14 | Você matou a batchan.

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Eram 06h00 da manhã, e sim, eu tive que olhar para o relógio. Não foi porque eu quis, e sim porque o Augusto falou que as galinhas tinham que comer às 05h30 em ponto, nem um minuto a menos e nenhum minuto a mais.

A minha vontade de matar o Augusto voltou quando eu vi o horário, mas respirei fundo e contei até 20. E também eu tenho que esperar o Augusto me levar para a loja de construção que fica perto do condomínio que eu morava e tem um senhor que trabalha nessa loja que eu considero como o meu avô, e ele me considera como neta.

Quando eu fui lá para comprar madeira para eu fazer uma casinha de pássaro para o trabalho para o colégio, o senhorzinho sempre me dava madeira de graça. E eu tive que pegar muita madeira, porque cada vez que eu tentava construir, eu batia o martelo no lugar errado e a casinha desmoronava.

Foi frustrante todas as vezes que tive que começar a construir a casinha do zero.

Então quando terminei de ajudar o Augusto a alimentar os animais, voltei para casa e fui fazer um café pra mim. Eu não gosto muito de café, mas tenho que ficar acordada e se eu deitar naquele sofá é muito provável que eu vá dormir.

Enquanto esperava a água ferver, um cara entrou na cozinha falando um monte de coisa que não conseguia entender.

- batchan do céu tenho que te contar um babado que aconteceu com a senhora Bernadete! Sabia que ela traiu o amante dela? Ela teve a cara de pau de confessar para o mari... - ele parou de falar quando me viu. - Quem é você e o que você fez com a batchan?

- eu que deveria perguntar! Por que você entrou na casa do meu avô sem bater na porta? Cadê a educação? - digo e o rapaz que estava na frente da mesa continuou calado. - Eu vou ligar para a polícia se você não sair.

- eu que vou ligar! - ele disse. - você matou a batchan!

- como que é?

- Bárbara, por que você está falando sozinha? - Augusto entrou na cozinha e nem reparou que tinha um cara totalmente desconhecido do lado da mesa. Apontei com a cabeça para o cara e o Augusto levou a atenção ao desconhecido. - O que você está fazendo aqui, Jonathan?

O cara desconhecido tinha nome, e era Jonathan.

- Vim tomar café da manhã, como eu faço todos os dias! - Jonathan/desconhecido diz como se a presença dele ali fosse a coisa mais óbvia.

Nesses dois dias que dormi aqui, eu nunca fiquei sabendo de Jonathan nenhum.

- Quem é ele? - perguntei.

- Ele é meu irmão. - Augusto respondeu.

- Quem é ela? - o desconhecido perguntou.

- Ela é neta do senhor que eu trabalho. - o Augusto respondeu a pergunta dele.

- sabia que ela queria chamar a polícia porque eu entrei sem bater na porta? Que absurdo. - o Jonathan diz colocando as mãos na cintura e ri daquilo.

- eu já lhe avisei que isso é uma das suas manias ridículas e já falei para você parar com isso. - Augusto diz para o seu irmão, e ele respondeu " tá tá, já entendi. "

Agora reparando bem, eles realmente aparecem. Eles têm a mesma cor de cabelo, às voz de ambos são quase iguais.

Desliguei o fogo quando percebi que a água já estava fervendo.

O Augusto explicou que a batchan é o meu avô, mas reparei que ele estava prestando mais atenção em mim do que o irmão dele estava falando.

- ela é linda né? - Jonathan fala é me deixa surpresa e envergonhada.

- Do que você está falando, Jonathan?

- Se eu não fosse gay, eu pagaria ela. - ele coloca uma mão na cintura e a outra na cintura. - Já sou assumido desde os meus 16 anos, meus pais não gostam muito mas eu tô foda-se para eles. Não preciso de nenhum dos dois na minha vida, não preciso do dinheiro deles. - e também não posso pegar você, porque sou casado.

- eles sentem sua falta Jonathan, ambos já se arrependeram por ter falado aquilo para você quatro anos atrás. - Augusto disse mas o irmão apenas negou com a cabeça.

- eles não sentem a minha falta, nunca sentiram. Eles me deixaram trancado no quarto quando eu me assumi gay pra eles, o nosso pai dizia que isso era " modinha " e isso passaria se eu ficasse trancado no meu quarto.

Nossa.

- ele já se arrependeu disso.

- em 31 de fevereiro eu acredito nisso. - ele diz e o Augusto revirou os olhos. - eu não desejo nada de mal para o nosso pai, eu quero que ele seja feliz, mas eu quero que ele seja feliz bem longe de mim.

- eu converso com você depois sobre um assunto. - Augusto disse.

- Quem morreu? Nossa mãe está com problema de saúde de novo e ela pediu para você me procurar para pagar novamente o tratamento dela? Não, o nosso pai voltou a beber e está no hospital quase morrendo e ele quer que eu pague o tratamento dele?

- NÃO! Para de pensar isso sobre os nossos pais, eles mudaram caralho! - o Augusto gritou.

Meu deus por que eu ainda estou aqui?

O clima estava muito pesado ali na cozinha, então eu disse.

- Querem café?

- Perdi até a fome. - o Jonathan disse olhando feio para o seu irmão. - quando você sempre toca no assunto dos nossos pais, eu perco a fome.

- Eu vou ligar o carro. - Augusto diz saindo da cozinha.

- onde o tongo vai? - Jonathan perguntou.

- Ele vai me levar para loja de construção, eu preciso comprar algumas cerquinhas.

- você andou pulando algumas e acabou quebrando algumas né? - Ele diz e eu apenas arregalei os meus olhos e neguei com a cabeça. - tô zoando, posso ir com vocês?

- se o seu irmão não se importar...

- Victuxa não vai se importar.

Victuxa... que apelido estranho.

Tenho certeza que o Augusto não gosta desse apelido, nenhum pouco.

- tá bom então, vamos.

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Continua...

𝗠𝗬 𝗩𝗔𝗖𝗔𝗧𝗜𝗢𝗡 𝗢𝗡 𝗧𝗛𝗘 𝗙𝗔𝗥𝗠 | babictorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora