Escitalopram, fellin' blue

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Ok, talvez eu não seja a melhor pessoa do mundo. Mas eu tento. 

Tento ser o melhor filho pro meu pai, o melhor amigo e o melhor aluno da escola. Isso cansa muito, mas não posso me dar ao luxo de desistir.

Meu pai era apaixonado pela minha mãe e pensava que ela era por ele. Porém, ela nos deixou quando eu tinha um ano de idade. Não lembro muito dela, só sei que eu tenho seus olhos. Olhos cor de mel.

Depois de sua ida, meu pai não foi o mesmo. Ele tinha que administrar a farmácia da família e cuidar de mim. 

Só percebemos quem são nossos verdadeiros amigos em momentos de crise. Nenhum amigo de meu pai o ajudou, ninguém se propôs a ajudar. Ele teve que trabalhar e cuidar de uma criança sozinho. Meus avós eram de Nevada e não poderiam vir pra Nova Iorque nos ajudar.

Antony Jones é meu herói. Mas esses anos de trabalho duro o abalaram muito. Sua saúde mental é frágil. Ele toma diversos remédios para depressão e para evitar as malditas crises de ansiedade, mas nada parece tampar o buraco que minha mãe deixou no coração dele. Por isso, eu comecei a trabalhar na farmácia. 

Claro que eu não trabalho lá sozinho. Tem a Jules, ela que fica no caixa e ajuda com a faxina, e também tem o Fulgencio, ele trabalha na parte de medicamentos. Mas a cabeça por trás de tudo sou eu, faço a contabilidade, a reposição de produtos e até tento trabalhar no marketing da loja, mas sou péssimo com mídias socias e comunicação. Os únicos seguidores da farmácia no Instagram são eu, Georgina, Julien e Fulgencio, nem a Jules nos segue. Ela diz que o perfil é flopado e não quer ser veiculada a coisas sem sucesso, ela fala que estraga a áurea dela.

Minha vida é assim. Estudo de manhã, depois vou pra farmácia e fico lá até fechar, e vou pra casa depois disso. É cansativo pra caralho. Tenho que estudar de noite, preparar o café da manhã e o almoço do meu pai, fazer a janta. Meu pai só fica responsável pelo pagamento de contas da casa, é tudo o que ele pode fazer.

Essa é a merda da vida de Davis Stuart Jones.


Cinco e cinquenta da manhã, segunda feira de outrubro, está frio lá fora e eu não queria levantar. 

Vamos Daves, mais uma semana te aguarda, martela meu subconsciente. Junto forças e me levanto da cama.

Vou direto pro quarto do meu pai para dar o remédio das seis. Ele já está acordado

- Bom dia filho.

- Oi pai, aqui- digo o entregando os remédios acompanhados com um copo d'água.- vou preparar seu café e já volto.

Desço as escadas e vou para a cozinha. Seis e cinco. Tenho que ir rápido com isso. Pego a cafeteira e começo a preparar o café. Enquanto ele está sendo feito, abro o terceiro armário à direita e retiro de lá o pão, coloco- os na torradeira e pego os ovos na geladeira. Tenho mais cinco minutos para levar o café para o meu pai e começar a me arrumar.

Coloco o café na xícara e as torradas e os ovos em um prato, subo as escadas e me dirijo ao quarto de meu pai e entrego seu café.

- Você não vai comer?- pergunta ele.

- Sem tempo pai- respondo já entrando no banheiro do corredor

Seis e meia. Retiro meu pijama e entro debaixo da água fria. Subitamente, quando a água gelada entra em contato com meu corpo nú, uma imagem vem à minha cabeça. Aquela maldita foto do celular de Georgina. Não, não, não, não temos tempo para isso e ele é o namorado da sua melhor amiga. Meu subconsciente bloqueia o pensamento na mesma hora. 

PHARMACYWhere stories live. Discover now