17 - Quer tocar comigo?

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Mulher de amigo meu é instrumento musical
Trato carinhosamente, delicadamente e etc e tal
Mulher de amigo meu - Caju & Castanha

A noite de Kiyomi foi horrível.

Depois da mensagem de Ito ela leu e releu mais vezes do que era capaz de contar, buscando sempre encontrar um possível código enviado por Hidetaka, mas ela percebeu que era inútil. Mesmo ameaças não sendo o estilo de Ito, aquele cretino devia estar ele mesmo ditando quais seriam os textos para evitar que Hidetaka enviasse uma mensagem codificada para ela, até porque, Ito sabia sobre a existência daquele código.

Quando Kiyomi e Hidetaka tinham treze anos, a infame dupla "O nerd e a vadia" começava a fazer sucesso com suas pegadinhas que sempre davam certo, isso se dava por causa de um código complexo que eles criaram juntos. Eles conseguiam se comunicar com velocidade e segredo, as conversas pareciam aleatórias e inocentes, mas eram instruções ou assuntos secretos. Ninguém nunca foi capaz de desvendar o código, porém Ito sabia de sua existência.

Aparentemente, Ito não confiava totalmente em Hidetaka, então ela teria que ser rápida. Quando ele se irritasse, ela sabia que ele faria uma guerra apenas para matá-la.

Agora era cedo, próximo das 8 horas da manhã, e ela estava andando na rua. Dessa vez, ela não ia em direção a oficina de Shinichiro, mas sim em direção a casa dele.

Na noite anterior, alguns minutos após a mensagem de Ito, seu novo chefe enviou uma mensagem a ela pedindo para encontrá-lo em sua casa antes do expediente. Kiyomi não entendeu exatamente o que ele queria, mas concordou.

Só esperava que aquela não fosse, enfim, a vingança de Ken-chin. Até porque, se o cretino de seu irmão usasse o novo emprego para isso, Kiyomi com certeza iria se vingar, e envolveria o maior terror de Draken: borboletas.

O vento castigava seu rosto e o céu estava cinza e nublado, como se anunciasse a chuva que viria. Ela tremeu com medo da possibilidade de enfrentar um temporal.

Ela chegou em frente a residência da família Sano, era a mesma de cinco anos atrás. Mesma aparência tradicional, mesmo dojo ao lado, mesma garagem velha. Tudo ali parecia congelado no tempo, como se não tivessem passado cinco anos e aquela fosse a primeira vez que ela pisava ali com Mikey para iniciar os seus treinos.

Kiyomi suspirou em uma tentativa de impedir as lembranças virem e tocou a campainha da porta, que após alguns segundos foi aberta.

— Bom dia, Kiki! — Emma foi quem atendeu com um sorriso no rosto. Ela sempre estava muito animada pela manhã, como um raio de sol.

— E ai, Emma — Kiyomi respondeu sorrindo contido — Seu irmão tá acordado?

Emma tombou a cabeça para o lado e franziu as sobrancelhas, mas seus olhos brilharam minimamente.

— O Mikey? — ela respondeu com uma animação estranha na voz — Tá sim.

Kiyomi ergueu as sobrancelhas, confusa. Que merda Emma estava falando? Não havia como ela saber, havia? Emma fez barulho quando chegou em casa a dois dias, deu tempo de Kiyomi esconder as fotos e fechar o caderno. Ela não saberia, não é?

— Por que caralhos eu ia querer falar com o Mikey? — ela fez uma careta azeda — Eu tô atrás do Shinichiro, ele me pediu para passar aqui hoje cedo.

Emma arregalou levemente os olhos e concordou com a cabeça, como se as verdades do mundo fizessem sentido em sua cabeça.

— Ele tá sim, entra aí — Emma disse abrindo espaço para que Kiyomi entrasse na casa, o que ela fez — Ele ainda ta dormindo, só espera um pouco que eu vou chamar ele.

Pirulito de CerejaWhere stories live. Discover now