Capítulo 4

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NICHOLAS THEODORIDIS

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NICHOLAS THEODORIDIS


NICHOLAS SEMPRE TEVE uma beleza única. percebi isso da última vez que o vi em Yellowstone Hill. Mas, assim como os melhores vinhos, sua verdadeira essência veio com a maturidade. Cada meneio seu foi moldado pelo tempo.

Pelo que James contava, Nicholas até tentou manter o visual de roqueiro surfista que adquiriu na adolescência - cabelo comprido e camisas de banda - até depois da faculdade, mas, ao perceber que não era levado a sério no trabalho em East Valley, se reciclou totalmente.

Apesar de ser homem feito, no auge de seus trinta e quatro anos, Nicholas tem uma beleza que lhe garante uma jovialidade quase que eterna. Sua personalidade ajuda, pois o livra de preocupações e tensões desnecessárias. Uma pessoa fácil de lidar, que dava ótimos conselhos bem fundamentados, e que ganharia impassível uma partida de pôquer.

Nicholas era o típico retrato do cara bem-sucedido. Sua imagem exalava um quê de confiança. Acho que isso se deve, em parte, ao seu porte. À segurança que passa quando tão apaixonadamente realiza suas obrigações no tribunal, ou quando dava palestras.

Ele não era apenas mais um na multidão.

Seu rosto másculo era enfeitado por olhos castanhos, profundos e intensos, que pareciam prender uma mulher, subjugá-la e levá-la cativa para onde quer que fosse. Sua boca era belamente esculpida, cada curva dela parecia ter sido desenhada à mão. Sua pele levemente bronzeada, em tons quentes, parecia ter sido conquistada em viagens escondidas ao mediterrâneo.

E o cabelo dele, meu Deus! Eu o achava particularmente lindo. Loiro, mas não dum tom apagado, acinzentado. Seus fios tinham um tom de dourado igual ao da areia da praia no pôr-do-sol.

Eu fazia observações mentalmente enquanto observava seu perfil.

Nicholas estava distraído. Deitado no sofá oposto ao que eu estava. O braço apoiado sob a cabeça, encarando a tela. Nem via como eu desenhava cada contorno de seu rosto primoroso em minha mente.

Estávamos assistindo um filme clássico que encontramos no catálogo da operadora. Tínhamos acabado de jantar o que sobrou do almoço que fiz. Risoto de arroz selvagem com cogumelos e pedaços de carne assada. Acho que provei que sabia cozinhar.

Meu celular tocou dentro do meu bolso. Nicholas se virou no sofá para olhar em minha direção, talvez pensando que estivesse dormindo.

Eu acenei com o celular e disse:

— É James, tenho que atender. Pode assistir sem mim, já volto.

— Se ele quiser falar comigo, me dá o celular.

Lancei um sinal de "joinha", levantei-me para ir ao quarto, para ter mais privacidade, atendi finalmente a ligação.

— James?

— Emily, como está tudo por aí?

— Tudo tranquilo. – Respondi feliz por conversar com meu irmão – Estou aproveitando os últimos momentos de liberdade antes das aulas.

— Aproveite mesmo. – Disse num tom mandão – Tem tudo o que precisa?

— James, eu tenho dezenove anos, pai do céu. Sei me virar. – Eu sorri.

— Força do hábito. Como o Nicholas está te tratando?

— Ah, você sabe, como o Nicholas.

— Diversão negativa. - James sorriu e eu o acompanhei.

— Ah, até que estamos assistindo uns filmes e está sendo legal. – Então falei um pouco sobre minha angustia – Estou nervosa com a faculdade.

— Não precisa ficar. Sabe que se esforçou bastante para isso e vai tirar isso de letra. É inteligente e sei que vai tirar notas excelentes.

"Tão adulto" pensei comigo mesma.

— Eu não vou ter você para me ajudar, estou desfalcada.

— Depois de mim, Nicholas é o mais esperto. Tenho certeza de que vai te ajudar quando eu não puder.

Esse era o modo de me fazer relaxar, sorrindo.

— À proposito, – Demorou um pouco antes de continuar – depositei um valor na sua conta. Não adianta recusar, será sem efeito. Vou continuar depositando um valor nela mensalmente, como sei que é orgulhosa, será só até conseguir um trabalho de meio-período.

— Mas James, você já trabalha tanto.

— Pense nesse dinheiro como uma reserva para emergências. Estou cuidando dos seus gastos aí, mas não pode esperar que Nicholas te socorra nesse caso.

— Tudo bem... você é excepcional. Eu te amo muito.

Não consegui evitar de ficar emotiva.

— Eu amo você também, Emily, mais que minha própria vida.

Ficamos em silencio, mas então James o quebrou.

— Deixa-me conversar com Nicholas um pouco. Amanhã terei o dia cheio e preciso dormir. Não esquece, qualquer hora, não importa quando, se precisar me ligar, não hesite, ok?

— Ok. Também estou aqui se tiver problemas.

Fui até a sala e entreguei o celular para Nicholas. Ele foi até o escritório, atender lá. Não sei do que falaram, mas demorou um pouco. Quando voltou para a sala, Nicholas me devolveu o aparelho e sugeriu:

— Que tal pedirmos pizza?

— Mas é madrugada.

— Benefícios da cidade grande.

Nicholas fez o pedido e meia hora depois nossas pizzas chegavam. Sentamo-nos no mesmo sofá e assistimos outro filme antes de ceder ao cansaço. Ele guardou o que sobrou das pizzas na geladeira.

Quando voltou, sentou-se no mesmo sofá que eu. Aconcheguei minha cabeça em seu colo. Ele pareceu, por um segundo, nervoso, mas logo relaxou e começou a correr os dedos pelo meu cabelo.

Não sabia ele que esse era o meu ponto fraco.

Eu não sei em que parte da massagem cai no sono, mas lá estava eu sonhando com ele outra vez. No sonho, ele corria a mão por meu rosto e deslizava um dedo macio sobre meus lábios. Me surpreendi quando ele se inclinou para beijar-me. Acho que gemi seu nome.

Era madrugada, a tevê estava desligada.

Ainda sonolenta, me vi sozinha no sofá.

— Nicholas? –Chamei seu nome e o procurei.

Devido ao escuro do apartamento, iluminado apenas pelas luzes da rua, não consegui distinguir se era real ou imaginária a figura sentada na poltrona Eames, bebericando um liquido qualquer num copo para uísque.

A figura era parecida com Nicholas. A figura olhava em minha direção.

Metade do seu rosto iluminado pela fraca luz que vinha das janelas, outra metade obscurecida pela ausência de luz no cômodo. Ainda que na penumbra, era possível distinguir seu olhar intenso. Quente como mel derretido, precioso como um diamante amarelo. Cheio de um sentimento que eu não soube decifrar. Perdido numa contemplação interior.

Chamei seu nome outra vez, mas não obtive resposta.

Submergi no mundo dos sonhos, sem notar.

Um Amor em East ValleyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora