Gab-Rê pt 5

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Decidir perdoá-los foi libertador. Mas olhar dentro dos olhos do Gabriel me fez esquecer disso temporariamente.
Nas semanas que passaram depois daquele jantar, jantei outras vezes com a trupe 19 como eu decidi nomear aquele elenco gigantesco de 30 pessoas que apesar de adultos, pais, casados, pareciam mais um bando de moleques quando estavam juntos. Não posso negar que me divertia com eles, mesmo sempre atenta às piadas, eles nunca fizeram nenhum comentário que me fizesse lembrar de suas antigas ações.
Hoje é mais um desses jantares. Endereço desconhecido por mim, quando cheguei, percebi que era um condomínio fechado, mas até aí nenhuma surpresa. Tinha conhecido todas as casas deles nos últimos meses, parece que era hora de mais uma.
Se Gabriel estava nessas reuniões? Quase nunca! Quando estava, ia embora cedo, segundo os amigos ser pai solteiro exigia muito dele e ele fazia tudo de bom grado, ele sempre quis ser pai. Antes de namorarmos, eu zoava muito ele pq não era a maior fã de crianças, e ele sempre dizia que um dia me faria mudar de ideia. Quando namoramos, tentei não deixar esse assunto tomar forma entre nós.
Perdida em pensamentos, cheguei em frente à casa do endereço. Parece que cheguei cedo, as filas de carros ainda não estavam por aqui.
Desci e toquei a campainha, para minha surpresa, Gabriel atendeu.
Parece que não fui só eu a surpreendida.
Me deu passagem pra entrar, ainda sem dizer uma palavra, era algo normal já entre nós.
Sentei na ponta do sofá esperando que o resto chegasse logo antes que o clima ali provocasse uma tempestade na cidade inteira.
Ele sumiu pelo corredor no que eu achei ser a cozinha, já que ele estava de avental [e sem camisa].
De repente, um bebê que não deve ter mais que 2 anos apareceu na ponta da escada, olhei atenta e meu alerta adulta me fez levantar, ele poderia cair.
Corri pra escada não antes de ouvir ele gritar um PAPAI bem alto enquanto escorregava, graças ao meu bom Deus eu cheguei bem a tempo de segurá-lo. Olhei naqueles olhos castanhos que me lembravam tanto o pai e fui inundada por algo que eu nunca tinha experimentado, eu fiquei encantada e ele me olhava como se eu fosse alguém importante pra ele, por alguns momentos eu pude enxergar meu namorado 9  anos atrás quando eu o abraçava em dias de tempestade.
Aquele transe foi quebrado quando ele foi tomado dos meus braços e olhei um Gabriel desesperado olhando em todo canto do filho procurando alguma escoriação.
- Meu amor, o que papai já falou com você? Não pode descer as escadas sozinho. Você podia ter se machucado e o papai ia ficar muito triste se não tivesse mais você aqui. - ele apertava o bebê nos braços como se sua vida dependesse disso.
Provavelmente dependia.
Quando eu ia me virando para voltar pro sofá, ele segurou meu braço.
Era o primeiro toque em quase 10 anos.
Virei para olhá-lo.
Seus olhos ainda refletiam a preocupação com o filho, mas tinha algo diferente lá, não soube dizer o que era.
- Obrigado, Renata! Você salvou minha vida. - disse firme.
- Tudo bem, não precisa agradecer. - sorri
- É sério, eu não poderia viver sem o Matteo.
- Tá tudo bem, Gab...briel, ele tá bem, fica tranquilo, mas acho que seria bom comprar um daqueles portõeszinhos aqui pra escada. Eu poderia não estar aqui.
- Tudo bem, obrigada pela sugestão. - repuxou os lábios.

Depois disso, desci as escadas e sentei novamente no sofá. Que demora, meninos!
Gabriel passou com Matteo no colo em direção à cozinha.
Sem demora, Matteo vem andando na  minha direção e para bem na minha frente com aqueles olhos expressivos e cativantes.
- oi, titia, posso sentar aqui com você? - parecia envergonhado.
- oi, príncipe, claro que pode.
Peguei ele no colo e coloquei sentado do meu lado no sofá.
- papai disse que eu devia agradecer...
- Não precisa, meu amorzinho. Eu faria quantas vezes fossem necessárias pra salvar você. - acariciei seu rosto gorducho.
-  obigada, titia. - me abraçou.
- só obedeça seu pai, tá?
- Tá bom.
Plinnn
- papai, papai, tá fazendo plin - Matteo correu aos berros.
Ouvi um de volta
- Abre aí por favor.
Só podia ser comigo, né?
Levantei e fui até a porta.
Gio me encarou com um sorriso divertido.
- Sabe que eu sempre achei que em algum momento eu te veria abrindo a porta da casa do Gabriel e me recebendo, né? - me abraçou passando pela porta.
- Quer dizer que você me imaginou governanta do Gabriel uma vida inteira, Giorgian de Arrascaeta? - sorriu e fechei a porta assim que Camila passou por ela.
- Você sabe do que eu tô falando. Você combina com essa casa, parece sua.
- Não viaja, amor - Cami disse.
- O quê? Somos amigos, Gabriel nunca te esqueceu - apontou pra mim - e a julgar por essa sua cara de transtornada, a recíproca é verdadeira.
- Já chega, né gringo? - a voz de Gabriel se fez ouvida logo em seguida. Ele também parecia desconfortável.
- Ok, ok. Só não digam que eu não avisei - ergueu as mãos em rendição.
- titiaaaaaaaa - ouvi um grito, corri sem nem saber de onde a voz tava vindo e encontrei uma cena que seria engraçada se não fosse trágica
Matteo estava dentro da geladeira, seu casaco estava preso em uma das grades de comida e ele não conseguia sair.
- Matteo, pelo amor de Deus, o que você tá fazendo aí? - coloquei as mãos na cintura.
- Dicupa - abaixou a cabecinha com o olhar choroso.
- Vem, vamos tirar você daí. - fui em sua direção
Consegui desprendê-lo e ao olhar pra trás, encontrei Gabriel de braços cruzados encostado no balcão.
- Filho - pegou o bebê dos meus braços - por que não chamou o papai?
- Porque a titia me salvou da escada, ela é minha herói agora.
- É heroína, meu amor - corrigi de forma amável.
- Tudo bem - Gabriel concordou rindo.
Soltou ele que correu gritando o "dindo Alasca", eu não pude deixar de rir pq Giorgian estava de cabelo descolorido, então ele realmente era a personificação do Alasca.
- Que isso hein, Renatinha, mal chegou e já roubou meu filho. Mudaram as estações, nada mudou! Só queria entender que poder é esse que você tem sobre nós - gargalhou.
- É, a recíproca parece real - sussurrei quando ele já tinha saído.

Aquela noite foi ótima! Mat e eu nos divertimos muito, Gabriel cumpriu sua promessa sem nem perceber, eu realmente amei aquele menininho naquele momento.

Alguns dias depois...
Meu celular toca.
Que estranho, é 1 da manhã, quem será?
Número desconhecido
Eu é que não vou atender. Loucura isso.
Estava me aconchegando pra voltar a dormir quando toca mais uma vez. E mais uma e mais uma.
Decidi atender nem que fosse pra me estressar.
- Renata! Renata pelo amor de Deus, é você? -aquela voz.
- Sim, o que houve? -falei levantando da cama.
- É o Matteo, Renata. Ele tá queimando em febre e não para de chamar por você.  Eu já não sei mais o que fazer, o médico tá aqui mas nada abaixa a febre dele, por favor, me ajuda - sua voz era esganiçada e suplicante.
- Tô indo praí, Gabriel. Me coloca no viva-voz, deixa eu falar com ele. - estava calçando qualquer coisa, pegando a chave do carro e de pijama mesmo, desci correndo com o celular na orelha.
- Pronto - ele disse.
- Oi amor, aqui é a tia Rê, eu tô chegando tá? A tia tá aqui, não se preocupa.
- Tia Rêêê - o berro foi alto e choroso. Meu autocontrole já era e eu corri ainda mais no trânsito.
- Tô chegando, bebê, não chora. - Eu já estava quase chorando também.
Na viagem mais rápida da minha vida, entrei naquele quarto e corri pra cima dele, o abracei apertado e o consolei baixinho, enquanto sussurrava:
- Tudo bem, meu pequeno, titia tá aqui, titia tá aqui. - o ninei e depois de mais de duas horas, ele dormiu.
A febre baixou um pouco com uma compressa fria que eu pedi ao Gabriel que trouxesse, ele ia ficar bem.
Só depois de todo esse caos vi que o médico estava no sofá e me encarava com um brilho estranho nos olhos.
Logo meus pensamentos foram interrompidos por ele:
- Se eu não soubesse que ele é filho da Rafa, jamais desconfiaria que você não é mãe dele. A forma como entrou aqui ignorando tudo e todos, como uma leoa pronta pra defender "sua cria" - fez aspas com a mão - é louvável. Parabéns! - sorriu
- Eu o amo, ele não é meu filho, mas eu o amo. - olhei pra porta e lá estava Gabriel parado, de braços cruzados, ouvindo aquela conversa. Ele apenas sorriu.

Quando o médico foi embora, desci pra falar com o dono da casa que estava na cozinha tomando água:
- Gabriel, eu queria saber se... - torci as mãos - eu poderia dormir aqui, sabe? Pro caso dele acordar. Queria tá por perto. - sorriu constrangida.
- Pode sim, tem um quarto de hóspedes do lado do quarto do Matteo. Dá pra ouvir tudo de lá. Vem, vamo! Eu te mostro.
Subimos novamente as escadas. Passamos pelo quarto do bebê e dei mais uma conferida pra ver se tava tudo bem e a febre tinha sumido.
Gabriel entrou comigo no quarto ao lado, sendo solícito.
- É aqui, fique a vontade. Qualquer coisa, meu quarto é a última porta no fim do corredor.
Ia se afastando e voltou.
- Obrigada por hoje, Renatinha. Eu sei que não mereço mas agradeço tudo que tu tem feito pelo meu moleque. Talvez se eu não tivesse sido burro e nos afastado, ele teria uma mãe como você e não desnaturada como a que ele tem. Aliás, ao contrário dos outros, eu nunca te pedi desculpa pelo que aconteceu. Talvez pq eu sempre soube que não tem perdão, mas eu preciso agora fazer isso. Me perdoa, Renata! Eu era um idiota que não teve peito pra bater de frente com aquele bando de otários. Eu me afastei deles logo depois, o Flamengo ia mal, o grupo tava rachado, foi horrível, mas depois nos perdoamos e sinceramente, quando a Rafa decidiu que não queria nosso filho, se não fosse por eles e suas escalas malucas de quem ia dar a mamadeira de madrugada pro Matteo, eu provavelmente não teria conseguido. Nós te fizemos muito mal, eu sei, mas me perdoa por favor...- sorriu triste, seus olhos brilhavam com uma emoção muito parecida com as vezes em que ele perdia algum campeonato que pra ele era importante. Algo como sentimento de insuficiência, eu o perdoei.
- Tudo bem, Gabriel. Águas passadas não movem moinhos. Como eu disse mais cedo, ele não é meu filho, mas eu o amo mais do que conseguiria explicar e saber que todos cuidaram dele antes de mim me faz ainda mais perdoá-los - dei um passo e o abracei. Ele parecia precisar.
Em seguida, ele beijou minha testa demoradamente e sussurrou: boa noite, princesa, foi difícil por aqui sem você.
E saiu...

Boa noite, Bi - sussurrei para o vazio.


CAPÍTULO NOVO AAAAAA
ME CONTEM O QUE ESTÃO ACHANDO
COMO NÃO AMAR O MATTEO?
GIORGIAN FALANDO MAIS QUE A BOCA, ALGUMA NOVIDADE? HAHAHAH
Não esqueçam a estrelinhaaaaa
Beijo da Lu💜

Short Fics Gabigol❤?Where stories live. Discover now