Saí da comitiva e acessei as páginas de notícias. Foi difícil conter a emoção ao contemplar a imagem da mansão em chamas. Ao mesmo tempo que me preocupei com a Mirela por estar no mesmo lugar, me senti aliviada por vislumbrar aquele lugar, sede de tanto sofrimento, despedaçar-se e saber que seria apenas o começo da ruína do Joseph. Voltei para a comitiva, sedenta de olhar com desdém para a cara do Joseph mas ainda receosa por não obter notícias da Mirela.

A cerimônia de premiação começou e ao ser chamado seu nome, foi aplaudido e ovacionado com entusiasmo por todos aqueles homens brancos, héteros, ricos e podres, iguais a ele. Subiu ao palco e começou seu discurso:

- Boa noite! Estou imensamente feliz e honrado em estar aqui hoje, apesar de já ter quase certeza que ganharia essa premiação de empresário do ano. Fico feliz em saber que sou eu o ganhador, e não uma certa concorrente, pouco digna dessa menção honrosa - revirou os olhos fazendo graça e todos riram e o aplaudiram - Inclusive, fiquei sabendo que ao invés de estar preocupada com a vida profissional, essa pessoa tem se dado o luxo de .. - meu telefone vibrou e no visor, outro número internacional, diferente do que a Laura me ligou.

Apressadamente saí da área da imprensa e fui para onde poderia atender a chamada que insistia em tocar.

- Pois não?! - atendi falando quase em sussurro.

- Bia? - ouvi a voz mais doce que meus ouvidos já puderam me dar o prazer em ouvir. A voz que me acalma desde que eu tinha 10 anos e aprendeu a falar meu nome antes de saber falar "mamãe". Meu corpo inteiro estremeceu-se com esse som dócil e meigo. Senti meus olhos marejarem-se e um sorriso se abriu em meus lábios antes que eu pudesse pensar em sorrir.

- Mirela? - sussurrei seu nome, segurando o nó na garganta que não me deixara falar.

- Bia, consegui sair da mansão! - ela falou com voz alegre e aliviada.

- Meu amor! Que feliz saber disso! - as lágrimas escorriam pelo meu rosto, enquanto uma das minhas mãos trêmulas segurava o telefone a outra, abafava o choro - Onde você está?

- Eu consegui que uma pessoa me emprestasse o telefone e te liguei porque é o único número que sei, de tanto ver o Joseph te ligar, memorizei - falou com voz faceira - Estou num posto de gasolina, na rodovia. Eu e as meninas estamos bem, mas a Alice - ficou em silêncio e meu coração apertou-se.

- O que aconteceu com ela?

- Acho que explodiu junto com a casa. Vimos a ambulância passar correndo e não sabemos dela. Ela só pediu pra gente correr sem parar e procurar pela namorada dela, Laura Veigas. Você sabe quem é?

- Sim meu amor! Me ouça. Procure abrigo nesse posto e fiquem aí Vou falar com a Laura e ela vai enviar o pessoal dela te buscar. Aguarde aí - falei tão apressada, que quase não conseguia respirar por isso.

- Tá bom! Vamos ficar aqui.

- Mirela?! - a chamei com emoção.

- Oi. Diga - me respondeu com doçura.

- Estou orgulhosa de você! - as lágrimas escorriam pelo queixo - Logo estaremos juntas.

- Não vejo a hora disso, Bia! Quero ver a mamãe.

Ouví-la me pedir para ver nossa mãe, terminou de me desmontar. Minha doce Mirela, é ainda uma menina, que foi privada de ter a infância com os pais. Apenas uma menina, indefesa e sozinha nos arredores de Paris. Tão longe de casa. Tão valente. Tão inteligente.

- Logo meu amor - respondi aos prantos - A mamãe vai ficar muito feliz em te ver. Aguarde aí.

- Te amo Bia! Um beijo.

AmorasWhere stories live. Discover now