10: A visão da prisão

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A cela escura, Lily havia sido jogada lá. Literalmente, eles a empurraram para aquele lugar que era composto por apenas um banco. Ela se levantou depois de ter caído de joelhos e se sentou no pequeno banco. Ela se cobriu com o casaco que havia levado no dia. A Rússia era fria e aquele lugar ainda mais.

Lily não chorou quando foi levada até ali. Ela se manteve intacta apesar das mãos tremerem. Ela era forte e não fez nada errado. Os seus antepassados fizeram. Eles deixaram o povo russo passar fome enquanto construíam castelos, mas Lily não. E nem sua mãe que depois de perder o amor de sua vida se casou com seu pai, que Lily sempre percebeu ser apenas um bom amigo dela. Irina abriu mão de Mikhail por una família que não existiria mais dois anos depois.

Foi quando se lembrou dele. Lembrou como ele sorria para ela e ajeitava os cabelos desarrumados. Lembrou de como desde a primeira vez que ouviu aquele nome, algo dentro dela mudou. Lembrou dele discursando sobre os ideais de Karl Marx, ela o admirava, ela admirava como ele acreditava profundamente nos ideais de igualdade entre as pessoas e na soberania dos trabalhadores. James era um idealista. E ela se apaixonou por ele.

Mesmo que as pessoas que usassem o mesmo uniforme que ele quisessem a matar.

Lily observou o ambiente. Apenas ela e o banco atrás de grades de ferro. O cabelo preso já havia se soltado. A sensação de impotência se unia a coragem de aceitar o que viesse. Ela não era ingênua, sabia que não conseguiria fugir daquele lugar, ela era a herdeira do inperio russo se fosse pensar pela linha de sucessão do trono. Um trono que ela nunca quis, um trono que nunca deu nada a ela e nem ao povo russo.

- Água, princesa! – Lily observou o homem colocar o copo de água e um pedaço de pão por debaixo na grade. Ele era um pouco mais baixo que James e tinha a pele pálida como se nunca visse o sol. Os cabelos pretos longos estavam soltos. Era o homem que tinha a prendido.

Ela não foi pegar a comida, não podia confiar em nada que viesse do homem que a prendeu e precisava ficar viva caso um milagre acontecesse.

- Você é um tola se acha que o velho Mikhail vai arriscar os filhos prodígios para tirar você daqui. – Ele disse com um sorriso zombeteiro. Lily percebeu a crueldade nos olhos dele. Ele estava se divertindo com a situação. Snape observou aquela mulher o olhar, ela tinha a arrogância clara nos olhos –  Você não os conhece. Aqueles garotos foram criados para serem as estrelas mais brilhantes da Rússia. Se Lênin tivesse conseguido fortalecer Trostky, atualmente Mikhail seria líder do governo ao lados dos meninos de ouro órfãos dele.

Lily bufou. Aquele homem queria desestabiliza-la claramente. Ela não podia esperar nada de James. Ele não devia nada a ela, ela mentiu para ele. Ele não devia salvá-la. Ele devia odiá-la nesse momento.

- Me deixe em paz. – Lily disse mirando aquele chão fria. Tudo ali era frio. E ela sentiu saudade de sua casa, da lareira, dos pais, da risada de Marlene e do sorriso de James.

O sorriso que jamais seria direcionado para ela novamente.

- Sua tola!! Não fale assim comigo! – Severo ergueu a mão para segurá-la e Lily desviou o olhar quando ouviu uma voz.

- NÃO TOQUE NELA! – Quando Lily se virou James estava segurando o braço do guarda. Ele estava com a expressão furiosa. Foi então que o guarda sorriu para ele.

- Veio para a morte, Mikhail? Por uma mulher? Achei que era mais esperto que isso. – Snape falava olhando para James.

Lily não podia acreditar no que estava ouvindo. Ela não deixaria, ela não podia deixar. Ele não se sacrificaria por ela.

- Saia daqui, Severo. – James estava ordenando e o guarda sombrio foi embora. Não sem antes dizer.

- Nem pense em ajudá-la a fugir. Sua família estaria morta antes que conseguisse. – Snape disse sorrindo.

- Eles são mais espertos que você. – James retrucou convicto.

- Ah sim, seu pai, Alexei e Igor sim. Mas o pequeno irmão caçula Peter. Hm, esse estaria morto antes de você dizer Stalingrado. – Lily observou que mesmo na escuridão o olhar de dor de James era perceptível.

Quando Severo partiu. James se virou para olhá-la e não conseguiu. Então, Lily fez a única coisa que conseguiu pensar em fazer. Se aproximou das grades e segurou as mãos dele. Ele estava com a cabeça baixa sem olha-la, fitava os próprios pés. Ela apertou as mãos dele, estvam frias.

- Não faça nada que possa te machucar! Está me ouvindo? – Ele a encarou. Os rostos tão próximos que sentiam a respiração um do outro.

- É uma ordem, imperatriz? – Lily sentiu a dor na voz de James enquanto ele dizia aquelas palavras.

- James, eu nunca quis te magoar. – Os olhos encharcados pelas lágrimas.

- Mentiu para mim. – Ele a encarava. – Mentiu sobre quem você era. Sobre tudo.

- Não, você sabe quem eu sou. Essa é quem eu nunca fui. Eu nunca fui uma aristocrata. Eu nunca quis isso. – Lily apertava as mãos dele contra o queixo como se soltar fosse fazê-lo desparecer.

- Lily. Eu não posso. – James se afastou dela. Nessa hora Lily entendeu. Ele faria tudo que podia para ajudá-la, mas jamais a perdoaria por mentir. Estava claro. Ela havia perdido o único homem que havia amado.

- Eu ia te contar e aí?– Ela estava com raiva do mundo. – Você ficaria comigo? Deixaria a Rússia, a sua Rússia? – Ela estava furiosa com ela mesma por ter sido tão burra. Ele era um bolchevique. Ela tinha se esquecido disso? O povo acima de tudo.

- Não estaríamos nessa situação agora. – Ele apenas disse, simples e cruel. – Mas nós vamos te tirar daqui. Você vai poder ir para casa.

- Minha casa é você! Não era a Rússia, nem a Inglaterra, minha casa se tornou você na primeira vez que eu te vi patinar, quando eu nem te conhecia. Eu sabia no momento em que vi a placa de São Petesburgo, que eu estava em casa, porque você estava aqui. – Lily disse enquanto ele olhava novamente para o chão para não mostrar as lágrimas que já rolavam. O coração de James tinha se partido.

- Não Lily, a minha casa é a Rússia e você não pode estar na Rússia. – James havia aprendido que palavras podem ferir e ele precisava fazer com que ela nunca mais olhasse para trás. Ela jamais deveria saber dos sacrifícios feitos para ela partir, para ela sobreviver. Tanto para a segurança dela quanto para a saúde mental, James não queria que ela lidasse com qualquer culpa. Ela era inocente. E ela foi e sempre seria o amor de sua vida. – Em breve, você vai sair daqui, senhorita Romanov.

Lily chorou encostada ao banco. Ela tinha perdido muito. Ela o tinha perdido.

- Se despediu da princesa? – Snape estava na recepção da prisão.

- Iuri, você é o novo guarda da cela da Romanov. – James apenas disse e o guarda se dirigiu até a sela batendo uma continência a James.

- Não pode chegar aqui e fazer mudanças assim. – Snape rosnou para James que sorriu para Severo.

- Minha patente é mais alta que a sua, caro Severo. Agora se retire da minha frente. – James viu o homem endurecer o rosto e completou – E me avise assim que Josef Stalin chegar, estarei em minha casa. Se ele quer me ver, que seja recíproco.

James saiu da prisão aliviado e destruído. Aliviado por saber que Lily, a sua Lily estava bem. Destruído por tê-la ferido tanto. Mas era necessário. Momentos que são cruciais para a vida. O garotinho encontrado perdido vagando pelas ruas de São Petesburgo com um escapulário na mão. Estava chorando pelas ruas de São Petesburgo novamente, mas dessa vez, ele precisava salvar a todos e não podia perder mais ninguém.

James ouviu o barulho dos cacos se quebrando. O seu coração tinha milhões de pedaços. Como os tetos de cristais do império russo que os seus camaradas derrubaram para libertar o próprio povo.

James amava seus ideais. Mas a partir do momento em que conheceu a verdade sobre Lily, a liberdade que ele achava que tinha se transformou em uma prisão.

Lily estava presa temporariamente.
James estava preso para sempre.

São Petesburgo Where stories live. Discover now