Save your tears
21 de março 1813
A temporada social começará em novembro, desde dessa época que tivera de presenciar vários eventos como: longos passeios no St. James Park, a opera que era mais um local de convívio do que propriamente um local para ouvir as belíssimas sopranos e as suas vozes maravilhosas, o teatro ou melhor diria outro sítio para tentar conhecer um bom marido e por fim os jardins dos prazeres, locais maravilhosos onde poderíamos ver acrobatas, animas exóticos, conviver, tudo aquilo que fosse prazeroso aos nossos olhos curiosos, estaria lá. Por mais que descreva uma realidade deslumbrante, pelo menos para aqueles que não podem participar em tais eventos, para mim é um absurdo tanta pompa e circunstância para encontrar um homem suficientemente interessado na nossa beleza e dote, não nas nossas conquistas, personalidade ou inteligência. Também era um completo pesadelo para pessoas com aversão por outras, assim como eu, cujo o convívio é um completo sacrifício. Por vezes isso é visto com repugnância pelos os indivíduos aos quais me dirigia que me tomavam como arrogante e orgulhosa.
Nunca tivera um complexo de superioridade, por mais que tenha me sido dito várias vezes que por as minhas palavras serem poucas se tornavam valiosas. Simplesmente preferia livros, o conforto da minha cama, os meus dálmatas e um bom passeio silencioso no jardim imenso e privativo da minha casa, ao ato de conversas de circunstância e aos cortejos de senhores que desconhecia. Talvez a única pessoa que realmente gostava de conferenciar era a minha melhor amiga Arabella Cooper, que ao contrário de mim adorava a temporada social e estava ansiosa pelo mercado de casamentos que se avizinhava.
Fora sempre ela que me motivava a ir a tais locais e ambicionava, até mais do que eu, a minha felicidade ao lado de um homem que me amasse. Ela já tinha tido várias paixonetas, fossem eles bem ou mal parecidos, asnos ou cultos, tratassem-na de qualquer forma, ela afirmava que os tinha amado. Eu penso que foi apenas a ideia de estar apaixonada e não amor necessariamente dito.
Porém eu nunca me senti assim, pelo menos, não por algum homem. É errado, eu sei. Mas já tinha sentido aquilo que todos os livros descrevem por outras mulheres. Conseguia-me imaginar a passar o resto da minha vida ao lado de uma. Nunca confessará isto a ninguém, provavelmente será um segredo que morrerá comigo, enquanto serei assombrada com uma vida ao lado de alguém que nunca conseguirei amar. Talvez seja algo que mude, espero eu.
O meu maior tormento com toda esta minha, situação, é não a compreender, porque de todas as pessoas que conheço só eu saio do padrão e pergunto-me se mais alguém se sentiria assim. Ás vezes adorava ter alguém que pelo menos me compreendesse. Com a qual pudesse falar sobre isto e que fizesse com que não me sentisse tão diferente com aquilo que sinto.
-Miss Stewart, já é tarde, podemos começar a sua rotina noturna?
-Um momento Jane- disse tentando abafar o soluçar da minha voz e rapidamente limpei as lágrimas, respirei fundo e olhei para o meu reflexo, o meu orgulho gritava-me ao ouvido "ridícula" – Entre!
Olhei em direção da porta onde entrou uma senhora baixinha e que aparentava já ter entre 50 e 60 anos, parecia uma pequena barata tonta quando andava freneticamente de um lado para o outro. Era preciso sempre a ajuda de alguém para retirar todo o amontoado de vestidos que eram presos uns aos outros por fitas e botões. Nunca entendera como as modistas e serviçais faziam para que tudo permanecesse no local. Depois era o espartilho que era desatado, era um alívio para os pulmões de qualquer mulher.
Apenas após ter colocado papeis no meu cabelo de modo a que ficasse cacheado no dia seguinte e vestir uma camisa de noite de veras parecida com o vestido que tinha usado durante o dia é que pude repousar a cabeça na almofada.
-Boa noite, Miss. Stewart.
-Boa noite, Jane.
Preparava-me agora para dormir. Tentava fazer com que os meus pensamentos não se acumulassem e me perturbassem o meu sono. Mas era complicado e ainda se tornou mais complicado quando a porta do meu quarto se abriu e a luz proveniente de uma vela magoou os meus olhos já familiarizados com a escuridão.
-Quem vem lá?
-Shiuu! Sou apenas eu! – sussurrou a figura que agora dirigia a luz da vela para o seu rosto. Era Arabella e os meus lábios não evitaram em sorrir, um largo sorriso eu diria. Ela estava a permanecer uns dias connosco enquanto os seus pais partiram em negócios para a Alemanha, acharam que a minha mãe seria a acompanhante perfeita para o mercado de casamentos, dado em conta os laços de amizade entre as nossas famílias.
Ela deitou-se ao meu lado deixando a vela acesa na mesinha de cabeceira e agarrou na minha mão com delicadeza acariciando-a com o seu polegar.
-Estiveste a chorar? Sabes que te conheço demasiado bem para que possas mentir, Dor. Os teus olhos estão vermelhos. O que te aflige?
-Nada, deve ser apenas o nervosismo que vem com o mercado de casamentos, começa em alguns dias e...
-Estás com medo de não arranjar um marido esta temporada, não é? Dor, não tens de te preocupar! Tu és uma excelente dançarina, tocas variados instrumentos, falas pelo menos 4 línguas e a tua voz é perfeita para acompanhar o fortepiano. Além disso a tua beleza é indiscutível, és a mulher mais bela de toda a Highbury.
-Obrigada pelas palavras afáveis Bella, acho que estou pronta para assumir o meu papel na sociedade, desde que estejas ao meu lado. - disse agarrando com mais força na sua mão, apercebendo-se disso deixou-a no meu rosto e limpou as lágrimas que nem reparara que já caiam. – Desculpa.
-Não são necessárias as desculpas, não precisas te desculpar pelas tuas emoções. Eu vou estar aqui, nunca te vais livrar de mim, nem que tenha de exigir uma casa ao teu lado ao meu futuro marido. Tenta salvar as tuas lágrimas para amanhã, tens de adormecer.
-Sabes, Bella, quando digo que odeio todas as pessoas no mundo, nunca te incluías nesse círculo- com isto abracei-a e ela retribui-o. Naquele momento senti que o meu local de conforto seria sempre nos braços dela.
E o meu coração bateu mais rapidamente.
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Romantizm📍este livro tem book trailer! Há uma lenda sobre pessoas destinadas, que seriam ligadas por um fio invisível, este poderia ser esticado e até mesmo ganhar alguns nós, porém nunca se poderia romper. O seu comprimento determina a distância dos apaix...
