No Coração De Calisto - O Poder Adormecido [+12]

03

O acampamento estava correndo perfeitamente. Várias horas de estudo por dia e tiravam o início do anoitecer e a noite para descansar. Lya e Zoe fizeram uma amizade importante com Ella, Axel e Rasmus.
Estava correndo tudo como o esperado para Lya. Estava conseguindo manter o seu segredo guardado e em alguns momentos ela até se esquecia disso.
Mas as palavras de Rasmus ainda ecoam na cabeça dela. O fato dela ter ouvido ele chamar o multímodo de "aberração" deixava ela muito mal. Mas ela não poderia deixar isso transparecer. Afinal, por que ela se sentiria mal pelas palavras do Rasmus, se ela não é o multímodo?
Era isso que ela devia manter em mente.

Mas algo estranho começou a assombrar as noites de sono dela. Ela estava tendo sonhos (mas que estavam mais pra pesadelos), onde aparecia um velho, com uma barba grande e branca e ele dizia que: "Você precisa controlar. Você precisa manter sob controle. Vai chegar a hora certa. Você precisa se preparar." Com aquela voz assombrosa e penetrante. Era assim todas as noites e ela sempre acordava assustada e com a respiração ofegante, como se tivesse corrido uns cem quilômetros sem parar.
Ela estava na mesma barraca que Zoe e Ella. As pobres coitadas acordavam sempre assustadas com o grito que Lya dava.

Z-Ai, Lya! De novo?! -Zoe dá um pulo e se apoia em um dos braços.

E-Lya, isso não é comum -Disse Ella, se sentando no colchão -, nós estamos no acampamento a três semanas e todas as noites é a mesma coisa!

Z-O que tem nesses pesadelos, Lya? -Pergunta Zoe.

L-Eu já disse: Eu faço brotar uma árvore muito alta. Conforme a árvore cresce ela me leva pro topo. Eu fico de pé em um galho, esse galho quebra e eu começo a cair. Quando eu bato no chão eu acordo assustada. -Explica Lya, que, claro, não conta a verdade.

E-Será que é um tipo de aviso? -Acrescenta Ella.

Z-Mas aviso do que?! -Questiona Zoe, se sentando no colchão.

E-Sei lá! -Deu de ombros- Mas não é comum sonhar com a mesma coisa todas as noites! As pessoas sonham com coisas diferentes...

L-Não sei o que é isso. Mas me fez perder o sono. -Passa as mãos nos olhos.

E-É, eu também. -Concorda Ella.

Z-Vamo lá pra fora?

L-Pode ser!

Ao saírem, encontraram Axel sentado em um tronco de árvore, com uma lâmpada, quase uma lamparina, iluminando ao redor.

E-Axel? O que tá fazendo aqui?! -Pergunta Ella, ficando de pé ao lado do irmão.

A-Perdi o sono. Mas e vocês? O que as moças fazem acordadas a essa hora? -Ele estava com um pequeno galho na mão enquanto mexia na terra com ele.

L-Perdemos o sono também. -Responde Lya.

Z-Lya está nos acordando todas as noites desde o início do acampamento. -Explica Zoe.

A-Por que, Lya?!

L-É que... -Ela faz uma pequena pausa- Eu estou tendo o mesmo pesadelo todas as noites.

A-Nossa... Mas o que acontece nesses pesadelos? -Pergunta Axel, curioso.

L-Eu faço brotar uma árvore -Lya se senta ao lado dele no tronco - e ela é muito alta. Eu estou no topo dela em cima de um galho e esse galho quebra e eu começo a cair.

E-Aí ela cai no chão e acorda assustada e cansada, da um grito e acorda a gente. -Conclui Ella.

L-Pois é... -Lya sorri, tímida.

A-Isso tem que significar alguma coisa. As pessoas sonham coisas diferentes. -Afirma Axel.

E-Sim! Foi o que eu disse a ela.

R-Porra, vocês não dormem não?! -Disse Rasmus saindo da barraca.

Z-É, nós perdemos o sono. -Zoe arruma os cabelos castanho claros atrás da orelha. Ela parecia se interessar muito por Rasmus...

R-Mas não precisam acordar o acampamento inteiro né! -Ele diz firme mas sussurrando.

E-Que exagero, Rasmus! Só tem nós aqui.

R- -Ele dá de ombros.

L-Mas olha -Lya aponta para o horizonte-, o sol já está nascendo.

A-Nós devíamos ter descansado mais. Hoje é dia de prova prática.

L-Merda, eu tinha esquecido completamente disso!

Z-Ah, mas não vai ser nada de tão absurdo assim. É algo natural nosso, não tem como dar errado.

Mas talvez não fosse tão fácil assim. Lya percebeu no mesmo instante, que talvez o aviso do velho fosse justamente pra ela se controlar durante a prova. Droga! Por que não havia pensado nisso antes? Agora era tarde.
Ela seria uma das primeiras a fazer o teste prático. Durante as aulas ela demonstrou que era muito boa no que fazia, assim como seu pai já havia dito várias e várias vezes a ela.
Lya não costumava sentir medo de coisas tão simples, mas dessa vez era completamente diferente. Mas ela teria que manter a calma. É como Zoe disse: "É algo natural nosso".

Zoe e Axel fizeram o teste antes dela. Os dois se sairam muito bem.
A prova consistia em algo simples, mas essencial. Controlar os quatro elementos. Lya fazia isso com tanta tranquilidade como respirar. Era o que mais gostava de fazer.
Então chegou a vez dela.
O local da prova era no meio de uma floresta. Havia um pequeno pedaço redondo de concreto no chão e em volta dele, quatro pilares. Em cima desses pilares havia um recipiente preto e dentro deles um pouco de cada elemento. Eles giravam e formavam uma espécie de redemoinho.
Lya se posicionou no centro da roda e começou seu teste. O último que ela controlou foi o fogo e ela ficou muito feliz por ter conseguido.

L-Eu consegui! Zoe, eu consegui! -Ela disse ainda no meio dos pilares.

Z-Sim! Você conseguiu!

Lya continuou olhando para a amiga, mas em sua mente surgiram imagens do fogo. Como se o pensamento dela tivesse se estendido para além do teste.
Lya estava perdendo o controle do segundo poder. O de controlar o cérebro. Então, as mesmas imagens que haviam surgido em sua mente se tornou o que Zoe começou a ver.

Z-O que é isso? Porque tá tudo pegando fogo?! -Ela começa a ficar desesperada.

E-Zoe, não tem nada pegando fogo! -Ella começa a ficar preocupada.

Z-Claro que tem! Olha! Tá tudo queimando! -Disse praticamente gritando.

Lya ficou preocupada com a amiga. Os pensamentos sobre fogo de sua mente sumiram e ela finalmente esqueceu o teste. Assim que se aproximou de Zoe, a visão de tudo queimando também sumiu.

L-O que foi, amiga? O que aconteceu?! -Ela segura o rosto de Zoe.

Z-Parou. Tava tudo queimando gente! Eu vi!

R-Não tava não, Zoe...

A-Será que algum engraçadinho do cerebrum tá aqui?!

L-Vou olhar ao redor.

A-Vou com você.

Os dois saem e vasculham o perímetro.
Nem a própria Lya suspeitava que era ela o "Engraçadinho do cerebrum".

A-Não. Não tem ninguém aqui. Os líderes do nosso grupo estão espalhados em volta e nenhum deles viu ninguém por perto.

E-Então, o que aconteceu com você, Zoe?