Capítulo 2 - Gelo e Gin

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Lilin passou o fim de semana refletindo sobre sua vida, deitada em uma cama macia do único hotel digno da cidade, com os olhos presos no teto branco, acessando suas mais antigas memórias. No som do celular a música "Gelo e Gin - Tribo da Periferia, 3 um só". Sua mente deslizava pela linha do tempo de seu relacionamento com seu irmão, cada convite que ela não atendeu para aniversários, Natal, reunião de família, até o noivado dele. Seu ego inflado tampou sua visão periférica, escondeu seus sentimentos mais sinceros, a afastou de quem a amava. Lilin escolheu virar as noites com sangue sugas e parasitas que a agarravam para usufruir seu poder e dinheiro, mas para ela parecia uma via de mão dupla, uma troca justa de interesses já que muitos padeceram sobre seu corpo. Mas agora nada disso importa, o luxo e poder não afastam sua dor, o frio da solidão não congelam seus sentimentos. A depressão atravessou as paredes brancas, deitou-se a seu lado e flertou com seu coração rompido. As lágrimas quentes deslizaram por sua pele negra e sedosa, explodindo contra o linho do travesseiro. As sombras do passado se arrastam por detrás dos móveis como fantasmas sádicos, gozando de seus suspiros de rancor, como se a questionasse sobre a utilidade de sua vida vazia. De repente Lilin sentiu uma pontada na nuca, uma vertigem momentânea, sintoma da fome de sua alma. Ela saltou da cama decidida a caçar, tomou um banho demorado e quente, deslizou seu corpo para dentro de um vestido vermelho sangue - cor dos súcubos - justo, de seda, provocante, com um longo decote. Desenhou uma maquiagem delicada mas que evidenciava seu olhar provocante, espirrou um perfume adocicado sobre seu corpo, e calçou sapatos vermelhos com salto agulha. Lilin encarou seu reflexo no espelho do banheiro, empurrou o canto da boca para cima como se buscasse aprovação interior, mas sentiu sua expressão fechar. A pupila de seus olhos dilatou demonstrando que estava pronta para a caçada. Pediu um carro por aplicativo e se dirigiu para o único bar movimentado da cidade. O bar estava cheio de presas fáceis, assim que notaram sua presença fixaram seus olhares em seu corpo como um transe coletivo, tanto homens quanto mulheres, todos em silêncio a desejando. Lilin caminhou até o balcão de madeira, sentou-se em um banco giratório, se inclinou sobre o cardápio. 

-Me vê um drink Blood Mary - disse Lilin. 

O barman arregalou os olhos, ficou em silêncio por alguns minutos totalmente hipnotizado. Lilin estalou os dedos sobre seu rosto pálido o trazendo de seu devaneio. 

-Desculpe, o que disse? 

-Blood Mary - Lilin respondeu. 

O homem deu as costas tímido, começou a preparar o drink em silêncio talvez se questionando sobre o leve bloqueio da realidade. Lilin gostava de bebidas amargas e picantes, pois a permitia manter o controle por mais tempo e claro, a cor vermelha a excitava. O barman apoiou o copo avermelhado diante de Lilin, lançou um sorriso tímido e se afastou. Lilin deslizou a ponta do dedo indicador na boca do corpo, mergulhos os olhos no líquido vermelho e acompanhou a pimenta boiar e bater na lateral do copo. De repente um segundo barman apoiou um copo sobre balcão em sua frente. 

-O rapaz de azul lhe mandou cumprimentos - disse o barman. 

-Diga que eu agradeço, mas não aceito. 

O homem de pele negra, calvo e barba por fazer agarrou o copo e devolveu para a mesa no canto do bar. O homem de azul saltou da cadeira e caminhou até Lilin, apoiou o copo novamente sobre o balcão, se aproximou da garota e sorriu de forma maliciosa. Esse é um dos lados negativos de ser um Súcubo, as pessoas se sentem no direito de acendiar descaradamente. O homem deslizou os dedos em seu braço e salivou como um cachorro esperando um bife. Lilin o empurrou com a mão em seu peito, o lançou um olhar furioso, seus olhos ficaram totalmente brancos e ela deu a ordem. 

-Volta para sua cadeira e me esquece. 

O homem deu as costas, sentou-se em sua cadeira e voltou a conversar com os amigos como se nada tivesse acontecido. O poder da manipulação é a única segurança que os súcubos têm, mas assim como todos os outros poderes, só funcionam com humanos. Lilin arrastou os olhos por entre as pessoas do bar em busca de sua vítima perfeita, uma mulher solitária. Os humanos definem os súcubos como demônios em forma feminina que invadem os sonhos de homens para fazer sexo e roubar sua vitalidade, a verdade é que existem espécies diferentes de súcubos, com preferências diferentes. Lilin é um súcubo Sapphism, apenas se satisfaz com a vitalidade e hormônios femininos, logo não sente desejo ou atração pela forma masculina. 

Succumbere (Romance Lésbico) Where stories live. Discover now