DESESPERANÇA

300 52 3
                                    

Infelizmente, mesmo em uma cidade grande, as pessoas comuns apenas acreditavam e transmitiam o que ouviam, e uma boa reputação, por mais trabalhosa e demorada que sua construção pudesse ser, era algo que facilmente seria destruída com o mais leve toque. 

Todavia, dentro do palácio, grande parte daqueles que compunham a nobreza possuíam o conhecimento tácito de que não havia como no mundo um nascido humano tirar a vida de um deus usando apenas uma arma comum. Desde que era um bebê, Hong Hua sabia disso. Xie Lian também sabia disso muito bem. E principalmente, Jun Wu também sabia. Contudo, mesmo não sendo um tolo, ainda sob suas ordens diretas, o general foi preso no mesmo dia e Xie Lian detido em seus aposentos.

Nesse meio tempo, todo o exército foi movimentado para cada canto do palácio, nas entradas, sobre os muros altos, até mesmo na escadaria, em frente aos quartos e principalmente onde Jun Wu e Xie Lian estavam. Assim como toda a capital real teve os portões fechados, nenhum mercador de fora poderia entrar, assim como a saída era barrada rigorosamente.  

Ninguém entrava ou saia sem autorização e somente após três longos dias, Xie Lian pode ir ver Hong Hua. É claro que visitas não estavam autorizadas, mas enquanto escancarava as portas e cruzava os corredores em passos pesados, ninguém ousava impedir aquele com olhos dourados furiosos, os caminhos apenas se abriam sem empecilhos. Seu cabelo estava completamente branco a essa altura, e era como uma tempestade correndo pela terra, a maioria ali o temia mais do que ao próprio imperador.

A prisão abaixo do palácio era extremamente grande, suja e escura devido a não receber nenhuma iluminação solar, o odor forte de umidade que se tornava mofo, somado ao cadavérico pesar daqueles que haviam morrido ali desde centenas de anos atrás, era realmente um lugar para que os piores traidores tivessem a chance de morrer em arrependimento, e seu Hong'er não deveria jamais estar ali. 

A cela de Hong Hua ao menos possuía uma lanterna por fora, que lançava uma luz oscilante e amarelada alguns metros a frente, além da cama consideravelmente mais macia do que as outras, o que já era considerado um luxo, em meio a escuridão perturbadora e silenciosa nem tudo parecia sem esperanças, Xie Lian que caminhava sozinho logo pôde vê-lo deitado. 

 Hong'er . – chamou, apressando seus passos, o mais novo imediatamente abriu seus olhos e se levantou, segurando as mãos tenras que se estenderam para si através das grades. – Me perdoe, só consegui vir agora. Como você está?

– Estou bem, não se preocupe comigo. – disse ele, trazendo as mãos de Xie Lian para perto e as beijando. – Como está tudo lá em cima? 

 Nada bem. Jun Wu me manteve longe das reuniões e não o vi desde aquele dia, há guardas por todos os lados. – era possível ver círculos escuros ao redor de seus olhos e o quão franzida sua testa se mantinha.  E lá fora tudo está uma bagunça, as pessoas estão dizendo coisas ruins e eu não posso sair do palácio. Eles querem sua execução, mas isso não vai acontecer. Você não possui culpa alguma nesse assassinato, darei um jeito nisso. 

– Eu acredito em você, sempre.  diz, acariciando o rosto do menor, ambos estavam em momentos difíceis, mas ainda se esforçam para sorrir um para o outro, eram a única família que possuíam agora . – O tio se foi, como você está? 

 Bem, é estranho, nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer, ele sempre pareceu tão invencível. Nem pudemos nos despedir.  suspirou, apertando seus dedos.  Não há tempo para o luto agora, precisamos cuidar de você primeiro. 

– Parece que vamos ter que adiar nossa partida por um tempo, hm?  murmurou, fingindo uma cara triste, arrancando outro sorriso cansado do menor.  Eu estava tão ansioso. 

MIZPÁ  Where stories live. Discover now