— Já chamei o táxi, está aí fora.

— Você é um anjo. - Apoiei uma mão no sofá pra calçar o salto. — Volto em 2 dias, pode ser que eu fique sem sinal no telefone, qualquer emergência pode ligar para o meu irmão que ele resolve, tudo bem?

— Sim, senhora. - Me analisou. — Pegou seus equipamentos?

Bati a mão na testa.

— Céus, esqueci. 

Ela riu e subiu as escadas em direção ao meu quarto, esqueci de mencionar que sou aficionada à fotografia, então pra todo lugar que vou, especialmente as tribos, eu levo meus equipamentos. Fui até a cozinha, peguei uma barra de chocolate e retornei pra sala.

— Obrigada. - Peguei a bolsa de equipamentos. — Se cuide e por favor cuide da minha casa.

Ela assentiu e me empurrou pra fora, praticamente me jogando dentro do táxi. O fato das ruas de Los Angeles não estarem tão cheias facilitou minha chegada ao aeroporto, e foi por pouquíssimo que não perdi de fato o voo.

— Nunca corri tanto na vida. - Falei deixando meu corpo relaxar na poltrona.

— Eu estava estudando possibilidades de driblar os seguranças para deitar na pista de voo, nossa equipe já está toda lá na região da tribo, só esperando por você. 

Tirei o óculos escuro do meu rosto.

— Vocês passaram meses cercando o lugar pra conseguir uma reunião com o cacique e ainda assim não tem informações relevantes pra mim, como pode?

— Qual parte do isolados você não entende, minha amiga?

— Se eles falam o português não são tão isolados assim.

— Apenas o cacique fala o português.

— E os demais? 

— Não sei, Ashaninka, Baniwa, Kubeo,  Kulina, Tupi, as possibilidades são infinitas. - Pendeu a cabeça pra trás, encostando na poltrona. — Mas não se preocupe, eles estão em paz, a conversa será amigável. 

Neguei com a cabeça e abri o notebook pra fazer algumas pesquisas durante o voo. Com a coordenada do lugar, ficou mais fácil para fazer pesquisas sobre os indígenas da região, e a proximidade com o homem moderno, as fontes para pesquisa são quase nulas, mas ainda assim depois de algumas informações inúteis eu achei um relato sobre uma tribo que pela descrição é a qual estamos indo, o homem diz ter entrado em contato com o povo mais foi hostilizado e que um dos seus companheiros foi morto, soltei uma risadinha nervosa, os nativos sem contato com a civilização geralmente são muito hostis mesmo, eu espero que eles realmente estejam em paz.

*****

Saímos do hotel localizado na pequena cidade local, estamos em um total de 8 pessoas, a tribo fica há aproximadamente 800 km de distância daqui, por esse motivo o dia nem nasceu ainda e já estamos entrando no carro para desbravar essas estradas esburacadas e cheias de lama.

Viva, viva!

— Quando acordo cedo não sou ninguém. - Desci o óculos para o meu rosto.

— Não fique desanimada. - Oliver tentou me tranquilizar. — Descobri com locais o motivo do cacique falar o português. - Olhei atentamente para o meu amigo. — Boatos que há anos atrás, muito anos mesmo, os colonizadores chegaram até a tribo, de início foi um contato amigável, que durou um bom tempo, mas algo os fez romper contato, houve ataques de ambos os lados e então a tribo voltou a ser isolada, no tempo que ficaram em harmonia alguns aprenderam o Português, e provavelmente foi passando pela linhagem dos caciques e hoje são os que dominam o idioma no local.

— Agora tudo faz sentido, e isso é péssimo, se em um contato anterior, mesmo que há muito tempo, a experiência não foi boa, eles devem temer algo igual novamente. 

Continuamos conversando e pensando em possibilidades de boas vindas até que Oliver caiu no sono. Puxei minha mochila e abri a mesma a fim de verificar se não esqueci nada, tenho duas peças de roupas ali, nunca se sabe se vai ser necessário, alguns doces para que eu não morra de fome, minha câmera, e alguns itens de higiene pessoal. Estou vestida com um jeans preto, coturnos devido ao chão desregular e uma camisa branca com o slogan da ONG, assim como todos os outros. Depois de horas na estrada nós descemos do carro há uma distância segura, de longe pude avistar o cacique, agradeci por ele está com uma folhagem cobrindo suas partes íntimas, isso indica que não vou precisar ficar vendo eles despidos, o que seria comum pelo fato de ficarem isolados. Coloquei a mochila nas costas e juntos seguimos até o cacique, antes de chegarmos perto ele ergueu uma das mãos.

— Só um Cari vem. - Ele disse em um português enrolado, se o idioma já é difícil pra mim por não ser minha língua nativa, imagine sendo falado de uma forma complicada.

— Eu não entendi. - Falei com o olhar dos meus amigos sobre mim, eles ainda mais perdidos do que eu, pois são fluentes apenas no inglês. 

— Só um. - Mostrou o dedo. — Cari.

O que diabos é Cari?

Virei pra Oliver. 

— Acho que só um de nós pode ir até a tribo, eu vou.

— Inviável, completamente inviável, não sabemos como eles vão reagir, não vou deixar você ir sozinha, argumente.

Virei para o homem, ele está cercado por outros nativos, o cabelo é bem preto, assim como os olhos, o corpo é forte, apenas os traços marcados em seu rosto mostra que ele não é tão jovem, deve ter uns 50 anos ou mais.

— Como se chama? - Perguntei com meu melhor sorriso.

— Anzu.

— Cacique Anzu, nós precisamos entrar todos juntos, porque o nosso trabalho é extenso, e sozinha eu não vou conseguir terminar tudo hoje para sair da sua aldeia.

— Só um Cari, e não se fala mais nisso! - O tom impaciente dele me fez assentir.

— Eu vou sozinha. - Peguei a maleta de vacinas das mãos de Oliver. — Se anoitecer e eu não retornar, vão para o hotel, instalem o repetidor de sinal aqui perto, porque não posso ficar sem rede, vou me comunicar através de mensagens, e fique atento ao celular. 

— Lauren isso não…

— Se passar dois dias e eu não der notícias, marquem uma missa para minha alma. - Brinquei mas é sério. 

— Lauren, vamos recuar, a gente dialogará mais um pouco nos próximos dias até que ele aceite toda a equipe.

— Eu já estou aqui, não vou recuar.

— Você sabe que não podemos ajudar se algo sair errado?

— Sei, mas eu vou arriscar assim mesmo.

Oliver soltou o ar dos pulmões e assentiu, ele sabe que não costumo voltar atrás nas minhas decisões. Falei mais alguns minutos com os outros membros da minha equipe e então me aproximei mais do cacique, eles estão armados com arcos, lanças e outras armas arcaicas, existe uma certa inocência em achar que isso os defenderia se estivéssemos aqui com más intenções, com a evolução das armas modernas, infelizmente as armas que eles usam para proteção não seria nada. Segui com eles para dentro da mata fechada, estou praticamente cercada enquanto caminho em direção a Deus sabe o que, e se for uma armadilha, eles me matarem e exibirem meu corpo como recado para que não tentem contato novamente? Deus, eu não quero morrer ainda, não tão jovem.

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quem gostou bate palma, quem não gostou também, porque fiz o melhor hahaha 🥰

Nativa - ShortFicWhere stories live. Discover now