Capítulo 5 - Suas Linhas

63 9 7
                                    

Lilin não teve notícias do laboratório, então apenas foi para casa. No dia seguinte assim que chegou no escritório, notou um e-mail da Doutora Ardelean solicitando a presença dos investidores. Ezra já estava no laboratório e mandou uma mensagem apressando Lilin. A súcubo desceu com o elevador até o subsolo, caminhou por um corredor longo, largo, branco e silencioso. Passou por algumas salas escuras com corpos cobertos com lençol. Até encontrar a sala da legista. A porta estreita escondia uma sala larga, com algumas macas de alumínio para autópsia, gavetas para o resfriamento de corpos e armários com portas de vidro com materiais cirúrgicos. Claramente um necrotério. A legista estava sentada diante de um computador de mesa, com as pernas cruzadas e o corpo relaxado. Ezra e Doina conversavam de forma descontraída entre risadas e gestos gentis. Assim que notaram sua presença saltaram da cadeira, suas palavras informais se dissolveram no ar e de repente uma tensão espessa pairou sobre o trio. 

-Bom dia - disse Lilin. 

-Bom dia - Ezra e Doina responderam. 

Lilin sentiu seu corpo estremecer com a voz doce e aveludada da Doutora. Doina apanhou uma pasta e entregou para Lilin. 

-Exames laboratoriais confirmaram se tratar de uma mulher, caucasiana, na casa dos trinta anos, cerca de um metro e sessenta cinco.

Lilin deslizou seus olhos curiosos sobre os termos técnicos desenhados no papel. 

-Os cortes de tesoura foram feitos após a morte - disse Doina. 

-Por quê golpear alguém que já está morto? - Ezra perguntou - será que queria ter certeza que a vítima não sobreviveria? 

-Pouco provável - disse Doina - o desmembramento tem cortes limpos e precisos, sem sinal de hesitação. O assassino certamente tem treinamento médico e saberia identificar que a vítima estava morta. 

-Então ele fez de propósito - disse Ezra - para confundir a gente. 

Doina balançou a cabeça de forma positiva enquanto trocava olhares curiosos com Lilin.

-Encontrei sangue nos pulmões - disse Doina. 

-Ela morreu por se afogar com o sangue? - Ezra perguntou. 

-Sim - Doina concordou - Mas notei algo intrigante. Ela foi desmembrada viva. Mas geralmente, em um desmembramento, a cabeça é retirada primeiro, em uma forma de desassociar a humanidade da vítima. Mas neste caso, a cabeça foi a última a ser removida, certamente o assassino não sentia nenhuma empatia pela vítima e estava totalmente confortável em vê-la sofrendo. 

Ezra arregalou os olhos, uma visão aterrorizante se formou em sua mente fazendo seu estômago revirar. 

-Encontrei essa tatuagem nas costas da vítima, colhi a digital e amostras de tecido do dorso, enviei para o laboratório responsável pela indenização, logo receberão algum parecer. 

Lilin se inclinou sobre o dorso, deslizou os olhos sobre uma tatuagem antiga pela metade, parecia a fada Tinker Bell do filme do Peter Pan. Cabelos loiros, asas azuis, vestido verde, segurando uma varinha mágica. 

-Tinker Bell - disse Ezra orgulhoso. 

Lilin arrastou os olhos para cima, até o rosto sereno de Doina que deslizava a caneta sobre o papel, assinando o documento da autópsia. Lilin deslizou os olhos sobre a pele macia de Doina, percorreu o contorno do queixo, mergulhou em seus lábios pequenos e vermelhos, subiu pelo nariz discreto e se perdeu em seus olhos azuis cristalinos, como as águas mar. Lilin sentiu seu corpo esquentar, um desejo inexplicado de sentir o sabor daqueles lábios, a testura da pele esbranquiçada, o cheiro do prazer exalando por seus poros. Não era apenas fome ou instituto, se tratava de atração, desejo. Doina se aproximou e se inclinou sobre o dorso apontando a tatuagem com a ponta da caneta, um odor adocicado invadiu as narinas de Lilin fazendo seu corpo arrepiar, seus olhos esbranquiçaram. Lilin projetou seu corpo para frente apoiando seus seios sobre o braço e ombro direito de Doina, que virou o rosto de forma automática, jogando seus olhos confusos para o rosto de Lilin. 

-Se entrega pra mim - Lilin Sussurrou com um olhar malicioso e branco. 

Lilin usou seu poder de forma Inconsciente, seu desejo íntimo e desesperado escapou pelas brechas da sua mente racional e como um animal predador encurralou sua presa. 

-Está tudo bem? - Doina perguntou confusa. 

Os olhos de Lilin voltaram ao normal, seus instintos predatórios se esconderam atrás de sua mente assustada. 

-Sim - Lilin respondeu de forma tímida. 

Doina virou o rosto para Ezra e continuou a explicação como se nada tivesse acontecido. Ezra balançava o rosto de forma positiva sem parecer se importar com a situação estranha que acabara de acontecer. Lilin deu alguns passos para trás e sentou-se em uma cadeira giratória, suas mãos frias e trêmulas se esfregavam como se tentasse se acalmar, seus olhos arregalados percorriam a divisória do piso branco procurando uma explicação. De repente a música "Não ama Nada - Jade Baraldo" ecoou no corredor como uma indireta. 

Por que seus poderes não funcionam com Doina? Como ela resistiu a ordem de Lilin? De repente Lilin perdeu sua autoconfiança e se sentiu uma presa amedrontada, mas ao mesmo tempo desejava se entregar de corpo e alma para aquela mulher. Seus ombros caíram, seu corpo se projetou para baixo se apertando dentro da roupa. Seus olhos assistiam Doina se mover de forma graciosa, admirando sua beleza, se perdendo em seu cheiro adocicado e quente, seu sorriso sensual, seus olhos maliciosos, seus cabelos alaranjados e volumosos. De repente uma imagem erótica invadiu a imaginação de Lilin, sentiu que Doina a lançava contra a maca de alumínio, rasgava sua camisa social, e deslizava seus lábios no peito da investigadora. A música "Nós 2 - Jade Baraldo" ecoou ao fundo envolvendo seus corpos. Doina se inclinou, agarrou as pernas de Lilin e a lançou sobre a maca, abriu o cinto, abriu o botão e desceu o zíper lentamente enquanto um olhar malicioso atravessava seu rosto. Lilin mordeu o lábio inferior com desejo, agarrou os cabelos de Doina a puxando contra seu corpo. Doina beijou a pele de sua perna, deslizou até a virilha, puxou a calcinha vermelha para baixo com os dentes. 

De repente Ezra estalou os dedos diante do rosto de Lilin. 

-Oi? - disse Ezra - Está tudo bem? 

Lilin jogou os olhos para Doina que digitava algumas palavras no computador distraída. Lilin suspirou aliviada, saltou da cadeira e caminhou pelo corredor em silêncio. Esperou o elevador e assim que a porta se abriu ela saltou para dentro, apoiou o corpo no espelho, arrastou os olhos pelo corredor enquanto a porta se fechava. Lilin sentiu sua calcinha úmida, sua vagina pulsava como se implorasse por prazer. Lilin apertava as pernas assustada, o que estava acontecendo? Ela já se sentiu atraída por outras mulheres, mas não nessa intensidade, parecia mais irracional que seus institutos, mais forte que sua fome. Seu desejo específico a assustava, como se Lilin soubesse que apenas Doina a satisfaria sexualmente, mesmo que Lilin insista em outras centenas de mulheres. Lilin começou a se questionar se estava desenvolvendo sentimentos por Doina, coisa que lhe parecia um absurdo, afinal, a conhecia há apenas um dia. Lilin se sentou na cadeira diante de sua mesa, arrastou seus olhos sobre a madeira envernizada perdida em seus pensamentos confusos. Ao fundo a música "Suas Linhas - Carol Biazin" tocava bem baixinho. Lilin lutava contra seus pensamentos, ela não é humana para se apaixonar, de qualquer forma, Doina não sobreviveria a uma noite com ela. Então Lilin teve certeza de que independente do que esteja acontecendo, a melhor escolha é se afastar o máximo que puder. Ela não quer matar aquela mulher, porque quer vê-la todos os dias, por toda a eternidade. Lilin se inclinou para frente, esfregou as mãos no rosto tentando espantar aquela dor aguda que ecoa no fundo de sua cabeça. Naquela noite Lilin não dormiu, o rosto de Doina não desapareceu de sua mente, como uma tatuagem cravada em sua pele. Lilin caçou na noite seguinte, se alimentou, mas não se sentiu satisfeita, como se bebesse água para matar a fome. De repente nada mais fazia sentido, seus instintos se misturaram com seus desejos e correram por suas veias esquentando seu corpo, forçando o desespero exalar por seus poros. 

-O que está acontecendo comigo? - Lilin sussurrava insatisfeita ao lado de um cadáver frio. 

Mais uma morte em vão, mais uma noite mal dormido, mais uma certeza de que está enlouquecendo. E de repente, Lilin sentiu o gosto amargo e frio, do medo. 

Succumbere (Romance Lésbico) Where stories live. Discover now