gab-lu pt 2

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E lá se foram 10 anos desde a última vez que estivemos por aqui.
Aos 34, eu resolvi me aposentar. Passei 18 anos da minha vida fazendo o que eu amava, mas cansei.
Aproveitei esse ano de aposentadoria pra viajar o mundo e curtir meus amigos que não via há muito tempo. Mas voltei pro RJ já faz 1 mês e meio. Não sei, apesar de amar minha 013, algo ainda me prende aqui. Talvez seja o Bruno, talvez seja a mãe dele...
É, você pode dizer que eu sou um otário por ainda estar aqui por ela depois de todos esses anos.
E talvez eu seja.
Ela nunca me deu motivos pra que eu continuasse alimentando algo, mas de algum modo eu sabia que ela ia precisar de mim. E que aquele garoto que tomou boa parte do meu coração pra si precisava de mim por perto.

Até que esse dia chegou...
Bruno chegou na minha porta esbaforido. Ofegante e com um capacete de bicicleta na mão.
- Tio... ti... tio, ajuda, tio... - colocou as mãos nos joelhos pra tomar ar
- Calma, campeão, entra aí, o que aconteceu? - falei enquanto entrava com ele
Lhe trouxe um copo de água e depois de algum tempo, ele se acalmou e contou.
- Papai e mamãe estavam no quarto deles quando eu ouvi a briga, papai estava muito bravo com a mamãe por algum motivo que eu não entendi. Aí ele começou a gritar e falar um monte de nomes feios que papai do céu não gosta. Aí teve um barulhão bem alto e papai saiu pela porta da frente e bateu ela altão também. Corri pra porta do quarto pra saber se estava tudo bem com a mamãe e ela falou que sim mas pediu que eu ficasse quietinho no meu quarto que depois ela ia lá comigo. Mas eu fiquei preocupado, sabe tio? Porque não foi só hoje, mas hoje ela não abriu a porta, tio. Ela sempre abre - a essa altura ele estava chorando de soluçar. E eu não sabia se cuidava em acalmá-lo ou se ia ver a mãe dele.
- Aí eu peguei a bicicleta e vim aqui porque mamãe sempre diz que isso é coisa de adulto e você é adulto, titio.
- Tudo bem, vamos lá ver sua mãe. Mas nunca mais saia de bicicleta da sua casa pra vir até aqui, é muito perigoso. Não esquece que você só tem 7 anos, mocinho. - passei a mão em sua cabeça tentando tranquilizá-lo enquanto eu mesmo estava uma pilha de preocupação.

Fomos até lá e o menino era tão esperto que levou a chave lá pra casa, o que me fez entrar tranquilamente no apartamento deles.
Logo que entrei disse à dona da casa que estava ali, enquanto pedi ao pequeno que me esperasse na sala.
- Lulu, tô aqui. - e fui entrando em direção ao seu quarto.
Bati em sua porta e ela respondeu
- entra.
De cara percebi que tava tudo quebrado no quarto.
Em seguida, vi minha menina encolhida na cama e seu corpo tremia com cada soluço baixinho como o de um filhote num dia frio.
Corri em sua direção tomando cuidado pra não pisar em nenhum vidro e quando a toquei, ela gemeu de dor.
Sua pele quente em contato com minha palma fria pela tensão me causou um choque. Fazia muito tempo que eu não sentia aquilo, mas é engraçado que é sempre com ela.
Em seguida, ela se virou pra mim e naquele momento eu quis matar aquele calhorda. Havia mordidas por todo seu pescoço e colo. Sua blusa estava rasgada e sutiã estava do avesso. Suas pernas também estavam mordidas e seus braços tinham marcas roxas do que parecem ser mãos. Seus olhos estavam inchados e quando ela tentou sorrir pra mim vi seus olhos se apertarem em dor.
Eu nem sabia o que fazer.
- Você quer que eu te leve ao hospital? À delegacia? O que eu posso fazer, Lu?
- Hospital, por favor - foi tudo que ela conseguiu dizer antes de perder a consciência.
Essa cena com certeza vai me assombrar por anos.

A peguei nos braços e levei pro hospital junto com o Bruno.
Demorou 6 horas pra ela acordar. Nesse meio tempo liguei pra minha irmã e ela veio e levou o Bruno pra minha casa.

Quando ela acordou, a primeira coisa que quis saber foi dele, óbvio. Assegurei que estava tudo bem com ele e então fiz a pergunta que eu queria fazer desde que a encontrei.
- Você quer que eu chame a polícia?
- Sim, por favor, eu preciso de uma medida protetiva e tudo mais que tiver - tremeu chorosa.

As semanas seguintes àquela foram bem mais calmas. Bruno e Lu ficaram em casa quando o idiota resolveu que era um bom moço, voltou pra casa e ficou cercando os dois. Lu ainda chorava todas as noites e eu sentia aquele arrepio mais forte todas as vezes que a abraçava para consolar.

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