– Tem um capacete na minha mochila – falei e ele pegou – Para onde ? – perguntei.

– Minha casa fica no lado norte, bem atrás da loja... – disse ele colocando o capacete.

– Tem visto Jacob? – a pergunta explodiu de mim quase antes que ele terminasse de falar.

Olhei para o Quil com ansiedade, esperando pela resposta. 

– De longe – disse por fim.

– De longe? – repeti.

– Tentei segui-los... Ele estava com Embry. – sua voz era baixa. – Sei que me viram. Mas eles se viraram e simplesmente sumiram no bosque. Não acho que estivessem sozinhos... Acho que Sam e seu pessoal podiam estar com eles. Fiquei zanzando pelo bosque por uma hora, gritando por eles. Eu tinha acabado de achar a estrada de novo quando você passou.

– Então Sam o pegou. – As palavras saíram meio distorcidas, meus dentes estavam trincados.

Dei partida na moto e logo estávamos acelerando pela estrada.

Já estávamos em La Push. Eu podia ver a única loja da aldeia não muito à frente.

– Vou descer agora – disse Quil. – Minha casa fica ali, à direita. – ele gesticulou para o pequeno retângulo de madeira atrás da loja. Parei no acostamento e ele saiu.

– Vou esperar Jacob – disse a ele numa voz séria.

– Boa sorte. – Ele guardou meu capacete na mochila e se arrastou pela estrada, de cabeça baixa e ombros caídos.

A expressão no rosto de Quil me assombrou enquanto eu fazia um retorno e ia para a casa dos Black. 

Parei na frente da casa de Jacob, desci da moto e me encostei nela, jogando a mochila no chão.

Um movimento lampejou em minha visão periférica — virei-me e vi Billy me olhando pela janela da frente com uma expressão confusa. Acenei uma vez e dei um sorriso rígido, mas fiquei onde estava.

Os olhos dele se estreitaram; ele baixou a cortina na vidraça.

Estava preparada para ficar pelo tempo que fosse necessário, mas desejei ter alguma atividade. Peguei uma caneta e comecei a rabiscar minha mão.

Só tive tempo de desenhar uma fila de losangos quando ouvi a voz dele.

– O que você está fazendo aqui, Kris? – grunhiu Jacob.

Jacob mudou radicalmente nas últimas semanas desde que eu o vi. O primeiro detalhe que percebi foi seu cabelo — seu lindo cabelo se fora, cortado bem curto, cobrindo a cabeça como um cetim preto, muito escuro. As maçãs do rosto pareciam ter enrijecido discretamente. O pescoço e os ombros também estavam diferentes, de algum modo mais largos. As mãos,eram enormes, com os tendões e as veias mais pronunciados sob a pele avermelhada. Mas a mudança física era insignificante.

Era a expressão que o deixava quase irreconhecível por completo. O sorriso aberto e franco sumira como o cabelo, o calor em seus olhos escuros se transformara num ressentimento taciturno que era imediatamente perturbador. Havia trevas em Jacob. Como se meu sol tivesse implodido.

– Jacob? – sussurrei.

Ele se limitou a me encarar, os olhos tensos e raivosos.

Percebi que não estávamos sozinhos. Atrás dele havia outros quatro; todos altos e de pele vermelha, o cabelo preto curto como o de Jacob. 

Cada par, exceto um. Anos mais velho, Sam estava ao fundo, a expressão serena e segura. 

– O que você quer? – perguntou Jacob, a expressão tornando-se mais ressentida à medida que ele via as emoções passando por meu rosto.

– Quero conversar com você – respondi.

– Pode falar – sibilou ele entre os dentes. 

Seu olhar era violento. Eu nunca o vi olhar para ninguém daquele jeito, e muito menos para mim. Isso me magoou com uma intensidade surpreendente; uma dor física, uma facada na cabeça.

– A sós! – Sibilei, e minha voz saiu mais alta do que eu esperava.

Ele olhou para trás e eu sabia para onde iam seus olhos. Cada um dos garotos se virou para ver a reação de Sam.

Sam assentiu uma vez, a expressão impassível. Fez um breve comentário numa língua desconhecida e fluida — eu só tinha certeza de que não era francês nem espanhol, mas imaginei que fosse quileute. Ele se virou e foi para a casa de Jacob. Os outros, Paul, Jared e Embry o seguiram.

– Tudo bem. – Jacob parecia um pouco menos furioso depois que os outros partiram. Seu rosto estava mais calmo, mas também mais desamparado. A boca parecia permanentemente repuxada nos cantos.

Respirei fundo.

– Por que não me ligou? – perguntei, exasperada – Por que não deu notícias? Você tem ideia do quanto eu fiquei preocupada com você?

– Kris – ele falou com cuidado e me olhou com amargura.

Retribuí o olhar e o silêncio se prolongou. A dor em seu rosto me enervava. Senti um bolo começando a se formar em minha garganta.

– Eu estou passando por uma transformação difícil.

– Tô vendo ! Você cortou o cabelo Jake! – percebi que estava gritando – Desde quando Jacob Black tem o cabelo curto?

– Foi necessário! 

Eu fechei os meus olhos com força antes de encará-lo.

– Eu sei o que você é.

– Vá embora, Kris. Aqui não é lugar para termos essa conversa!

– Então é verdade ? – minha voz saiu fraca.

O olhar triste de Jacob respondeu a minha pergunta.

O mundo oscilou, inclinando-se do jeito errado em seu eixo.

Que tipo de lugar era esse? Poderia realmente existir um mundo onde lendas antigas ficavam vagando pelos limites de cidadezinhas mínimas e insignificantes, enfrentando monstros míticos? Isso queria dizer que todo conto de fadas impossível era baseado em alguma verdade absoluta? Havia, afinal, alguma coisa racional ou normal, ou tudo era magia e histórias de fantasmas?

Olhei para a casa de Billy, vi Sam e os outros nos encarando com olhares furiosos.

– Você tem razão – falei, pegando a minha mochila – Preciso ir embora.

Jake concordou com a cabeça.

Enquanto eu dirigia para casa na chuva, uma palavra vagava pela minha mente: Lobisomens.

Uma matilha de cinco lobisomens perturbadoramente gigantescos e multicores.

crescent moon - Lua Nova Where stories live. Discover now