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Maitê dirigiu por alguns instantes em silêncio e só então decidiu perguntar, com um tom sério na voz naturalmente brincalhona.

— Quer conversa sobre a montanha-russa ou prefere conversar mais tarde?

Irene levou algum tempo até decidir que estava na hora de colocar todo aquele turbilhão para fora.

— Eu e Íris decidimos dar um tempo.

Maitê a olhou chocada e Irene arregalou os olhos, dando bronca por ela ter tirado os olhos da rua. Maitê mordeu o lábio.

— Quer falar sobre? Se não quiser, não precisa.

— Eu sei que não. Obrigada.

— Não precisa agradecer, você sabe que estou aqui por você.

Elas sorriram uma para a outra e Irene respirou fundo, tomando coragem para tentar colocar todos aqueles meses em um resumo.

— Vou tentar resumir. A Íris estava estranha faz meses e tals, e aí ontem recebi uma proposta, que eu por enquanto não posso contar tá...

— Ah relaxa, não precisa. Continua.

— Então, nisso que recebi essa proposta, eu estava super ansiosa pra contar pra ela e aí ela chegou meio bêbada em casa, e você sabe que Íris e bebida não são coisas que funcionam bem juntas.

— Não mesmo — disse Maitê, lembrando da vez que foram as três numa balada e Íris saiu de lá carregada e desmaiou no Uber — Só agradeço que o estômago dela é forte.

— Ah, eu agradeço muito isso até hoje. Mas enfim. Ela chegou assim e me perguntou se eu me arrependia do nosso namoro. Eu sei que eu deveria ignorar ou deixar pra lá, mas não consegui e perguntei o porquê da pergunta. Nisso ela me disse que a gente era muito nova e que não sabia se realmente me amava.

— E você se revoltou.

— Claro que me revoltei, já imaginou se acontecesse contigo?

— Não, nunca imaginei.

Irene ficou sem graça do assunto delicado.

— Perdão, esqueci que tu é aro.

— Ai amiga, relaxa, mas continua a história.

— Bom, me revoltei e nisso começamos a discutir e acabou no que acabou. Ela pediu pra terminar e eu falei que era melhor apenas dar um tempo. E pra terminar, ela foi embora do apê hoje de manhã. Ela não precisava ir embora, mas talvez seja melhor assim.

Maitê ficou em silêncio por um tempo para digerir a situação toda e só então deu sua opinião.

— Sabe Nenê, talvez seja uma oportunidade para vocês duas conhecerem a si mesmas. Já ouviu falar de conhecer a pessoa certa na hora errada? Pode ser que seja isso. Dê tempo ao tempo e, se tiver que ser, será. Você vai ver. Tenta se concentrar agora em fazer seu trabalho como fotógrafa e escritora, em se conhecer como uma pessoa, a se amar pelo que você é acima de tudo e o que vier depois é lucro. Tá bom?

Irene assentiu e Maitê pegou sua mão e deu umas batidinhas.

— Eu sempre vou estar aqui pra você, não se esqueça disso.

— Nunca. Obrigada Têtê.

Elas se abraçaram de lado e depois ligaram o rádio para melhorar o clima.

...

Enquanto isso, Sebás voltou à cidade depois de dois anos morando no litoral-norte da cidade. Era bom morar em cidade pequena e litorânea, mas sentia saudades de sua antiga cidade, então aproveitou a folga de Matteo, seu namorado, para fazer uma pequena viagem. Aproveitou para ligar para Íris, que ficou muito alegre com a possibilidade de revê-lo. 
Horas mais tarde, lá estavam os três, em uma cafeteria da região que estava ali desde a época em que se conheceram.

— É bom rever você. Me faz ter uma nostalgia muito boa.

— Igualmente viu — disse Íris, com a mente parcialmente distraída. 

— Mas e aí? Me conta as novidades, como estão as coisas com sua faculdade? E como está a Irene?

Íris tentou se manter controlada, mas seu coração sofredor falou mais alto e lágrimas começaram a escorrer. Sebás olhou confuso para Matteo.

— Eu falei algo de errado?

— Não — respondeu Íris, com a voz embargada — É que eu e Irene não estamos mais juntas.

Sebás arregalou os olhos e levantou o dedo, indignado.

— Ah não, eu não levei um soco por causa de vocês para no final vocês terminarem. Apesar que o soco foi bem-merecido, mas essa não é a questão aqui!

Matteo colocou a mão em seu braço, tentando acalmá-lo.

— Meu bem, deixe ela terminar de desabafar.

Sebás se desculpou e pediu para ela contar o que havia acontecido. Íris estava bem impressionada pela cena, mas estava ocupada demais sofrendo para demonstrar. No final de todo o seu monólogo, Sebás segurou nas mãos de Íris como modo de consolo, limpando as lágrimas restantes com a outra mão.

— Sabe, uma terapia de casal faria muito bem para vocês. Mas, não acho que você ter guardado para você seu desejo de ter mais experiências uma boa ideia. Poxa, você sabe o quão compreensiva a Irene é, bem cabeça quente, mas ela raramente julga alguém, a não ser que tenha motivos para isso. Você deveria ter se aberto para ela.

— Eu sei, mas... Não queria magoá-la...

— Falar que não sabia se a amava foi bem pior, minha querida. Já imaginou se ela te falasse isso, como você se sentiria?

Íris voltou a chorar e Sebás teve certeza que logo ela iria ficar desidratada de tanta água que saia dela.

— Eu sou a pior namorada da história! O que eu faço agora?

Sebás sorriu para ela e ergueu seu queixo.

— Vai pra luta gata! Reconquista ela. Dá flores, faz uma serenata montada num cavalo, rasteja até ela ficar com dó dos seus joelhos. Seja criativa. Você vai saber o que fazer.

— E qualquer coisa que precisar, pode nos chamar — disse Matteo, piscando para ela, que sorriu de orelha a orelha e abraçou os dois.

— Obrigada meninos, sério mesmo. 

Eles também a abraçaram de volta, como uma forma de dizer "não há de que".


Uma Mesa Para Duas • ⚢ •Where stories live. Discover now