#2: Ele é Liberdade

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Interior da Coreia do Sul
28 de Dezembro de 2021

Eu nunca fui contra a existência do sol.

Para dizer a verdade, gosto do calor fornecido pela nossa estrela detentora de quilômetros e quilômetros de diâmetro — pelo menos quando não parece estar querendo derreter minha pele a uma temperatura de trinta e cinco graus celsius e sensação térmica similar ao inferno.

Neste momento, no entanto, me vejo incapaz de estabelecer uma lista de motivos que me relembrem o porquê de tal astro ser importante para a vida na Terra. Isso pois, 1) minha mente, recém desperta, ainda está enevoada pelo sono esmagador e inconvenientemente interrompido, e 2) decerto, há uma brecha na cortina que se sobrepõe a janela, e é ela a responsável por permitir que os raios solares penetrem o quarto e incidam diretamente em minhas pálpebras fechadas em uma pressão quase involuntária.

A queimação é sutil, mas não deixa de ser incômoda o suficiente para me fazer resmungar de frustração, puxando o cobertor para cobrir a cabeça e impedir que a claridade me encontre.

O fato é: eu detesto ser acordado, seja pelo barulho estridente de um despertador ou qualquer outro sujeito que o faça em seu lugar.

Quando eu e Yoongi estudávamos na mesma escola, antes dele se formar, esse era um dos maiores fatores que colaboravam para o meu mau humor matinal. Como sempre acordava primeiro, ele sempre ia até o meu quarto e fazia questão de segurar o celular perto da minha orelha, com o auto-falante soando em meus tímpanos, antes de dar play na música irritante — gravada com a própria voz do dito cujo que, aparentemente, não tinha nada para fazer além de me importunar — avisando que estava na hora de acordar.

Eu levantava assustado, às vezes até gritando, enquanto ouvia-o rir alto do meu desespero. Movido unicamente por ódio, eu me levantava apenas para desferir tapas estalados em qualquer parte de seu corpo que alcançasse, amaldiçoando todos os espermatozóides que poderiam vir a fazê-lo se reproduzir neste mundo.

Era um caos absoluto que se repetia todo santo dia.

Feliz ou infelizmente, hoje eu sou o primeiro a acordar, devido à interferência externa. E, por mais que minha vontade seja a de virar para o lado e voltar a dormir por mais algumas deliciosas horas, possuo autoconhecimento o bastante para saber que não irei conseguir.

Com essa verdade bem clara em meu consciente, eu deixo um suspiro desalentado me escapar e, ainda encolhido debaixo dos cobertores, tateio o espaço sob o travesseiro em busca do celular. Ao encontrá-lo, pressiono o botão na lateral e cerro os olhos quando a luminosidade reduzida me atinge.

O relógio digital marca 08:25a.m.

Eu prendo um choramingo na garganta.

Ainda é praticamente madrugada, meu Deus.

Controlando a indignação, eu tiro a coberta de cima de mim e pisco algumas vezes para fazer o ambiente entrar em foco. O silêncio se propaga, imperturbável, sob o ressonar baixinho que os garotos exalam, deitados em suas camas. Daqui, ouço o canto harmonioso dos pássaros lá fora, junto ao gorjear longínquo de um galo.

Espreguiçando-me junto a um bocejo preguiçoso, eu me sento sobre o colchão e, mesmo sem ter um espelho que confirme minha suposição, tenho certeza que meu cabelo está uma completa desordem — como de praxe. Olho em volta, observando, mais uma vez, o cômodo que abriga duas beliches, uma cômoda e, atualmente, nossas bagagens espalhadas pelo chão de piso de tábua corrida. Além disso, há um colchão individual, posicionado entre as duas camas duplas, e é nele que Jungkook dorme, todo encolhido e a expressão adoravelmente sossegada.

FÉRIAS EM CAOS • jjk + pjmDonde viven las historias. Descúbrelo ahora