Capítulo 2

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PRIMEIRAS IMPRESSÕES

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PRIMEIRAS IMPRESSÕES


EAST VALLEY TINHA um ar perfeito. Não era tão tranquila para que parecesse com uma cidade do interior, mas também não era tão movimentada para que o estresse da população causasse algum mau efeito sobre sua aparência.

Os prédios, em sua maioria de tijolinhos vermelhos, tinham uma arquitetura perfeita, assemelhando-se muito ao estilo inglês. Pequenos detalhes me fazendo perceber que deviam ser bastante antigos, apesar da aparência conservada deles.

Também despontavam ao longe, alguns arranha-céus, cujas janelas refletiam o céu limpo da cidade. De algum modo, até eles se encaixavam na paisagem. Tudo era muito arborizado, cheio de cor, de vida, banhado pelo sol tímido que não agredia a pele, apesar de estar alto no céu. O clima ficava agradável por causa do vento suave que varria as ruas.

Namorei a cidade durante o trajeto e não me arrependi de tirar algumas fotos com o carro em movimento.

Quando chegamos ao apartamento de Nicholas, fiquei boquiaberta. Não que o apartamento dele fosse imenso, cheio de luxos ou cafona como a casa de muitos milionários, apesar das várias peças de bom gosto.

O que me impressionou mesmo foi a vista absurdamente linda. Enormes janelas montras que davam para o parque da cidade. O conjunto me fazia ter a sensação de que eu poderia mergulhar naquele espaço facilmente. Me imaginei aproveitando cada centímetro daquela vista para desenhar. Medindo a perspectiva com meus pincéis e desbravando em tela a beleza da cidade.

A decoração do lugar era tipicamente masculina, com um ou outro toque de cor. Havia dois quartos grandes no apartamento. Nicholas levou minhas malas para o que eu ocuparia, me mostrou o banheiro, como utilizar as coisas na cozinha, o escritório, e me autorizou a utilizá-lo para meus estudos.

— Tem alguns hambúrgueres congelados na geladeira, acho que deve ter alguma massa pré-pronta na despensa também. – Disse em tom de desculpa – Eu não tive tempo para comprar muita coisa, sua chegada foi repentina, mas podemos fazer compras mais tarde, tudo bem?

Acenei com a cabeça em concordância.

— Boa menina! – Só faltou bagunçar meu cabelo como se eu fosse uma filhotinha – Agora tenta descansar um pouco. Preciso ir agora ao fórum, ou me atrasarei. Por favor, não vá se aventurar ainda, não sozinha.

Fiz outra vez que sim com a cabeça.

— O que foi? Ficou muda? – Nicholas perguntou, tentando quebrar a tensão – Se houver algo de errado, pode me falar.

— Não, bobo. Apenas percebi que tenho que te agradecer por tudo, mas especialmente por me deixar ficar aqui. É um amigo maravilhoso.

Nicholas se aproximou um pouco, pegou minhas mãos. Ali, de frente para mim, parecia muito alto, terrivelmente forte. Seu olhar parou no meu por algum tempo, creio que segundos, então falou:

— Sabe o quanto admiro seu irmão e o quanto gosto de você, não sabe?

— Sei sim. – Respondi suavemente.

— Então? Eu os tenho como uma família e é isso que uma família faz. Ajuda um ao outro. – Respirou fundo, olhou para o lugar antes de falar – Sei que vai ser um pouco difícil adaptar-se a essa convivência, deixar a cidade que sempre viveu, mas pode contar comigo para tudo.

— Eu sei, mas não era obrigação sua. Não é nada para mim, poderia ter dito que não.

— Poderia, mas não o fiz. Sabe que prezo muito pela sua felicidade.

— Eu sei, só queria agradecer assim mesmo.

— Recebo seus agradecimentos. A gente vai fazer isso aqui funcionar. – Disse apontando dele para mim.

Eu realmente precisava descansar. A viagem tinha sido bastante exaustiva e a ansiedade não me deixou dormir bem alguns dias antes.

Nicholas me deu uma cópia da chave do apartamento e me desejou bom descanso antes de sair pela porta, trancando-a após si. Observei o local com uma inquietante sensação no peito.

Deixei-a de lado apenas para tentar descansar. Fui ao banheiro, tomei um belo e quente banho de banheira. Vesti uma roupa confortável e me deitei na cama de casal confortável. Os lençóis caros tinham um toque suave ao meu rosto.

Revirei na cama por algum tempo, devo ter sido vencida pelo sono, pois não percebi quando capotei. Por algum motivo, sonhei com os olhos castanhos de Nicholas. Ainda estávamos na sala. Eu ainda o analisava com meus olhos azuis. Seu sorriso era caloroso e me causava respostas que não conseguia compreender.

No sonho, no entanto, o melhor amigo do meu irmão não ia embora, porta afora, dando-me adeus.

Acordei sobressaltada quando o sonho seguiu por aspectos que ainda eram novos demais para mim. O sol já invadia o local, li as horas no meu relógio e vi que já era outro dia.

Eu devia realmente estar muito cansada.

Sem querer perder mais tempo, fui ao banheiro levando algumas coisinhas que precisaria para fazer minha higiene pessoal. Eu sabia bem como meu cabelo ficava pela manhã, ainda mais quando não o trançava, então me apressei para não encontrar Nicholas pelo caminho.

Eu conseguia ouvir a voz de Nicholas falando ao telefone.

Felizmente, não fui pega com um ninho na cabeça.

Não eram nem sete horas da manhã. Então eu teria tempo de desembaraçar, talvez até escovar o cabelo. Passar um pouco de base e blush para disfarçar a cara inchada de tanto dormir, e ficar apresentável.

Nos planos do dia estava: ir às compras com Nicholas e ir à faculdade entregar os últimos documentos para concluir os trâmites da matrícula.

Depois que me satisfiz com pentear meu cabelo longo e preto, e controlar os fios rebeldes com pomada e paciência, me vesti e fui até a sala.

Pude, finalmente, apreciar a decoração que a paisagem tinha simplesmente silenciado. Aqui tinha uma impressão de Nicholas em quase tudo, desde o linóleo que revestia o piso de madeira, até a escolha da pintura da laje nervurada, tudo se tornava uma extensão da sua personalidade: grave e leve, forte e sofisticada.

Dois grandes sofás de cor cinza em "L" estavam virados para uma parede coberta de pastilhas vítreas negras. Num painel falso que se abria na parede, pude notar uma tela para o projetor lançar a imagem. Sobre a mesa de centro, alguns vasos feitos de metal acobreado.

Também, na parede principal por trás dos sofás, via-se desde a entrada do apartamento até a grande janela ornada de cortinas de linho, uma enorme estante de madeira castanha, que ia do chão ao teto, repleta de livros. Aproximei-me dela para observar, e sorri ao ver que não tinham apenas livros técnicos, mas também livros de romance, suspense, terror e até poesia.

Era uma coleção que causava inveja.

Próximo à janela, uma poltrona Eames Lounge Chair incrível, de couro marrom com base em madeira, convidava para um descanso. Não consegui parar de me perguntar se era tão macia e confortável quanto parecia.

Deixei de admirar o local para observar o homem que, desastradamente, tentava me enganar na cozinha. Completamente distraído pela sua tarefa, talvez não tenha notado que o admirava. Muito menos que, em minha visão, o Nicholas do sonho e o da realidade se confundiam.

Um Amor em East ValleyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora