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POV RAFE

Ando de um lado para o outro no corredor do hospital veterinário, enquanto Blair está sentada na cadeira de espera, com Lua adormecida em seu colo.

Não nos falamos desde que chegamos, apesar de saber que ela mentiu para mim, nossa última discussão não teve muitos fundamentos, até porque não costumamos brigar.

Acho que tudo isso aconteceu por conta do nosso cansaço mental, das nossas preocupações e irritações. Estamos sob ameaça, nossos trabalhos e a vida estão tomando muito de nós, queríamos apenas um descanso e paz.

Mas parece que é impossível ter paz quando se é um morador de Outer Banks, principalmente se você tiver o sobrenome Maybank ou o sobrenome Cameron.

- Senhor Cameron — a veterinária se aproxima de mim e vejo Blair se levantar com cuidado da cadeira, tentando não acordar nossa filha que dormia calma.

- Boa noite — Blair força um sorriso — como está a Lilo?

- Então... senhora Cameron, não tem jeito mais fácil de dizer isso — ela fala devagar e eu quando dou por mim, eu e Blair já estamos com os dedos entrelaçados de forma firme e forte — a cadela de vocês faleceu, ela parece ter sido envenenada.

- Envenenada? — pergunto confuso — Isso é impossível.

- A casa de vocês pode ter sido invadida, infelizmente, isso é algo muito comum em Outer Banks, principalmente para moradores de casas grandes.

- Mas nós moramos em apartamento — Blair fala em voz baixa — Isso seria impossível.

- Bom! Pelo que conseguimos achar, ela morreu porque comeu algo envenenado — a médica lê o prontuário — torta de mamona e farinha de osso, são como fertilizantes para plantas, mas é mistura letal para cachorros, parece ter sido...

- Proposital — completo em voz baixa — mas não consigo pensar em porque fariam isso com ela.

Olho para Blair, que respira fundo e tem os olhos arregalados, como se soubesse o que está acontecendo, depois olho para a médica, que nos observa com pesar no corredor do hospital veterinário.

- Rafe — Blair chama a minha atenção — quando eu entrei em casa hoje, a Lua havia me dito que você tinha pego a ração nova da Lilo.

- Sim, entregaram na porta de casa — falo pensativo — Na verdade deixaram lá...

- A ração dela foi sabotada — Blair fala me encarando — ele a matou Rafe, ele matou a Lilo para nos atingir.

Minha mulher fala e anda até a cadeira, pegando Lua no colo e andando com ela até o lado de fora do hospital.

- Acho que vocês já conseguiram achar o culpado — a médica respira fundo — eu sinto muito, senhor Cameron. A morte de um parente canino é sempre muito dolorosa.

- Ela havia sido um presente de um ano de casamento — forço um sorriso — foi nossa primeira filha.

- Então a Lilo nunca será esquecida — a médica força uma risada — tenha uma boa noite, senhor Cameron.

- Uma boa noite — falo andando em direção ao lado de fora, onde vejo Blair segurando Lua no colo.

Minha esposa parece abraçar forte a minha filha adormecida enquanto olha para a estrada vazia.

- Amor — falo me aproximando dela.

- Eu não acredito que ele foi capaz de fazer isso — ela fala chorosa — porra, era um animal, um cachorro! Como alguém tem coragem?

- O Barry é um psicopata, Blair — falo a abraçando — ele não é a pessoa que se importa se é criança, cachorro ou velho, ele simplesmente mata.

- Eu preciso acabar com esse homem.

- Nós vamos — grudo nossas testas — eu prometo, nós vamos acabar com ele.

- Rafe, se ele fez isso, pode significar que vai sabotar cada coisa que pedimos — Blair fala em voz baixa — estamos cercados. 

- Nós vamos resolver isso, tá bom? — dou um beijo no topo de sua cabeça — Vamos para casa? — a guio até o carro, onde ela coloca Lua no banco de trás e se senta no banco da frente.

Tento disfarçar as minhas lágrimas enquanto dirijo de volta para casa, não sei como vamos contar a Lua ou a Lili, não sei como vou acordar todas as manhãs sem tropeçar na cadelinha pastor alemão.

As lembranças de quando peguei Lilo me invadem, assim como as lembranças de Lua com ela. Seus primeiros passos foram quase com o auxílio da cachorrinha, que correu até Blair em uma noite e Lua simplesmente levantou e foi atrás. 

As lembranças da minha filha dando comida para ela por baixo da mesa, quando simplesmente falávamos que não, Lua se deitando em sua cama e chamando Lilo durante a madrugada para se deitar com ela. 

- Estamos em casa? — a voz de Lua invade meus ouvidos e me tira de meus pensamentos 

- Não filha, estamos chegando — falo devagar 

- E onde está a Lilo? — ela pergunta e Blair vira a cabeça na minha direção.

Nos entreolhamos por alguns segundos, até que eu entro com o carro da garagem do prédio. 

- Mamãe — Lua fala com a voz chorosa e Blair sai rapidamente do carro.

- Amor — Blair fala pegando Lua no colo, a olhando nos olhos — a Lilo foi para o céu. 

- Mas ela está bem — falo saindo do carro e andando até a minha esposa e a minha filha — o céu é melhor que aqui. 

Os olhinhos de Lua se enchem de lágrimas, fazendo com que eu e Blair voltemos a chorar. 

- A gente não vai mais ver ela? 

- Não amor... — Blair fala devagar, enquanto Lua apoia a cabeça e seu ombro — mas vai ficar tudo bem, ok? 

- Mas mamãe, eu estou triste — ela limpa a lágrima com a mãozinha.

- Vamos subir? — falo acariciando os cabelos da minha filha — Você pode dormir com o papai e a mamãe hoje.

- Posso?

- Claro que pode. — Blair fala enquanto anda com ela até o elevador.

Subimos até nossa casa, guardei as coisas de Lilo, joguei a ração fora e escondi a arma que Blair havia deixado em cima da cama. 

Minha esposa tomou banho com Lua e tentou dormir com ela, mas a minha filha está agitada demais para conseguir dormir. Enquanto ando até o banheiro para tomar o meu banho, ouço Lua perguntar a Blair para onde os cachorros vão quando morrem e se lá é legal, o que me faz dar uma risada sincera.

- Eles vão para o céu.

- E como é lá? 

- É... é um lugar com vários petiscos e brinquedos para eles brincarem — dou uma risadinha do banheiro, enquanto escuto Blair inventar um paraíso canino. 

Termino meu banho, me seco, coloco um pijama e me deito ao lado de Lua e Blair, que ainda conversam.

- Papai — minha filha se vira para mim — a mamãe disse que a Lilo vai brincar para sempre.

- Sim, com vários brinquedos — falo sorrindo, vendo que a minha filha já se confortou com a partida da nossa cachorra. 

- E ela vai comer vários petiscos — Blair força um sorriso — ela está se divertindo. 

- Um dia nós vamos encontrar a Lilo? — Lua pergunta 

- Vamos, filha — dou um beijo em sua cabeça — mas eu espero que demore...

Blair Maybank (1 e 2 temporadas)Where stories live. Discover now