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Hermione ficou em pé no corredor, encostada à parede, tremendo em uma torrente de emoções. Por um momento, não soube por qual delas se deixar levar. Sentia-se magoada ao ponto em que uma dormência quase física se espalhava por seu corpo. Estava desapontada por ele ter desistido tão facilmente, e confusa com seu próprio desapontamento. Finalmente, se apegou à raiva, que parecia a coisa mais segura a se sentir. Tendo decidido a emoção apropriada, agarrou-se em alguns pensamentos para sustentá-la.

Como ele ousava tratá-la de tal maneira? Como ousava abusar e humilhá-la repetidamente depois de virar as costas, só para retomar de onde tinha parado anteriormente? Suas pernas não paravam de tremer. E se estivesse certo? E se ela não fosse mais que uma vagabunda disposta a aceitar qualquer toque? Fechou os olhos. E se estivesse para sempre condenada a tolerar o abuso de pessoas como ele para satisfazer suas necessidades? Mesmo agora, não importava o quanto tentasse bloquear, poderia vividamente lembrar-se de sua reação a todos os avanços do garoto, e sentiu raiva e desgosto de si mesma por ser tão fraca.

Lágrimas embaçaram seus olhos. Não importava quem fosse ou como agisse, ainda assim merecia que sua primeira vez tivesse sido com alguém que não fosse aproveitar a chance de rir, e nem destruir cada boa memória que poderia existir do momento. Por que não podia tê-la deixado em paz? Fizera tudo o que ele pedira; sequer olhara em sua direção na classe. Não precisavam mais discutir o assunto.

Ainda assim, por alguma razão, o garoto parecia bem mais cruel do que antes. Atacando o pobre do Ron quando, certo, ele não vinha sendo muito esperto ultimamente. Mas agir assim era desprezível. Tinha certeza de que Malfoy queria apenas demonstrar que nada havia mudado até ter feito aquele comentário.

'Ele é homem o suficiente para você, ou poderia precisar de... Satisfação extra?'

As palavras a atingiram como um golpe no estômago. Não ousara nem olhar para Harry ou Ron, por medo de que seus olhos pudessem trai-la. Ao invés disso, carregara-os para longe, murmurando os comuns "ele não vale a pena", e "ninguém dá ouvidos a ele, não deixe que o perturbe", enquanto os risos do infeliz e de seus capangas ecoavam pelo corredor. Pensara que, então, sua humilhação tinha sido completa. Ha. Mal sabia o que viria depois.

Fungou e descolou da parede. Dá um tempo, Hermione, pensou, enxugando os olhos. Não é como se você fosse a primeira pessoa a dormir com um babaca. Nem mesmo pela primeira vez. Pelo menos, você nunca o amou, e ele nunca mentiu sobre o que pensava de você.

Não havia realmente pensado a respeito de sua primeira vez antes disso. Não planejara nem nada. Apenas assumira que não seria desse jeito. Tinha pressuposto muitas coisas. Para começar, pensara que o garoto teria gostado dela, talvez a amado. Também pensara que ele teria a decência de não a chamar de vagabunda depois. E, finalmente, pensara que o garoto teria sido caloroso e lhe dirigido sorrisos, ao invés de escárnio e arrogância.

Sabia que era sua própria culpa por tê-lo escolhido, para começo de conversa. Fora uma coisa precipitada e imprudente de se fazer. Ainda assim, esperara por um pouco mais de respeito e um pouco menos de aversão. Ele a fizera sentir sem valor, e por isso tinha raiva, pois sabia que merecia mais que isso – merecia! Não merecia?

Sentindo-se completamente oprimida, Hermione andou até os dormitórios, apenas parando na frente do retrato da Mulher Gorda para dizer a senha, até chegar ao seu quarto compartilhado. Não havia ninguém lá; estava muito cedo. Sentia-se aliviada por ter privacidade, pois não queria ter que falar com ninguém.

Arrastando um pouco os pés, parou à frente do espelho enfeitiçado, no qual sua imagem sorriu e acenou para ela, o nariz e os olhos um pouco vermelhos. Olhou para seu rosto, que francamente não estava muito bonito no momento. Sempre invejara as garotas que choravam graciosamente em vez de ficarem meladas e com o nariz vermelho do jeito que ela ficava. Sua imagem mostrou a língua. É, me sinto do mesmo jeito, pensou ironicamente.

Silencio | DramioneWhere stories live. Discover now