Capítulo 13

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Capítulo13

Pesado, o grande furgão branco dirigido por Ryder desliza com determinação pelos portões do Cetrap. Com ele, dez homens fortemente armados, prontos e ansiosos para passarem o recado ao grupo abrigado no Theatro Municipal. Estimulados por CW que a cidade lhes pertence e que sob o comando dele irão liderar homens e mulheres, o grupo está determinado a não deixar pedra sobre pedra nesta manhã fria de junho, em que o céu cinzento derrama um fino véu opaco de chuva sobre uma São Paulo deprimente.

O novo braço direito de CW constata que as ruas encharcadas não têm apenas as enxurradas de água, que fluem como rios por bueiros entupidos e sarjetas cheias de objetos destruídos, retorcidos e decompostos, mas um número considerável de bichos perambula por ali, seguindo sempre uma única direção.

Por alguma razão sombria, que eles não conseguem descobrir, a concentração maciça de mortos está cada vez mais abrangente, e a população está ficando perigosamente desproporcional em uma crescente em que ruas e vielas não comportarão. Claro que não existe uma regra que delimite a quantidade permitida de zumbis por ruas urbanas, mas é que em relação a meses atrás, comparando o gráfico populacional de bichos por metro quadrado, Ryder nota que esse número vem aumentando e parece se dirigir para algum lugar específico, como uma multidão de corpos purulentos transitando pelas ruas com algum intuito macabro, apenas virando as cabeças ou mudando a rota quando ouvem o barulho do motor da van que passa por eles sem diminuir a velocidade. Então os mortos se viram com o matraquear incessante das mandíbulas putrefatas e os seguem perigosamente perto, até perceberem que o carro não vai parar, ficando para trás o suficiente para desistirem e voltarem para a fila desorganizada em que estavam.

Transitando com cuidado, tentando manter uma velocidade de menos de vinte quilômetros na Av. Rebouças enquanto procura desviar dos obstáculos largados sobre o asfalto já muito esburacado, Ryder observa que os bichos seguem firme, como que atraídos em direção à Av. Consolação, sempre numa constante, rastejando e gemendo enquanto o vento traz em golfadas o cheiro invasivo de morte.

— Mas o que está acontecendo? — Gordo pergunta, segurando firme em seu colo uma espingarda calibre 12. É visível a tensão entre os homens. — Uma conferência de mortos na cidade?

— Não sei, cara. Alguma coisa está atraindo um bando grande para cá — Ryder responde.

— É melhor acelerar, ou vamos ser barrados feito peixes na rede entre esses bichos aí — diz Saulo, o cara magricelo que parece um guaxinim.

Ryder não gosta de receber ordens e não vai atrás de conversa de subalternos, mas seguir o conselho de Saulo lhe parece o correto a fazer. Ele acelera, jogando vários zumbis para o alto quando aumenta a velocidade de forma brusca. Mãos ávidas agarram maçanetas, lataria e em seguida deslizam e rolam para baixo das rodas. O som de cabeças pipocando pode ser ouvido, mesmo com os vidros fechados.

— Parece que alguém abriu as portas do inferno, cara! — Gordo resmunga, tapando narinas e boca com a manga puída da camisa vermelha de flanela. O boné branco, com o logotipo em verde do Palmeiras, já tem o tecido da aba quadrada bem gasta. Ele fecha as entradas de ar no painel com pedaços de papéis amassados, que encontra no porta-luvas. Carros estacionados em meio às avenidas fazem da visão aterradora ainda pior. — Parece um cemitério de carros — observa.

— Alguma coisa está acontecendo, cara, e eu vou descobrir do que se trata! — Ryder comenta, observando o quanto o calçadão da Av. Ipiranga está lotado de bichos que, ao som do carro passando, param a caminhada e se viram, olhando-os com seus olhos sem vida e cor. Sobre a calçada, o que sobrou de um táxi está dentro de uma banca de jornal. Onde antes vendia informação e entretenimento, agora restam folhas de jornais, revistas espalhadas, livros com suas folhas amareladas e grudadas.

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