Capítulo 2

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Só consegui dormir poucas horas, mas parece que não fechei os olhos. A gruta é escura, mesmo durante o dia. Olhando rapidamente, parece vazia, mas no escuro, pequenos artrópodes caminham pelas paredes em busca de comida. Eu também preciso encontrar algo para comer. Saio da gruta escura e vou até algumas rochas perto da praia para procurar por algas ou moluscos.

Se eu tiver sorte, talvez encontre uma espinha de peixe para desfazer o terror que está o meu cabelo. Tive sorte de encontrar uma ilha deserta, de forma que a natureza é abundante e há comida de sobra.

Queria poder entrar na ilha para encontrar alguma fruta. Uma vez, minha mãe trouxe para casa uma maçã. Foi a melhor coisa que já comi na vida. Era incrivelmente doce, mas elas não nascem em plantas aquáticas, então conseguir uma é bem difícil, principalmente porque tem que chegar perto dos navios.

E chegar perto dos navios nunca é uma boa ideia.

A lembrança me causa tristeza. Minha mãe costumava trazer itens inusitados de suas viagens. Nossa vila é pequena, então ela viajava com frequência para comunidades maiores para trazer ferramentas e alguns mantimentos.

Após comer, me concentro para encontrar a corrente Sul e me lanço ao mar aberto de novo.

Nadar no precipício do mar aberto é assustador e, ao mesmo tempo, magnífico. Você olha para baixo e não vê o chão, você pode olhar para o lado que quiser e não enxergará nada além de água cinzenta. Dá a impressão de que você está suspenso em um limbo, o que pode ser libertador ou esmagador. Depende do ponto de vista.

Nado por horas até ver algo à frente que não fosse água. Uma mancha marrom a aproximadamente um quilômetro de mim. Ela se mexe sem parar, parece um cardume.

Conforme fui me aproximando para ver o que era descobri que não era um cardume coisa nenhuma, eram siris e estavam todos amontoados em volta de uma caixa. A caixa tinha um cheiro incrivelmente bom.

Era uma armadilha para siris.

Eu não podia deixar os humanos pescarem aquela quantidade insana de siris. As lendas que os mais velhos contam sempre dizem que os humanos sentem uma fome insaciável, e por isso pescam tantos animais.

Analiso a armadilha e vejo que tem uma corda segurando a caixa, eu podia cortar ela, mas não tenho nenhuma ferramenta comigo. Subo até a superfície para ver melhor a situação.

A corda está amarrada em uma bóia bem grande. Estamos acostumados a lidar com boias, diversas são trazidas até a vila pela correnteza. Deve ter um lugar para esvaziar o ar. Nado em volta e demoro um pouco para encontrar o pequeno pino. Ele estava na parte superior da bóia vermelha e tive que cravar minhas unhas na borracha para conseguir arrancá-lo dali.

Mas algo aconteceu: no momento que eu tirei o pino, uma máquina estranha que estava em cima da boia começou a apitar baixinho e emitir uma luz vermelha. Não tenho ideia do que era aquilo, mas eu tinha que sair dali rápido.

Apertei apressadamente a boia para sair o ar e ela começou a afundar devagar. Os siris terminariam de comer o que tinha na caixa e iriam embora depois de um tempo. Voltei a nadar na direção que estava seguindo, mas depois de cinco minutos de nado percebi que não fora uma boa ideia.

Os motores estavam desligados, o que fez com que eu não percebesse a presença do barco antes dele entrar no meu campo de visão. É possível que ele tenha seguido a correnteza na direção da boia. Talvez a máquina fosse um alarme.

O que eu também não percebi foi o tubarão-branco que nadava em círculos em volta do navio. Mas após ver a isca sangrenta que eles atiraram no mar, foi compreensível a presença do tubarão ali.

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