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Interior da Coreia do Sul, 29 de Dezembro de 2021
No fim do dia, ao me deitar no colchão de uso rotativo, tudo o que conseguia sentir era que eu estava quebrado. Dos fios de cabelo até a ponta dos pés, não havia sequer uma partícula inteira para contar história.
Era um estado físico já esperado, para ser sincero. Como nos dias em que minha mãe decidia nos levar ao parque aquático e, quando voltávamos para casa, nem eu nem Yoongi, e muito menos Soomin, dávamos conta de suportar mais que alguns minutos deitados antes de cairmos em sono um profundo e duradouro, que só se interrompia doze horas depois.
Aquela exaustão gostosa que te derruba, mas, ao mesmo tempo, te dá o prazer de poder dizer e sentir que aproveitou ao máximo aquilo que lhe foi concedido.
Eu estava me sentindo exatamente dessa forma, quase desfalecido entre os lençóis que abrigaram Jungkook na noite anterior — e, da mesma maneira como especulei, o aroma de bebê me fez adormecer como se estivesse sobre as nuvens, acentuando a letargia natural causada pelo cansaço.
Por outro lado, a despeito da exaustão que se apossou de mim quando as estrelas tomaram conta do céu escuro da madrugada, posso dizer que, tirando o momento em que fui inconvenientemente acordado pela luminosidade incômoda do sol, foi um dia muito bom. Muito bom mesmo.
Além de ter passado um tempo legal ao lado do pessoal, o que não pude fazer por dois anos, eu também tive o pretexto perfeito para conhecer mais de Jeon Jungkook e alguns dos predicados que constituem a personalidade pela qual eu me peguei rapidamente atraído.
Sei lá, sabe?
Estar com ele é fácil demais, as conversas fluem de maneira tão espontânea e o interesse parece tão mútuo — e não digo apenas em relação à minha vontade avassaladora de sentir a textura de sua boca, porque essa parte, na verdade, eu ainda não tenho certeza quanto à reciprocidade. Mas, enquanto mantemos qualquer diálogo trivial, Jungkook aparenta estar tão envolvido quanto eu. Independente do assunto que venha à tona, existe, entre nós, uma predisposição genuína para ouvir e ser ouvido.
Eu tenho total conhecimento de que minha personalidade em si tende à extroversão, e, talvez, seja até por isso que tantas pessoas já vieram me dizer que é fácil interagir comigo. Em essência, nunca tive problemas com comunicação, tanto que, durante o período escolar, meus pais sempre recebiam reclamações da professora sobre o fato de eu falar demais.
"Ele é um ótimo aluno, mas precisa maneirar a língua um pouquinho."
Era a mesma pontuação toda santa vez, mas nunca adiantou de nada, porque, apesar de saber sobre essa minha qualidade que, quando em excesso, tornava-se defeito, não era uma característica que eu conseguia controlar — ainda não consigo, inclusive.
Entretanto, apesar de prosear além da conta, também sempre fui um bom observador. Dizem por aí que quem muito fala, pouco escuta. Mas eu, não. Assim, apenas alguns instantes de silêncio foram o suficiente para eu ouvir o que Jungkook não estava dizendo.
