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Chegando no apartamento com o pudim em mãos, Irene já foi logo pegar um prato e uma colher de sobremesa e foi para o escritório.
"Quanto antes eu terminar a edição, melhor vai ser para meu final de semana. Quem sabe posso até planejar um encontro legal para a Íris... Ela parece meio estranha ultimamente. Talvez ela iria gostar." pensou Irene, já comendo a primeira colherada doce.

Horas mais tarde, Irene estava na cozinha preparando o almoço quando ouviu a porta se abrir e deu uma olhada rápida, vendo Íris entrar.

— Chegou cedo hoje meu amor.

Íris mordeu o lábio para conter sua resposta estressada, insegura e quase imediata. Então apenas concordou com um som afirmativo que veio de sua garganta.

— Sabe, tava pensando em irmos fazer algo divertido nesse fim de semana. O que você acha?

— Não sei. Se você estiver afim...

Houve um breve silêncio, Irene percebeu o desânimo na voz de Íris. Não só desânimo, havia algo mais, mas ela não estava conseguindo identificar o que era. 

— Bom... Estava pensando em sairmos da cidade e irmos para o interior, ou algo assim. 

— Pode ser — disse Íris com um suspiro e se jogando no sofá. Irene ficou em silêncio e mordeu o lábio, começando a ficar ansiosa. E com a ansiedade, veio a vontade de fumar. Mas ela respirou fundo algumas vezes e focou no que estava cozinhando. Íris notou a mudança e a tensão em Irene, logo franziu as sobrancelhas, preocupada. 

— Você está bem?

Irene inspirou e segurou o ar por um momento, balançou a cabeça positivamente e expirou. Íris sabia que ela não estava bem, mas estava com tantos conflitos internos que não conseguia decidir o que fazer, acabando por levantar e ir até Irene, a abraçando por trás. Colocou a cabeça encostada nas costas de Irene e ficou em silêncio. Irene apenas apreciou o gesto, se esforçando para relaxar de novo.  Com a atenção focada na panela, Irene continuou a mexer o arroz e a ansiedade foi passando.

Íris lembrou da imagem que o número desconhecido mandou e se afastou de Irene, pegando a colher de sua mão e a colocando no balcão, puxou Irene para trás e desligou o fogo.

— O que você está fazendo?

Íris lambeu os lábios, nervosa.

— Precisamos conversa.

Irene franziu as sobrancelhas, mas fez sinal para elas se sentarem no sofá. Assim que sentaram, Irene curvada com os braços apoiados nas pernas e Íris encolhida no canto oposto, Irene perguntou:

— Certo. Você tem estado estranha a dias, semanas, sei lá. O que está acontecendo contigo Íris?

— Eu tenho estado estranha? É você que não me abraça mais como sempre, que nem sempre me beija quando vou pro estágio ou pra faculdade, é você que está se distanciando Irene. Não eu!

Irene se assustou com a rapidez com que ela falou e com as lágrimas sutis que apareceram, que Íris conteve para não caírem dos olhos. Íris sempre falava devagar, era raro quando falava rápido. Irene estava prestes a responder, mas Íris foi mais rápida.

— Além disso, eu sei que você tem outra. Não adianta esconder. Eu vi a foto de vocês no Starbucks.

Irene estava quase estranhando até que as peças se encaixaram. "Porra, Ayla!" Irene respirou fundo e começou, devagar.

— Eu não me afastei de você e não tenho outra. Você esteve mais distante nos últimos tempos por conta de estar ocupada com o estágio, eu sei e entendo. Apenas quis dar espaço pra você, achei que você iria gostar. Mas pelo jeito fez você surtar. E sobre a foto... Aí senhor, que confusão...

— Que confusão por quê? — disse Íris ainda na defensiva e com lágrimas escorrendo pelo rosto, mas mantinha a expressão impassível.

— Eu não queria ter essa conversa com você agora. Na verdade, não queria ter essa conversa nunca.

Íris ficou ainda mais nervosa e abriu a boca, ofendida. Seu tom aumentou o volume.

— Quer dizer que se a gente se casasse um dia, você ainda assim não falaria dessa foto comigo Irene? VOCÊ TERIA ESSA CORAGEM?

Irene mordeu o lábio vendo o quão puta Íris estava. "Isso vai levar um bom tempo para explicar", pensou Irene e suspirou mentalmente.

— Não é isso. É que...

Irene suspirou e se agitou, se sentando de frente para Íris no sofá.

— Ok, vou te contar tudo. Mas vai levar um certo tempo.

Íris fez uma expressão sombria e disse.

— Eu tenho o dia e a noite toda. Não vou sair desse sofá e nem você, até me contar isso tin tin por tin tin.

Irene teria medo de Íris se não soubesse que ainda restava um resquício de sanidade naqueles olhos assustadores. Ela poderia facilmente matar alguém com aquele olhar. Irene não sabia que ela era tão assustadora... Até aquele momento. Então, respirou fundo e se preparou para contar tudo sobre ela e Ayla.

Uma Mesa Para Duas • ⚢ •Where stories live. Discover now