Um maço de flores mortas.

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       Eram de mesma origem. Néscios repletos de nescidade singular. Fora em uma noite de novembro, onde ela aos tropeços vagava pelas grandes estruturas de concreto. Em pegada falsa caiu aos pés dele, aos pés do esbelto Ademar. Levantou-se, envolta em folhas quebradiças, limpando a saia do vestido e os joelhos pouco feridos. O coração deu um tranco, havia algo ali cortando suas retinas. Algo que Ritinha julgou ser amor.

       Ademar Silva, disse se livrando de risada fria, o clima dera certa revolta. Todavia, ele não ousou responder. Julgou ser ignorância, mudez ou apenas alma aflita. Mas, enquanto ela procurava resposta, ele não ousou se mover. Dali partiu após pequena despedida, com a promessa de que voltaria. E dessa vez, com um presente para lhe dar.

      Passaram-se dias. Ademar dali não saira, mas Rita, com medo de não encontrar seu amor de primeira vista, decidiu telefonar. O local, que descobrira ser dono de longas vidas, atendeu rapidamente e uma voz rouca começou a falar. Alô, disse o outro lado da linha e Rita só faltou chorar. Ademar?, perguntou estarrecida e a voz riu de se esbaldar. Qual deles, minha filha?, e Rita confusa teve, finalmente, uma faísca. Aquele não era seu Ademar.

     Naquele mesmo dia fora até o local onde havia visto Ademar Silva. O presente fora esquecido em cima de sua mesinha, ela nem se dera conta de lembrar. Quando lembrou daquela maldita lembrancinha teve de improvisar. Saiu catando flores murchas, mas se Ademar a amasse, ele havia de aceitar.

    Avistou-o. Sentado, calado e imóvel. Como sempre ficava, mas Rita ainda o amava. Beijou-lhe, mas Ademar não ousou, ao menos, respirar. Deu-lhe o buque de flores passadas, porém dessa vez algo de diferente aconteceu. Rita pôs-se a chorar.

      Ademar não a consolara ou se movera. Apenas continuava ali vendo a moça que tanto o ama acabar-se em lágrimas. Ademar, meu Ademar, por que não se levanta para me consolar?, perguntou com sua voz argentina. Ele não pareceu se importar.

      Ali, chorou por toda a sua vida, mas Ademar nunca fora a abraçar. E por ali ela ficou. Ao final só restara um maço de flores mortas e história para contar.

contos de não amor.Where stories live. Discover now