Para Sempre

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Os próximos dias foram mais ou menos tranquilos. Arwen chegou a Valfenda em segurança menos de uma hora depois, e Aragorn chegou com os hobbits na tarde seguinte, com os cavalos que foram enviados para eles.

Sam tinha insistido em ver Frodo assim que chegou. Frodo continuava lutando por sua vida, mas alguns dias depois meu pai disse que ele iria sobreviver, embora ficaria com a cicatriz para o resto da vida. Um preço pequeno a se pagar, comparado ao que podia ter acontecido, eu pensei.

Eu me recuperei sem nenhum problema, e logo estava passando minhas tardes com Legolas, Aragorn, e os hobbits. Frodo continuava desacordado. Mas logo uma nova notícia boa chegou. Gandalf tinha retornado.

Contamos a ele tudo que aconteceu, e ele logo quis ver Frodo também. Porém, com a chegada de Gandalf também chegaram más notícias. Saruman tinha nos traído, e aprisionado Gandalf em Isengard. O mago tinha fugido com a ajuda das águias, e vindo direto para Valfenda.

Passei o resto do dia pensando nisso, por algum motivo essa sensação ruim não queria me abandonar.

Naquela noite Frodo acordou, para a felicidade de todos. Ele conversou com Gandalf por algum tempo, mas depois foi pessoalmente até meu quarto, e me agradeceu por ter salvo sua vida. Senti uma onda de afeição pelo hobbit.

Também começaram a chegar algumas pessoas a Valfenda, para o conselho que se reuniria no dia seguinte para discutir a questão do anel. Um deles foi Boromir, filho de Denethor, rei regente de Gondor. E depois, uma surpresa agradável. Glóin tinha vindo, junto com seu filho, Gimli.

O anão tinha envelhecido, isso era claro. Sua barba, antes ruiva, estava agora cinzenta, mas sua personalidade continuava alegre. Naquela noite, um jantar foi oferecido aos convidados. Eu me sentei ao lado de Glóin.

- Como vão as coisas em Erebor? - Eu perguntei.

- Muito bem. Sabe, Thorin nunca mais foi o mesmo depois de você. Ficou menos rabugento. - O anão riu, sua voz alta ecoando pelo salão, acompanhada por Gimli ao seu lado - E Kili, ultimamente não parava de falar de você. "Quando a Aerin virá nos visitar?" ou "Será que ela nos esqueceu?". Já estávamos quase trancando ele no quarto com uma mordaça. Nós dissemos a ele que você agora tinha sua própria vida para se preocupar, mas ele não aceita.

Eu ri, pensando em Kili. O tempo tinha passado, e os anões tinham envelhecido. E agora, Fili e Kili deviam ter a idade de Thorin quando o conheci. Adultos. Eu não conseguia me acostumar com essa ideia.

- Diga a ele que irei visitá-lo assim que puder. Infelizmente, isso talvez possa demorar. - Eu respondi - Com tudo o que tem acontecido, duvido que meu pai vá aceitar manter o anel em Valfenda. É muito perigoso, e aqui já é um alvo suficientemente grande para o inimigo sem algo tão poderoso.

- Concordo. São tempos sombrios... Nunca pensei que viveria para vê-los, mas cá estamos.

Eu assenti.

- E quando a Ballin? Como vão as coisas em Moria?

O semblante de Glóin ficou ainda mais sério quando ele respondeu:

- Não temos notícias dele a meses, e não temos ideia do que aconteceu. Thorin quase mandou um grupo para lá para investigar, mas desistiu da ideia. Não é como se tivéssemos provas de que algo aconteceu. Talvez o velho Ballin só esteja muito ocupado.

- Sim.. Talvez. - Eu respondi hesitante, sabendo no meu interior que isso não era verdade.

O resto da refeição se deu tranquilamente. Pude conhecer Gimli apropriadamente, e percebi que ele era tão parecido com o pai na personalidade quanto o era na aparência. Ele não gostava de elfos, tal como Thorin, e deixava isso claro em seus comentários. Mas me tratou como a uma amiga, o que eu pensei que se devia ao fato de eu ter sido amiga de seu pai.

Boromir não conversava muito, não parecendo realmente interessado no que acontecia a sua volta. Ficava mais ao canto sozinho, e seus olhos escuros não me revelavam nada. Instintivamente soube que ele era um guerreiro habilidoso, e acima de tudo, determinado. E ele parecia já ter um objetivo claro em mente.

...

Naquela noite, eu voltei para o meu quarto com Legolas. Eu estava feliz por rever Glóin, e o jantar tinha se passado muito bem. Mas eu não conseguia deixar de pensar em Boromir, e em quais seriam suas verdadeiras intenções.

- No que está pensando? - A voz de Legolas me acordou de meus devaneios. Podia senti-lo deitado ao meu lado. Me virei, ficando de frente para ele.

- Você reparou em Boromir hoje? - Eu perguntei.

- Como poderia não ter reparado? Não é como se ele espalhasse uma aura de alegria. - Ele respondeu, e mesmo no escuro pude perceber que sorria.

- Eu não confio em Denethor, e certamente não poderia confiar num homem que está aqui as ordens dele. Se bem o conheço, deve ter alguma ideia maluca e totalmente distorcida...

Senti a mão de Legolas envolver a minha.

- Não pense nisso. Ele não pode fazer nada aqui em Valfenda, sozinho e cercado pelos guardas do seu pai. - Ele fez uma pausa, com preocupação estampada em seus olhos - Por que você faz isso? Age como se carregasse o peso do mundo nas costas. Como se tivesse que resolver tudo sozinha... Isso não te faz bem.

Eu desviei o olhar, mas Legolas colocou sua mão em meu rosto, me fazendo voltar a olhar para ele.

- Não precisa lutar sozinha. Não precisa se torturar a todo momento, não precisa se culpar por tudo que acontece de errado. Tem muitas pessoas aqui, todos estamos lutando pelo mesmo objetivo. E eu estou aqui. Estou aqui com você, como sempre estive, e como sempre estarei. Não importa o que aconteça. Eu prometi, se lembra? E você também.

Eu suspirei, me aproximando de Legolas, e deitando minha cabeça em seu ombro.

- Você está certo. Me desculpe, estou me preocupando demais com coisas que não posso mudar, e me esquecendo do que é mais importante. Eu estou aqui, estou aqui com você, e é onde em pretendo ficar. Para sempre.

Senti que ele sorria, e não pude deixar de me sentir mais leve. Amanhã seria um novo dia, eu não precisava resolver tudo sozinha.

- Para sempre. - Ele repetiu.



O Retorno do AnelWhere stories live. Discover now