24│ALGUÉM COMO ELA

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— Te encontro lá embaixo, beleza?

Peter confirmou com a cabeça. Não viu, mas soube que Bryan havia saído devido ao som dos passos em direção à porta. Assim que ficou sozinho, suspirou pesado e caiu para trás, abrindo os braços.

Ah, mãe... — Sussurrou sôfrego.

Colocou seu braço direito sobre os olhos, comprimindo os lábios e fechando fortemente as pálpebras, a fim de impedir que as lágrimas caíssem.

— E-Eu... — respirou fundo, apertando seu punho e mordendo com mais força os lábios, xingando-se e repreendendo-se mentalmente por ter gaguejado, sentindo-se fraco — Eu sou fraco, não sou? — ele perguntava para o nada — Eu tenho tanto medo...

Peter rira fracamente, achando-se um total e completo tolo. Depois de alguns poucos segundos, sua, se poderia afirmar ser uma, risada cessa-se e o garoto fica mudo, repassando as imagens e sensações que sentira durante a série de pesadelos, porém, um ponto crucial que surgiu somente neste instante, o fez ficar desconcertado e em completa dúvida.

Ele retira o braço direito dos olhos, deixando-o ao lado do corpo, voltando a fitar o teto, só que, desta vez, com as sobrancelhas contraídas em dúvida. Com sua mão esquerda, passou sutilmente seus dedos sobre parte do rosto, lembrando-se vagamente da sensação de alguém antes o tocar naquele mesmo local, mas não com rapidez ou simplesmente para trocar o pano molhado em sua testa, mas sim com carinho e aconchego, podendo até declarar ter sentido um cafuné.

Fechou os olhos e riu com deboche, ditando com escárnio e incredulidade:

Tsc — estalou com a ponta da língua —, se já não bastasse eu ser um fodido sortudo tendo incontáveis pesadelos, agora sou um lunático que têm alucinações.

Moveu a cabeça em negação, não acreditando em suas próprias palavras. Sabia, tinha certeza, na verdade, que não teria sido Bryan a tocá-lo de tal maneira, tendo total ciência de que, sempre que ocorriam estas crises, o mesmo ficava dormindo, pois conhecia o tamanho da preguiça que tinha e que não perderia uma oportunidade sequer para tirar um cochilo. Também tinha certeza de que não fora seu pai, já que o velhote — como às vezes o proferia — não tinha as mãos tão macias, delicadas e, acima de tudo, dedos finos, como a lembrança das sensações que tinha, a qual ele considerava ser falsa.

Balançou a cabeça em negação mais algumas vezes, levantando-se, finalmente, de sua confortável cama. Foi em direção ao banheiro, tendo que se arrumar rápido para ir ao restaurante do hotel, antes que Bryan voltasse às pressas, mandando-o ir com mais agilidade por estar morto de fome. O mais velho poderia, também, começar a comer sem nem se preocupar com a ausência de Peter, mas tinha respeito por ele, então o esperaria. Na verdade, o esperaria mais para roubar algo de seu prato, já que Bryan sempre proferia: "O seu prato sempre é melhor que o meu!".

Peter, por um breve momento ao lembrar-se da frase que o amigo lhe repetia inúmeras vezes em sua vida, contraiu novamente suas sobrancelhas e enrugou levemente a testa, percebendo o quão familiar aquelas frases soavam. Um estalo soou em sua mente e a imagem de Hanna se sobressaiu, fazendo-o rir levemente.

— É a cara dela fazer isso... — fechou sua expressão e entortou as sobrancelhas ao lembrar-se de um pequeno detalhe: — Maldita golpista, sempre roubando minhas batatas...

Depois de trocar-se, não sem antes tomar a ducha a qual considerava ser a mais rápida de sua vida, saiu de seu quarto e logo estava dentro do elevador, indo para o térreo, ainda com a sensação, quase como um déjà-vu, de alguém ter tocado em seu rosto enquanto dormia. Ainda se considerava um lunático por isso, mas era inevitável, não conseguia esquecer o breve e, talvez, até o mais acolhedor e aconchegante carinho que recebera em anos. Isso não saía de sua mente.

Só Agora Eu Sei ✓Where stories live. Discover now