conto 1: entre fadas e dragões

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Quando virou o rosto para sua direita, um vulto passou tão próximo de sua cabeça que zumbiu no ouvido esquerdo. Ele ouviu um baque na árvore atrás de si e sentiu a bochecha ardendo. Quando levou os dedos até a pele, eles voltaram com um pouco de sangue. Jungkook olhou para trás e viu uma flecha ainda balançando tão bem fincada numa árvore que a força necessária para fazer um disparo daquele deveria ter sido enorme.

ㅡ É, eu não achei que seria tão fácil te matar ㅡ disse alguém.

Completamente horrorizado, Jungkook procurou a fonte da voz. Um homem de roupa preta e capuz na cabeça saiu de trás de uma árvore segurando um arco com uma nova flecha já em posição. Ele tinha longos cabelos com mechas cinzas e uma cicatriz de garra sobre o olho esquerdo, que era completamente branco.

Jungkook tremeu dos pés à cabeça. Já tinha encontrado pessoas intimidantes em suas viagens e até já tinha sido assaltado por um bando na estrada até Bakil, mas tinha algo de diferente na expressão daquele homem, um ódio especificamente voltado para ele. Jungkook sacou sua faca do cinto e apontou.

ㅡ Quem é você?

O encapuzado se aproximou com passos bem lentos.

ㅡ Que esquisito ㅡ ele disse baixinho, como para si mesmo. ㅡ Nunca vi uma fada usar armas humanas.

Jungkook soltou uma respiração com tom de incredulidade.

ㅡ Mas eu não sou uma fada.

Como reação à sua resposta, o homem fez uma carranca de raiva e esticou a linha do arco, mirando em Jungkook.

ㅡ Não adianta mentir pra mim, eu reconheço seu cheiro, criatura imunda. Já matei muitas da sua espécie.

Jungkook se desesperou por dentro. Ele não tinha condições de escapar daquela flecha, nem com seu sexto sentido. Se o caçador de fadas decidisse atirar, seria seu fim.

ㅡ Espera, espera! ㅡ O rapaz largou a faca no chão e levantou as duas mãos. ㅡ Eu juro que sou humano, mas é verdade que tenho cheiro de fada. Isso aconteceu porque elas me levaram quando eu era bebê, mas eu fui devolvido pela manhã.

O caçador respirou fundo e esticou mais a linha.

ㅡ Impossível! ㅡ gritou. ㅡ Os bebês nunca são devolvidos.

ㅡ Mas eu fui. Também não sei porque, ninguém sabe. Só aconteceu. Quando fui devolvido pra minha casa, voltei com o cheiro delas e uma habilidade, um tipo de instinto. Mas eu juro que é apenas isso, não sou uma fada. Você disse que já matou várias; deve perceber que sou diferente.

O caçador manteve o arco esticado, mas parecia reflexivo, porque ele estava certo quando disse que os bebês nunca voltam e acreditar em Jungkook seria como ignorar um fato. Só que Jungkook não se parecia uma fada nem agia como uma; qualquer um podia ver isso, tendo encontrando várias delas na vida ou não.

Por fim, o caçador abaixou seu arco e guardou a flecha na aljava das suas costas. Jungkook soltou o ar de alívio e abaixou suas mãos. Ele já enfrentou muita coisa nas viagens, mas aquilo foi novidade.

ㅡ Eles nunca voltam ㅡ o caçador disse, com a voz profunda e o olhar repleto de dor. ㅡ Por que você é tão especial?

ㅡ Eu realmente não sei. Sinto muito.

Jungkook o observou tirar o capuz e passar a mão na cabeça de forma exasperada. Daquela forma dava para ver melhor o rosto dele.

ㅡ Isso. ㅡ Jungkook apontou para seu próprio olho, simbolizando que estava falando da cicatriz. ㅡ Foi uma fada?

mundos sublimes ; jikookWhere stories live. Discover now