavam espalhadas pelo apartamento não estavam mais nas paredes.

Sentei no chão e abri meu computador. Nas redes sociais ele ainda não tinha colocado o status de solteiro. Quando percebi o que eu estava fazendo, fechei o aparelho e fui pra cozinha. Eu não podia me tornar a ex que ficava o tempo todo conferindo o perfil do cara nas redes sociais, não merecia isso pra mim.

ANTES

— É incrível a quantidade de fotos que você tira de mim quando eu não presto atenção. — estava com o celular na mão, passando pelo feed do Ben cheio de fotos minhas — E faz questão de postar todas no instagram.

— Quero que todo mundo veja a garota linda que eu namoro. — tínhamos acordado há pouco tempo, mas ainda estávamos na cama. Era dia dos namorados e resolvemos ficar de preguiça — Você fica linda em todas.

— Isso é impossível.

— No dia do nosso casamento vou querer todas essas fotos passando um telão, e enquanto isso eu faço um discurso de como você é a mulher da minha vida e como eu tenho sorte de me casar com você.

— Quer dizer que o senhor "não gosto de comédias românticas" vai fazer uma cena clichê no nosso casamento?

— Faço qualquer coisa para ver os seus olhos brilharem. — ele me deu um beijo na ponta do nariz e me encarou com tanta intensidade que senti minhas bochechas ficarem vermelhas — Quando nos conhecemos sabe o que foi a primeira coisa que eu pensei?

— O quê?

— Eu pensei: "sério que essa garota vai colocar tudo isso de pimenta em um sanduíche? Ela vai ficar pior que um dragão fumaçando por aí."

— Eu realmente achei que seria uma coisa muito romântica.

— A segunda coisa que eu pensei, depois de te ver aguentar aquela pimenta toda sem fazer cara feia foi: "eu vou me casar com essa garota".

Parei de rir e encarei o meu namorado. Estávamos juntos há quase 3 anos e todos os dias quando eu acordava, via o cara que tinha conquistado o meu coração. Diferente dele, não me encantei à primeira vista, precisei de um tempo pra conseguir entender o que eu estava começando a sentir e também para admitir que realmente estava apaixonada.

Nesse momento simples, abraçada com ele na nossa cama, eu imaginava o futuro perfeito com um cara que falou comigo pela primeira vez porque eu estava em uma lanchonete enchendo meu sanduíche com pimenta. Só não estava pronta para o que viria depois.

FOREVER WINTER - [CONTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora