– Kris, estou preocupado com você.

– Não se preocupe, okay ? – disse, passando por ele e indo em direção a minha moto.

A casa de Billy estava escura, nenhuma luz nas janelas, mas eu não me importava de ter de acordá-los. Meu punho bateu na porta da frente com energia; o som reverberou pelas paredes.

– Entre – ouvi Billy gritar depois de um minuto, e uma luz se acendeu.

Girei a maçaneta; estava destrancada. Billy estava encostado a uma porta aberta perto da pequena cozinha, um roupão sobre os ombros. Quando viu quem era, seus olhos se arregalaram brevemente e seu rosto ficou sério.

– Ora, bom dia, Kris. O que está fazendo aqui tão cedo?

– Oi, Billy. Preciso conversar com o Jake... Ele está?

– Hmmm... Na verdade não sei – mentiu ele, na maior cara-de-pau.

Eu estava sem paciência para as enrolações de Billy.

– Vou até o quarto dele – disse, enquanto andava pelo corredor.

– Kris, espere – Billy me seguia em sua cadeira de rodas.

Abri a porta do quarto de Jacob.

Jacob — ainda com o mesmo moletom preto cortado que usava ontem — estava deitado em diagonal na cama de casal que tomava quase todo o quarto, a não ser por alguns centímetros ao seu redor. Mesmo assim, não era bastante grande; os pés dele pendiam de uma ponta e a cabeça, da outra. Ele dormia profundamente, ressonando de leve com a boca aberta. O som da porta não o fez nem ao menos tremer.

Seu rosto estava tranquilo com o sono pesado. Havia olheiras que eu não tinha percebido antes. Apesar de seu tamanho descomunal, ele agora parecia muito jovem e muito cansado.

Recuei um passo e fechei a porta em silêncio atrás de mim.

Billy olhava com curiosidade e reserva enquanto eu voltava devagar para a porta da frente.

– Acho que vou deixá-lo descansar um pouco.

Billy assentiu, depois nos olhamos por um minuto.

– Olhe – eu disse, rompendo o intenso silêncio. – Vou ficar lá embaixo, na praia, por um tempo. Quando Jake acordar, diga que estou esperando por ele, está bem?

– Claro, claro – concordou Billy.

Eu me perguntei se ele realmente faria isso. 

Dirigi até First Beach e parei no estacionamento vazio. Ainda estava escuro — o amanhecer melancólico de um dia nublado —, e quando apaguei o farol ficou difícil enxergar. 

Tive de deixar meus olhos se acostumarem antes de encontrar o caminho que passava pela alta cerca viva formada pelo mato. Ali estava mais frio, com o vento vindo em chibatadas da água escura, e enfiei as mãos no fundo dos bolsos do meu casaco de inverno. Pelo menos a chuva tinha parado.

Desci até a praia na direção do paredão do norte. Não conseguia ver St. James nem as outras ilhas, só o vago contorno do limite da água. Andei com cuidado pelas rochas, atenta aos galhos que podiam me fazer tropeçar.

Descobri o que buscava antes de perceber que estava procurando algo. Havia se materializado no escuro quando eu estava a pouca distância: um tronco branco feito osso, enfiado fundo nas pedras. As raízes se retorciam para cima na extremidade voltada para o mar, como uma centena de tentáculos frágeis. Não consegui ter certeza de que fosse a mesma árvore na qual Jacob e eu tivemos nossa primeira conversa desde a minha volta a Forks — uma conversa que começou a embaralhar tantos fios diferentes em minha vida —, mas parecia estar mais ou menos no mesmo lugar.

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