#3: Fica comigo. Amanhã a gente vê

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Apenas algumas observações taciturnas foram o bastante para me fazer perceber que ele é o completo oposto de mim.

Se muitas pessoas estiverem falando, ele se mantém calado; a voz, embora tenha o timbre grave, é sempre vocalizada em volume reduzido; ainda que não pareça ter grandes impedimentos quanto a estar em um círculo social, ele não age para chamar atenção. Jungkook escuta mais do que fala, é tímido em alguns momentos, mas inteiramente expansivo em outros.

Ele é, substancialmente, o antônimo da definição de caos que corre em minhas veias e estrutura a árvore genealógica da minha família.

Então, levando em consideração as ponderações supracitadas, é impossível não me sentir satisfeito por vê-lo se portar de maneira tão despojada comigo. A forma como sorri sem forçar, ou como gesticula com a destreza de quem não hesita... Perceber tudo isso só me fez ficar ainda mais encantado.

Acho que é esse o sentimento que se dilata em mim ao manter os olhos e atenção focados nele. Trata-se de uma espécie de hipnose que pode ser traduzida exatamente em uma palavra: encanto.

Nem mesmo vê-lo rir do momento em que caí na lama do sítio de tio Jiho foi o bastante para retirar esse feitiço de mim — até porque, quando o dito cujo teve a decência de estender a mão para me ajudar a levantar, eu a agarrei e o puxei de encontro ao chão pantanoso também.

Meu pai quase teve um ataque cardíaco ao ver os bancos do carro sujos da mistura de terra e água, mas valeu a pena o esporro.

Em suma, foi um dia deveras cansativo, mas que também me trouxe diversas vantagens, então não tenho do que reclamar.

Bem, talvez apenas do apelo que é estar de pé às oito da manhã, com a bunda apoiada nas pedras de uma cachoeira, depois de ter passado um dia inteiro sentado em uma sela.

E a culpa é toda de Kim Taehyung.

— Lembra o que eu disse sobre achar bom o fato de você sempre planejar nossas férias? — Indago de modo retórico, enquanto o indivíduo se acomoda ao meu lado. — Pode esquecer. Você é um sem noção, Taehyung.

— Eu não tenho culpa se você resolveu ficar o dia inteiro cavalgando!

Em um movimento imediato, eu viro o pescoço para encará-lo, vendo o sorriso malicioso que lhe enfeita o canto dos lábios.

— Às vezes eu acho que você parou na quinta série — é o que digo, semicerrando as pálpebras.

Sem se intimidar pela minha acusação despretensiosa, ele explode em uma gargalhada alta.

Bobão.

— Desculpa, foi mais forte do que eu — se defende. — Mas, sério, nem é tão ruim, Jimin-ah. Yoongi hyung também reclamou antes de vir, mas não saiu da água desde que Hoseok o puxou lá pra dentro.

— Meu irmão é um caso perdido.

— Eu diria que o soldado foi abatido com sucesso — opina, dando um gole na cerveja que segura entre os dedos longos.

— Ah, isso com toda a certeza.

Nós compartilhamos uma risada descontraída, e ele me oferece a latinha lacrada que trouxe consigo.

— Valeu — agradeço, apanhando a bebida e usando polegar e indicador para quebrar o lacre.

Sorvo um pouco do líquido gélido, sem conseguir conter a leve careta que retorce meu rosto ao sentir o gosto amargo salpicando meu paladar. Eu não tenho nenhum problema pessoal com cerveja, mas, dentre a extensa gama de bebidas alcóolicas que existem, as provenientes da cevada não são lá as minhas favoritas.

FÉRIAS EM CAOS • jjk + pjmOnde as histórias ganham vida. Descobre agora