Capítulo 2

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A caminhada deve ter durado quase 3h, e isso me deu a certeza que nem mesmo se eu tentar escapar vou conseguir achar o caminho de volta, a mata é extremamente fechada, e não ter caminho demarcado no chão mostra que raramente eles saem da aldeia. Meus pés doem de uma forma irritante, não bastasse a caminhada, ainda tem o peso das vacinas e da minha mochila, quase sorri ao ver a aldeia mais a frente, como a maioria ela é disposta em um círculo e as ocas que nesse caso variam entre os formatos retangulares e ovais, estão espalhadas pelo círculo, deixei meus olhos correr pelo povo, acredito ter uns 60, e todos pelados, alguns homens estão mais a frente, com peitos inflados, demonstrando coragem, provavelmente os guerreiro da aldeia, os outras se amontoam em um só lugar, quase subindo um em cima do outro pra olhar pra mim, como se eu fosse um extraterrestre. O cacique parou e então todos se afastaram de mim, ele falou alguma coisa incompreensível pra mim, e então 10 deles vieram na minha direção, as coisas foram arrancadas das minha mãos e por instinto acabei me encolhendo, o que fez um deles se assustar e correr pra longe de mim, não sei quem está com mais medo, eu ou eles, me mantive quieta até a inspeção acabar, agradeci que eles não conseguiram abrir a maleta, afinal poderiam quebrar alguma coisa.

— Mambira. - Anzu disse e apontou pra mim.

Franzi o cenho e vi uma uma mulher sair do meio das outras, ela me olha em uma mistura de curiosidade e talvez… medo? Seus olhos são em um castanho intenso, se tivesse que descrevê-los em uma palavra seria; devoradores, é como se com eles ela pudesse ver através do meu corpo, minha alma, ela parou bem na minha frente, ergueu o dedo indicador e com receio começou a aproximá-lo do meu rosto, ela faz isso de uma forma tão lenta, como se tivesse medo de encostar em mim, para adiantar o processo eu movimentei a cabeça pra frente e cortei a distância entre seu dedo e minha bochecha, esse meu ato fez ela pular de susto e gritar, no susto eu gritei junto.

— Camila Aram! - Anzu repreendeu o que fez a garota parar de gritar no mesmo instante. 

O resto do que ele falou eu não compreendi, mas fez a garota a minha frente retomar sua postura e de uma forma mais confiante ela trouxe suas mãos para minhas roupas, notei que a intenção era me despir, então deixei, talvez estejam incomodados com minhas roupas, tentei não me sentir envergonhada, afinal a nudez é algo comum pra eles, mas não consegui, quando estava completamente sem roupas, em um impulso eu coloquei as mãos na frente das minhas partes intimas. A tal Camila Aram franziu o cenho para o meu gesto, então segurou meus pulsos e me fez desfazer o gesto, ela olhou meu corpo atentamente enquanto andava ao meu redor, senti a ponta dos seus dedos em minhas costas, então soube que ela toca em minha tatuagem, tenho um sol e uma lua desenhados em minhas costas, isso deve ter despertado sua curiosidade. 

Camila logo se afastou de mim e foi até Anzu, eles trocaram algumas palavras e logo ele dispensou ela, que se afastou e ficou me olhando de longe com os outros. 

— Posso vestir minhas roupas novamente? - Perguntei quando Anzu parou na minha frente. 

— Sim. - Respondeu ainda sério. — Você será levada para a oca reservada pra você. 

Franzi o cenho enquanto vestia as roupas.

— E quando vamos conversar?

— Quando eu disser que vamos conversar. 

Observei ele se afastar seguido pelos outros guerreiros, olhei os indígenas em volta, uma coisa é certa, acho que essa é a tribo com mais pessoas bonitas que já visitei. Terminei de vestir minhas roupas e juntei minhas coisas, assim que pus a mochila nas costas a garota que me inspecionou se aproximou, ela indicou com a cabeça que eu deveria segui-la, e assim o fiz isso, ela me guiou até uma das moradias, e como é de praxe, o chão é de terra batida, e não tem divisórias dentro, 2 redes estão armadas e algumas esteiras cobrem parte do chão. Coloquei minhas coisas sobre a esteira e virei pra garota, ela me olha curiosa ainda parada na entrada.

Nativa - ShortFicWhere stories live. Discover now