Capítulo 1

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— ISSO NÃO PODE ESTÁ ACONTECENDO! — Rebeca gritou em frente ao espelho enquanto analisava o seu reflexo. Pela sua expressão, parecia que o mundo iria acabar no próximo minuto.

Revirei os olhos enquanto tentava conter uma risada. Sentada na cama, passei uma página da revista ao tempo que fingia estar concentrada.

— Não ria Agnes, isso é sério! Olhe para isso. — Ela voltou-se para mim enquanto me mostrava seu rosto de porcelana. Analisei calmamente por alguns segundos até finalmente encontrar o que julguei ser o motivo do seu desespero. — Isso está um desastre. Como irei para aula hoje? Serei caçoada pelo resto do ano. Você sabe que Jonas não perderá a oportunidade.

Virei o rosto para o lado tentando não lhe denunciar o meu divertimento com a cena. Eu já conhecia Rebeca há tempo suficiente para saber quão dramática ela era e ainda assim eu sempre me divertia com isso.

— Deixa de exagero, Rebeca. É só uma espinha. — Disse revirando os olhos, não que isso fosse acalmar seus nervos.

— Está um horror. Além disso, diferentemente de você que é, claramente, o gênio da escola, eu não tenho muito o que aproveitar nessa cabecinha. — Ela pôs o indicador em sua testa. Rebeca pegou um pouco de base no dedo e começou a espalhar pela área onde estava a espinha. — Tenho que zelar pela beleza que me resta antes que não me sobre mais nada.

Rebeca não era tão desprovida de inteligência como ela acreditava ser, mas também não era nenhum destaque em nenhuma matéria. Por outro lado, era uma das mais bonitas do colégio.

— Não está tão ruim assim, e uma espinha não é o suficiente para afetar sua beleza. — Na verdade, era difícil algo realmente conseguir afetar a beleza de Rebeca. Ela era muito bonita. Sua pele de porcelana combinava perfeitamente com seus cabelos loiros que caíam em seus ombros em espiral. Ela era um pouco mais alta que eu e tinha as maçãs do rosto naturalmente avermelhadas. Provavelmente, metade dos rapazes do colégio já teve uma queda por ela, apesar dela não ter ideia da maior parte dos casos.

Levantei-me indo em direção ao closet e, colocando uma calça jeans preta e uma regata branca, peguei meu moletom azul e me pus a sair do quarto.

— Estou esperando lá embaixo. Você tem cinco minutos.

Saí ouvindo suas lamentações, o que também já me acostumara. Desde o primário, quando Rebeca se pôs a chorar porque seu rabo de cavalo estava torto, que as venho escutando.

Diferentemente de mim, Rebeca é extremamente vaidosa. Lembro-me que durante a oitava série, enquanto ela estava visivelmente a minha frente ao que se refere a atributos femininos, já que ao seu lado eu parecia uma criança abarrotada de espinhas, ela se apaixonou perdidamente por Mark Davies, um novato da escola e o seu primeiro amor. Na época, ela traçou como objetivo de vida conquistá-lo, então passou a demorar o triplo do que normalmente demorava se enfeitando para Mark. Infelizmente, Mark não demonstrou muito interesse por ela, o que me surpreendeu. No ano seguinte, Mark saiu da escola e Rebeca passou semanas chorando pela sua perda. Apesar disso, ao contrário do que eu esperava, Rebeca ficou cada vez mais preocupada com sua aparência.

Entrei no carro, um Corsa Wind 2001 branco, do qual apelidei de Urso polar. Não tinha orgulho do nome, mas foi o mais criativo que consegui na época.

Após longos vinte minutos, Rebeca apareceu tão arrumada quanto eu estaria caso estivesse indo para um casamento. Ela adentrou o carro com uma saia um pouco menor do que eu teria coragem de usar, e com um sorriso enorme no rosto.

— O que um pouco de base e uma pitada de talento não resolvem? — Disse entusiasmada. — Eu não darei a Jonas o gostinho da vitória de hoje.

Dei a partida em Urso Polar e saímos.

Sangue LealWhere stories live. Discover now