Merda, merda, merda. Eu sou o pior amigo do mundo, beijei o namorado da Georgina, a porra da minha melhor amiga.
Me sinto um lixo, ela não merece isso, eu não deveria ter feito isso. Agi por impulso, não controlei meu desejo, pus minha fidelidade à Georgina sob meu prazer próprio.
Compulsivo, inconsequente, imprudente. Me amaldiçoo mentalmente.
Estou em posição fetal escorado na porta do meu quarto, a ansiedade me consume. Fico pensando se Georgina descobrir. Ela me odiaria pra sempre, eu me odiara pra sempre. O medo de perder minha amiga é imenso, lágrimas fujonas escapam pelo meus olhos.
Batidas na porta.
— Davis, filho— sua voz era calma— Está tudo bem aí?
Silêncio.
— Abra a porta, Pequeno Girassol. Por favor.
Destranco a porta e meu pai me encara.
— Quer conversar?
Faço um sinal negativo com a cabeça.
— Quer um abraço?
Sem responder, abraço meu pai. Ele me transmite paz.
— Você faz panquecas?— pergunto durante o abraço.
Meu pai sorri.
Nós fomos para a cozinha, meu pai me serve uma xícara de chá. Odeio chá.
— Experimenta, é camomila.
Bebo um pouco do líquido alaranjado, não é tão ruim assim.
Meu pai esquenta as panquecas de mais cedo e coloca xarope de boldo em cima. Ele também me entrega um pedaço de abacate. Eu encaro a fruta.
— Vai te ajudar a dormir— ele exclama.
Meu pai se senta a minha frente e me observa a comer.
— Hoje eu fui à farmácia. Estou contente de ter ido— ele começa— Esse tempo todo, eu aqui, enfiado em um quarto escuro. Me culpando dia após dia, achando que eu estava errado. E a farmácia lá, precisando de mim.
— Você não errou em nada pai— comendo com uma voz fraca.
— Não, filho, eu errei e admito. Errei algumas vezes com sua mãe— ele nunca fala da mamãe— Errei com você e até errei com nossa velha farmácia. Mas quando eu recebi uma ligação de Georgina, falando que você estava no hospital, percebi que eu não podia me culpar mais, meu filho precisava de mim.
Ele me olha nos olhos.
— O que eu quero te dizer, é que erramos, todos nós. Mas não podemos nos martirizar por isso. Levante a cabeça, reconheça o erro e não o repita— suas palavra me atingem em cheio— Nós falhamos, mas nenhuma falha é impossível de concertar.
Estou sem palavras, meu pai nunca havia falado desse jeito antes. Eu era forte por ele, mas olhe para mim agora, tão vulnerável. E ele ali, sendo forte por mim.
— Te amo, pai.
Ele me abraça e deposita um beijo no topo da minha cabeça.
Depois de terminar de comer, ajudo meu pai a lavar a louça e vou tomar um banho. Quando saio do banheiro, já com meu pijama, meu pai estava sentando na minha cama, com um embrulho nas mãos.
— O que é isso?— pergunto me referindo ao embrulho.
— Deita aqui— meu pai pede batendo no colchão. Obedeço seu pedido e me deito, ele me cobre com uma manta.
— Lembra quando fomos a Manhattan, eu, você e sua mãe?
— Quando eu tinha uns cinco anos?
— Sim. Nessa viagem, fomos a uma loja de brinquedo na Times Square e lá havia uma fábrica de ursos de pelúcia.
— Eu me lembro, a gente criou o Senhor Girassol. Mas por que está me contando isso?
— Hoje na farmácia, fui naquela salinha fica aos fundos e encontrei isso— ele diz abrindo a caixa e tirando meu antigo brinquedo de lá de dentro.
O Senhor Girassol foi meu brinquedo favorito. Ele é um urso panda que usa uma jardineira com um girassol bordado. Ele era tão especial pra mim, pois minha mãe havia gravado uma canção de ninar em um gravador e ele foi colocado dentro do urso. Toda vez que eu o apertava na barriga, ele emitia a voz de minha mãe.
Usei muito o Senhor Girassol, principalmente quando minha mãe foi embora. Nas noites que a saudade era grande e eu não conseguia dormi, eu apertava o senhor girassol e dormia escutando a voz de minha mãe. Segui assim por muitos anos, ele era meu melhor amigo, até que eu o perdi um dia, eu deveria ter uns onze anos quando aconteceu. Mas o meu pai o achou novamente.
— Ele estava empoeirado devido ao tempo, mas eu o lavei quando cheguei em casa.
— Muito obrigado pai. Você é incrível— digo o abraçando forte, ele sorri— Será que ainda funciona?
Aperto a barriga do urso e para minha surpresa, uma voz aguda e harmônica saia do urso. Não contive as lágrimas, escutar a voz da minha mãe depois de anos me trazia um mix de tristeza e alegria.
— Vou deixar você matar a saudade dele— meu pai diz se levantando— Durma bem, meu pequeno girassol, papai te ama.
Ele me dá um beijo na minha testa e sai. Me sinto como uma criança novamente, aperto o Senhor Girassol.
Meu pequeno girassol
Tão brilhante quanto o Sol
Seu sorriso é brilhante
Seu amor contagiante
Fez morada no meu peito
Ilumina o meu dia
Radia paz e alegria
Suas pétalas são brilhantes
Brilham mais que diamantes
A noite vem chegando
Os seus olhos vai fechando
Meu pequeno girassol
Retire suas preocupações
Elas não pertencem a nossos corações
Deite a cabeça no travesseiro
Cubra o corpo inteiro
Mas não fique triste
Pois de manhã vem o Sol
Durma bem e sorriste
Meu pequeno girassol
Mamãe te ama Davis!
Sinto meus olhos pesados, mesmo depois de anos, essa música ainda me acalma. Vou bochechando, me aconchego no travesseiro e durmo. Lembrando da última frase da gravação.
Mamãe te ama Davis!
Recado do autor:
Salve leitores, vulgo Aline, ultimamente eu estou meio desanimado. Quase ninguém lê a história e isso me desmotiva, coloco tanto esforço e carinho nela, e ninguém vota, comenta ou lê.
Não vou desistir de escrever ela, isso foi mais um desabafo.
Obrigado por compreender :)
"Posso ser passageiro
Mas minhas palavras serão eternas"
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PHARMACY
Teen FictionDavis nunca pensou que amaria alguém. Nunca pensou que entregaria seu coração para alguém, que se perderia em um par de olhos verdes selvagens. Sua vida era trabalhar na farmácia de seu pai e maratonar Gossip Girl com seus melhores amigos aos doming...