O Retorno do Anel

Galadriel

Não poder enxergar era difícil. 

Eu sentia como se fosse tropeçar a cada passo, apesar de confiar que Haldir nos guiaria em segurança. Além disso, ouvir Gimli reclamando a cada passo que dava aliviava a tensão no ar, enquanto percorríamos a floresta de Lóthlorien. 

Porém, nenhum de nós lamentou quando um novo grupo de elfos se aproximou, anunciando que a Senhora Galadriel já tinha consciência de nossa presença, e autorizava a todos - inclusive Gimli - a andar livremente, sem as vendas. 

Haldir retirou minha venda, e assim que se aproximou de Gimli disse:

- Aceite meu perdão. E olhe para nós com amigáveis olhos. Fique feliz, pois você é o primeiro anão a ver as árvores do Naith de Lórien desde o dia de Dúrin!

Gimli não pareceu muito simpático, mas eu não prestava mais atenção. Meus olhos iam e vinham pela paisagem. Podia ser apenas uma floresta, mas era muito mais que isso. O próprio ar era puro e bom, e as árvores pareciam ter vida própria. 

- É muito bonito. - Eu ouvi a voz de Legolas ao meu lado - Fico feliz por poder enxergar.

- Eu também. - Eu disse, um sorriso se abrindo em meus lábios. Era como se o lugar apaziguasse minhas feridas mais profundas apenas com sua aura. Mas infelizmente, ela não podia curá-las completamente. 

...

Já estava quase escuro quando finalmente chegamos. Fomos levados a presença de Galadriel e Celeborn. O reino era tão belo quanto a própria floresta que o circundava, mas logo minha atenção voltou para as duas pessoas no estrado a nossa frente. Galadriel era tão bela quanto as histórias contavam.

- O inimigo sabe que entraram aqui. - Celeborn anunciou, calmamente - Qualquer esperança que tinham no segredo agora se foi. Há nove aqui, mas dez saíram de Valfenda. Digam-me onde está Gandalf, pois quero muito lhe falar. Não posso mais vê-lo de longe. 

Suas palavras me atingiram como uma faca. Galadriel olhou para mim, e nesse momento foi como se ela lesse minha mente com o olhar. 

- Gandalf o Cinzento não passou pelas fronteiras desta terra. Ele caiu na sombra. - Ela pareceu olhar para o anel em minha mão, e depois voltou a olhar em meus olhos. Eu já imaginava que ela o perceberia, diferente do resto da companhia.

- Ele foi pego pela sombra e pela chama. - Legolas anunciou. - Um Balrog, de Morgoth. Passamos desnecessariamente pela rede de Moria. 

- Não houve nada desnecessário na vida de Gandalf. Ainda não conhecemos seu propósito completo. - Então ela se virou para Gimli, que mantinha a cabeça baixa, como se sentisse culpa - Não deixe que o grande vazio de Khazad-dûm encha seu coração, Gimli filho de Glóin. Pois o mundo viu o crescimento do perigo. E em todas as terras, o amor agora está misturado a dor.

Galadriel encarou Boromir, e ele pareceu tremer, antes de desviar o olhar, como se não o suportasse.

- O que acontecerá agora a esta sociedade? Sem Gandalf, não há esperança. - Celeborn disse. 

- Sua demanda está sobre o fio de uma faca. Basta um pequeno desvio, e a missão fracassará, trazendo ruína a todos. - Galadriel olhou para Boromir novamente, antes de se olhar para Sam - Mas a esperança continua, enquanto a comitiva for sincera. Não deixem que seu coração tema. Agora vão, e descansem, pois estão cansados com a tristeza e muito esforço. Esta noite, dormirão em paz. 

Foi quando ela olhou para mim, e senti sua voz em minha cabeça, como um sussurro. Eu ofeguei com o susto, antes de retribuir seu olhar. 

"Eu sei o que carrega, Aerin de Valfenda. Não deixe que seu coração tema, pois Gandalf confiou a você seu bem mais precioso. Guarde-o, e use-o com sabedoria, pois muitos o cobiçarão. Porém, não precisa carregar esse fardo sozinha. Procure seus aliados. Sabe em quem pode confiar. "