Capítulo 1

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Lauren Point Of View

Acordar cedo, tá aí uma coisa que eu odeio, no momento são 10h da manhã, e desde às 9h meu celular desperta e eu viro de um lado para o outro na cama, porque na minha rotina, acordar antes das 11h só se for uma emergência, joguei as cobertas para o lado e me sentei, não é uma emergência, mas é algo importante, veja bem, não sou uma desocupada que passa o dia dormindo e coçando o saco, até porque nem tenho saco, mas voltando ao assunto, eu sou uma pessoa bem sucedida, pelo menos de acordo com os critérios estabelecidos pela sociedade, em alguns dias estarei completando 30 anos, tenho casa, carro, diploma, emprego bem remunerado e uma baita conta recheada, entretanto, nada disso eu consegui acordando tarde, e é exatamente por isso que agora que cheguei onde eu sempre quis, eu me deixo acordar após as 11h, justo, não? Para ter renome como pesquisadora no campo da biologia ambiental, eu tive que abrir mão de muitas coisas, entre elas minhas horas de sono. Acho que já deu pra entender que acordar tarde nos dias atuais não me faz preguiçosa, não sei porque me expliquei tanto, mas o ponto que quero chegar é: o motivo de ter acordado cedo hoje, e é algo simples, não tanto porque eu posso acabar morta, mas é simples sim.

Sou voluntária em uma ONG que tem por objetivo proteger os povos indígenas, acredito ser de entendimento comum que essa gente passa por muitas invasões e infrações, e a lista de motivações é bem extensa: a maior motivação para infração é de fato a invasão, seguida pela exploração ilegal de madeira, desmatamento, garimpo para exploração mineral, fazendeiros para agropecuárias, ou até mesmo empreendimentos de infraestrutura como rodovias, energia elétrica, empreendimentos turísticos, para rotas de tráficos de drogas, e por ai vai, inicialmente meu trabalho na ONG era exclusivamente na parte biológica da coisa, mas me solidatizei tanto com as lutas desses povos que hoje sou um dos grandes nomes da organização. Eu resido em Los Angeles, na Califórnia, mas passo a maior parte do meu tempo viajando, como hoje, que estou com viagem marcada para a América do Sul, pra ser mais precisa em alguma região ali perto das fronteiras entre o Brasil, Peru e a Bolívia, local onde tem a maior concentração de indígenas isolados.

O caso é o seguinte, há alguns meses nós recebemos a informação que fazendeiros locais estão tentando contra uma das tribos isolada da área, o governo faz vistas cegas, o que não é surpresa pra ninguém, mas por algum milagre dessa vez houve intervenção e os fazendeiros foram detidos, acontece que antes disso eles atentaram contra a tribo usando de uma arma biológica, se aproveitando da baixa imunidade desses nativos, obviamente a maioria se encontra doente, e aí que entra a ONG, depois de meses tentando uma aproximação, nós finalmente conseguimos falar com o cacique, para surpresa geral ele é fluente em Português, e olhe que boa coisa, eu também sou, por esse motivo eu estou indo até lá, ele disse que nos receberia amanhã pela manhã, eu não sei como uma tribo isolada fala uma língua que não seja própria, mas amanhã estarei descobrindo isso.

— Oliver, meu querido, estou atrasada. - Falei assim que meu amigo e parceiro da ONG me atendeu.

— Percebo Jauregui, pois já estou no aeroporto. 

— Não deixe o avião sair sem mim. - Tirei a toalha do meu corpo e corri para o closet. 

Ouvi a risada espalhafatosa do outro lado da linha.

— Quer que eu fique deitado na pista de decolagem?

— Quero. - Peguei uma calça preta e vesti. — Me diz o que você sabe sobre a tribo.

— O mesmo que você, nada.

Vesti uma blusa de botões na cor branca, puxei a mala que já estava pronta desde o dia anterior e sai do closet, com os saltos nas mãos eu desci as escadas da minha casa, minha funcionária me esperava ali, provavelmente por ouvir minha pressa falando no telefone antes de encerrar a ligação com Oliver.

Nativa - ShortFicWhere stories live. Discover now