24: O filho comunista

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Fleamont era britânico. Foi diplomata na Rússia um pouco antes da revolução. Foi para lá que ele e Euphemia recém casados viajaram, voltando para Londres apenas para ter o pequeno filho, um milagre segundo os médicos. James foi gerado na Rússia, a única coisa inglesa em seu nascimento foi o local. E desde pequeno ele sempre se mostrou apaixonado pela cultura e russa. Fleamont observava o menino dos seus olhos observar ainda com um ano as cores da Rússia com os olhos extasiados.

Na noite da revolução tudo mudou. Fleamont sentia a mudança de ar. Os ventos traziam novos rumos para Rússia. Fleamont sabia que o povo russo sofrendo pelo czarismo merecia algo melhor. As luzes piscando, as pessoas do bairro aristocrata em que moravam desesperados e a amizade com os pais da menina ruiva que morava mesma rua.

Euphemia se lembrava das luzes. Do barulho. As bombas e os gritos. Lembra de estar atrás da casa onde moravam com James no colo enquanto aguardava o que Fleamont faria a seguir. Se lembra de ver o casal e a menina os encarando enquanto um jovem de roupa preta e símbolo comunista os ajudava a entrar em uma carruagem.

Quando Fleamont chegou, o jovem o encarou e fez o sinal com a cabeça para que entrassem na carruagem. Eles não tinham opção. Não podiam ter. Entraram na carruagem com a família de aristocratas. As crianças apesar do barulho dormiam.

Quando enfrentaram as ruas sabiam que seria difícil ou impossível fugir. E quando outro jovem tentou conter a carruagem viu uma explosão que destruiu tudo. Naquele momento James foi atirado para longe. Naquele momento, Euphemia e Fleamont foram atirados para fora da carruagem desacordados, salvos por Irina que praticamente herdeira do czarismo tinha um resquício de influência.

Mas James ficou ali. Nikolai o procurou. Mas a névoa que o encobria foi a mesma névoa que possibilitou que Mikhail o encontrasse. E quando o pequeno garotinho abriu os olhos em uma maca, enquanto era velado por um Mikhail que dormiu ao lado dele viu Lênin que após o exílio estava, finalmente, em casa. O pequenino olhou para o homem que vestia a foice e o martelo e encarou o jovem que estava do lado dele e o olhava com os olhos marejados.

Naquele momento, James pequeno e frágil descobriu que seria como aqueles momentos e ele sempre escolheria a Rússia.

Euphemia encarava o jovem. Ele parecia calmo, mas a guerra deixava marcas. Ela sabia disso. Fleamont estava sentado, cobrindo o rosto com as mãos.

Irina, Nikolai não sabiam o que dizer. Aquele jovem defendia o que havia destruído a vida deles. O jovem era comunista até os ossos.

Lily por outro lado estava encarando James como se algo tão precioso não pudesse ser tocado. O ar para ela havia parado no momento em que ele entrou na sala.

James os viu. Ele viu o colar. Ele sabia. Mas também viu o olhar de quase todos em seu broche e sabia que talvez jamais fosse aceito. Vê-los não era uma prova de que tinha alguém. Não era prova de nada. James tinha uma família.

Ele resolveu sair da sala e ir para fora. Não sabia se alguém iria atrás dele e naquele momento, ele não sabia. Quando chegou na varanda da casa, ele observou a rua. Nem sabia o que estava fazendo ali. Ele havia saído da casa dos irmãos para ir para seu pequeno quarto alugado buscar as suas coisas e quando se deu conta já havia conseguido o endereço da namorada de seu irmão.

Lily precisava de una ligação. E ela a fez. Quando chegou na varanda observava o jovem que ela conheceu anos atrás de costas.

- Aparecer na casa de aristocratas vestido assim? Você é muito corajoso Mikhail. – James sorriu ao ouvir a voz dela.

- Não temos muitas roupas, princesa. – Ele respondeu sem se virar para ela.

Lily se aproximou colocando a mão nas costas dele. James suspirou fundo. Ele tinha enfrentado uma guerra, mas nada fazia tremer tanto quanto aquele momento.

Lily o observou se virar para ela. Os olhos vidrados nos dela. A respiração falhava. Ela sorriu.

- Então, você é um Potter? – Lily olhou para ele, tentando de alguma forma trazê-lo para realidade dos pais.

- Não, eu sou Mikhail. Filho de Mikhail. Sou russo. Se você reparou como eles olharam para o filho comunista, a senhorita entendeu? – James olhou para ela.

- Você sabe que não é tão simples. – Lily observou. – Queria falar comigo? Quer falar sobre tudo?

- Você o ama? – James a encarou sério. Ela estava a centímetros dele.

Lily sentia os olhos dele aguardarem por uma resposta. Ele estava ali por ela.

- Amo. – Lily respondeu séria. Não podia mentir, realmente amava Remus. – Como o melhor amigo que eu já tive em anos. O homem que passou um inferno ao meu lado.

James sabia que aquele era Remus. Ele era leal. Ao extremo.

- Entendo. – James assentiu. – Preciso ir.

James se virou de costas e sentiu a mão dela tocar seu ombro.

- Tudo que eu escrevi naquela carta é verdade. – Lily disse observando ele parar e se virar olhando para ela como se mundo parasse. – Eu amo você. Eu quero estar ao seu lado. Eu já senti como é te perder. Duas, três vezes. Não pode virar as costas para mim novamente.

- Eu não posso te dar a vida que você merece, Lily, não ficarei em Londres. Voltarei para a Rússia. Serei a oposição de Stalin enquanto ele viver. – James disse sério. As lágrimas rondando os olhos enquanto via Lily o encarar surpresa.

Ela sabia, quando o viu de uniforme. Ele sempre acreditou na igualdade. É claro. Ele iria cumprir o destino que o pai preparou para ele. Mas o destino dela era ele.

- Eu vou com você. – Lily disse sorrindo.

- Não pode fazer isso. – James segurou a mão dela encarando os lábios próximos.

- Não estou pedindo a sua permissão. – Lily respondeu abrindo um sorriso largo.

James se aproximou beijando suavemente os lábios de Lily. Que segurou o rosto dele, aprofundando o beijo.

Duas almas destinadas a ser.

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