39_ Eu te amo.

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- Você não pode simplesmente dizer isso. - Ele franziu as sobrancelhas. - Você não entende...

- Me deixe entender. - Pedi.

Ele permaneceu em silêncio, parecendo estar em uma briga interna. Engoli seco mais uma vez e abaixei o rosto antes de voltar a erguer o mesmo para encarar o Theo.

- Eu nunca contei isso para ninguém. - Ele admitiu assim que os nossos olhares se cruzaram.

- Eu posso ser a sua primeira? - Sugeri com receio.

- Em tudo que você quiser. - Ele respondeu, dando um leve sentido de humor para a conversa.

Pisquei confusa, mas mesmo assim permaneci em silêncio.

- O meu... Ele... - Ele falou baixinho franzindo a testa e não conseguindo me encarar.

Eu respirei fundo me aproximando do Theo.

Eu não posso pedir algo tão grande dele sem dar nada...

- A minha mãe engravidou muito cedo de mim. - Contei. - Com 15 anos, especificamente. A família dela não foi nada compreensiva ou se importou em ajudar com alguma coisa na época, e nem agora, pra ser sincera. Eles chegaram até a expulsar a minha mãe de casa por um tempo enquanto ela estava grávida... Eu nunca conheci os meus avôs e apesar da minha mãe já ter insistido muitas vezes, eles sempre se negaram me conhecer, por me considerar o maior erro da minha mãe. A pessoa que destruiu a vida e os sonhos da filha deles. Como se eu tivesse algum controle... - Soltei uma risada nasal desacreditada.

Erguendo o olhar para o Theo, senti o meu coração acelerar.

- Eu nunca cheguei a pensar exatamente sobre como não ter conhecido nenhum dos meus avôs pode ter me afetado. Eu nunca achei que isso poderia me afetar tanto. É apenas... não é fácil ser encarada por toda a família como uma espécie de monstro que destruiu a vida da sua mãe, mesmo quando você sempre fez de tudo pra trazer um pouco de felicidade e orgulho pra ela. Eu gostaria de ter presenciado pelo menos um jantar em família para que eles pudessem me conhecer ou ver que eu amo a minha mãe e que eu não queria destruir a vida dela...

Os olhos do Theo estavam sobre mim e eles pareciam confusos e preocupados ao mesmo tempo, fazendo o pânico desaparecer deles lentamente.

- Mas a minha irmã já viu eles várias vezes e segundo ela, eles são muito simpáticos e amorosos e a comida deles é maravilhosa. - Sorri fraco. - E sobre a minha irmã: ela é a minha meia irmã. O meu pai biológico sempre prometeu ficar com a minha mãe, mesmo em uma gravidez, mas não foi isso que aconteceu. Ele enganou ela, tirou a virginidade dela com promessas de amor e eternidade e assim que descobriu sobre a gravidez, foi embora.

Eu abaixei o olhar mordendo o interior da minha bochecha e tentando evitar as lágrimas.

- Eu tento não pensar no que ele fez como abandono, porque ele era jovem e tinha um futuro enorme pela frente, mas a minha mãe também tinha... Às vezes, eu também tento não colocar a culpa nele por tudo que eu não tive, incluindo os primeiros anos da minha vida com um pai, ou estabilidade financeira e emocional, ou até mesmo não ter nascido em um lugar onde eu não era definitivamente desejada e tratada com amor. Ele morreu atropelado um dia antes de eu nascer. - Falei a ultima frase com o rosto neutro, estando ciente da quantidade de vezes que já tive que contar isso.

Ergui o rosto depois de um tempo em silêncio e encarei o Theo que também me observava com atenção.

- A minha mãe mesmo depois de tudo que ele fez, ainda amava muito ele e quando ela descobriu sobre a morte dele, aquilo fez ela entrar em trabalho de parto. Depois de algum tempo, a minha mãe conseguiu se apaixonar de novo, dessa vez pelo meu padrasto e então eles tiveram a Luma, minha irmã. - Sorri afastando as lágrimas. - Eu fico feliz que ela não precisou e nem vai precisar passar por todas as rejeições que eu vivi na nossa família.

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