Meu coração palpita e meus olhos lacrimejam. Há algum tempo que sentimento assim não se alastrava em meu corpo.
Fecho o livro na página 106, ainda impactado por uma de suas crônicas. Embora marcante, não é dela que emerge esse desespero líquido que caminha dentro de mim.
A emoção que me embebe tem raízes profundas. Suas conexões com meu coração são mais antigas e mais vivas do que as que construí com qualquer texto de que gostei.
É um suspiro da vida real que nos toca a face como brisa gelada em dia frio.
Quando menos esperamos, ela nos toca a bochecha carinhosamente, e então some. Nos deixa um bilhete. Nele, o seguinte: "Eu passo, e vou rápido."
E é nessa confusão, nessa profusão de sentimentos doidos em que encontro as fraquezas de quem eu sou. Vejo a vida passando diante dos olhos: os amigos caminhando, as relações se distanciando, as rotinas mudando e tudo o que eu conhecia e vivia ordinariamente se despedaçando; e nem mesmo posso me despedir.
As aulas dos universitários já vão começar, alguns já tiveram de se mudar. E vi um deles, que insistiu em postar.
Começaram as aulas: "bixo alguma coisa em algum lugar". Não importa o que, não importa onde. Disso ninguém se lembrará. O que importa é quem, que não sai da minha memória.
Não, não vou mencionar; eu me recuso. Não vale a pena. É gente pequena. Mas que me espeta como uma agulha de injeção. Das grandes, das doloridas.
Estou cansado. Cansei de não superar. Abandono tudo, ou hei de me afogar. É libertar-me agora, ou para sempre me condenar. Ou dou um fim a essa desesperança, ou tudo vai piorar. Estou na reta final, sei onde vou estudar e até tenho onde morar. Não há mais tempo para voltar.
Ó passado, tardio amigo, preciso deixá-lo, ou tu heis de me assassinar. Tiras-me todas as forças, arrancas-me todo o instinto e me colocas a chorar. Fazes com que eu me humilhe. E disso, só eu hei de lembrar. Vou-me agora, antes que possas me procurar.
Adeus.
