22: A carta de um amor que nunca foi

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James encarava a porta. Ao seu lado Mary dormia profundamente. Ela se tornou algo tão importante para ele. Um sentimento sólido. De amizade e afeto.

Na mochila ele carregava o que havia sobrado de qualquer coisa que tinha naqueles tempos. A carta. A carta de Lily. Aquele que ele nunca leu.

Ele passou por tanto e por tanto que talvez houvesse chegado o momento. Suspirou lembrando dos cabelos ruivos. Da risada fácil. Agora a carta estava sem.o envelope, ele havia a salvado no bolso. Estava quase despedaçada, mas ainda era possível ler. Ele havia passado dores demais. As palavras de Lily Evans o sustentaria ou traria mais dor. Era o preço que ele aceitaria pagar.

"Mikhail,

Eu cresci para a acreditar que mundos distantes não se chocam. Que mundos distintos não se tocam ou riem juntos. Eu cresci para a acreditar que o destino é definido pelos laços de sangue. E você. Você tornou tudo que acreditava em mentira. Com seu ar de inteligência e demonstração de generosidade imensa. Você ocupa todos os espaços. É simplesmente você. Não há ninguém que não note quando o herdeiro camarada do império russo passe."

James riu. Lily era uma grande escritora de cartas. E então, continuou lendo.

"Não posso mensurar os danos que eu causei a você e sua família. Os danos que minha mãe causou ao seu pai. Fui irresponsável e egoísta, porque eu me apaixonei, mas o amor não é egoísta e seu pai me provou isso de tantas formas. Ele foi um grande homem. Ele os criou para serem ainda melhores."

James lembrou do amor do pai a mãe de Lily quando jovem. Ele a deixou ir. Ele salvou a vida dela e da família dela que sempre o odiou.

"Mikhail, eu te amo e sempre vou te amar, não importa o tempo que passe. Mesmo que você jamais me perdoe. Eu te amo. Sempre estarei a sua espera."

- Um amor assim acontece apenas uma vez. – A voz de Mary ecoou na cabeça de James. James se lembrou que escreveu para Lily, mas ela nunca deve ter recebido as cartas. Cartas perdidas no tempo de um amor que nunca foi.

- É. Meu pai morreu por amor. – Ele respondeu seco.

- E não é o que os seres humanos melhores fazem? – A médica respondeu o encarando. Se dependesse dela viveria vendo os olhos de James para sempre, mas desde do início ela sabia que ela jamais o alcançaria.

James sorriu. Os fogos avisavam. A Alemanha havia se rendido. A guerra havia acabado.

Ele partiria para Treveris no dia seguinte. Na fonte esperaria quem viesse.

Não tinha dúvida que eles se lembrariam se ainda vivessem e ele queria acreditar que não perderia mais ninguém.

São Petesburgo Where stories live. Discover now