GRAIN IN EAR

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O dia seguinte foi silencioso. O salão onde a festa ocorreu foi tingido com um vermelho mórbido que impregnou todo o ar, ele foi selado assim que todos os corpos foram levados. As notícias se espalharam rapidamente, logo, não havia uma única pessoa que não soubesse do atentado contra o príncipe da coroa.

De dezesseis pretendentes, quatro foram atingidas na confusão, lamentavelmente perdendo suas vidas. As demais foram mantidas em seus quartos sob vigilância, aquela que atacou Hua Cheng era desconhecida, seu sobrenome familiar não existia e, aparentemente, seu único objetivo ali era emboscar o príncipe e tirar-lhe a vida.

O imperador ordenou que convocações urgentes fossem enviadas às famílias das moças sobreviventes para reconhecimento e que todos, sem exceção, fossem investigados.

Com um dos membros do grupo de assassinos capturado, esperavam ter uma luz que revelasse o motivo do ataque. Entretanto, antes que pudessem colocar seus planos em ação, assim que o sol apareceu seu corpo jazia sem vida sobre o chão gélido em sua cela, havia levado uma punhalada no coração.

Assim, um dia se passou. Os sábios curandeiros entravam e saiam dos aposentos do príncipe hora após hora. A lâmina usada continha um veneno de difícil identificação, o corte não foi tão profundo mas com a toxina em tal lugar sensível, sua visão direita não tinha mais como ser salva. Com muita dificuldade, a maior parte da substância foi expurgada com sucesso e a ferida foi estancada e devidamente suturada.

Apesar de tudo estar, aparentemente, bem, já era a terceira noite e Hua Cheng não havia acordado uma única vez. Durante o dia, sua pele era fria e sua respiração ruidosa mantinha todos por perto, temendo que sua vida se esvaísse. À noite, seu corpo queimava em febre que o fazia tremer, preocupando a todos.

O antídoto já havia sido ingerido para neutralizar qualquer mal que pudesse acontecer e, como mais nada poderia ser feito, só restava a todos esperar em meio a agonia.

Na terceira noite, por um instante, ele foi deixado sozinho. Chovia forte e o vento causava ruídos altos que se quebravam contra as paredes, a janela aberta mostrava o céu escuro que se iluminava como o dia sempre que um raio descia à terra. Os trovões ainda eram tímidos e causavam apenas uma minúscula comoção, era quase tranquilo.

Hua Cheng dormia profundamente. Sua respiração lenta indicava um sono tranquilo, diferente de antes, onde ele se agitava dolorosamente. Em seu sonho, a paisagem escura era a única coisa à frente dos seus olhos e o frio cobria sua pele, a sensação de molhado o cercava mas ele não se sentia sufocado mesmo submerso, apenas a sentia fazendo seu corpo flutuar.

Um pouco distante, cortando as trevas densas, um losango límpido como um diamante brilhou de dentro para fora como a chama nascente em uma lamparina. Ao seu redor, a correnteza desperta se movimentou, levando-o até que estivessem a um braço de distância.

Ali era morno e aconchegante, não havia frio e ele não sentia medo. Não havia dor em seu rosto e seu corpo não mais queimava. Deitado sobre no fundo, a superfície atrás daquele diamante era inundada por pequenos círculos que se encontravam assim que novas gotas caíam, perturbando a quietude. O diamante losangular serpenteou pela água adoravelmente, rodeando seu corpo esguio e deixando uma longa cauda brilhante atrás de si como um cometa, fazendo das profundezas o seu céu.

Ela deslizou lindamente como se dançasse para o menor, o deixando fascinando. Ainda que uma tempestade caísse sobre a terra, ela não se incomodaria, talvez, até ela mesma a tivesse trazido. A pedra então parou acima de seu corpo novamente, ainda um pouco distante.

A luz em si começou a se tornar menos brilhante, mas não desaparecendo e, sim, sendo envolvida. Onde aquela pedra estava, um corpo esbelto surgiu, apenas a silhueta bonita à mostra.

MIZPÁ  Where stories live. Discover now